A três semanas da Copa, a ansiedade mistura-se à temporada de apostas. Até os céticos ou os menos sensíveis à "coerência" ufanista de Dunga vestem a camisa dos bolões. A tradição ganha o reforço das redes sociais e de jogatinas na internet. As tabelinhas de papel e a emoção da contagem manual de pontos agora convivem com disputas entre milhares de concorrentes em endereços eletrônicos que hospedam bolões públicos.
Organizado por grandes empresas, os bolões online viraram estratégia de merchandising. No bolaovip.com, por exemplo, quem acertar mais palpites ganhará um iPhone. Outras disputas digitais premiam os campeões com computadores, celulares, camisas da seleção.
A iniciativa nasceu de uma ação entre amigos. Na Copa da França, em 1998, Yuri Soledade, Yeddo Bezerra e Yeddo Soledade, organizaram um bolão online só para "pessoas próximas". A brincadeira se repetiu na Copa do Japão e da Coréia do Sul, em 2002. No Mundial seguinte, na Alemanha, o núcleo de apostas virou empresa. Lançado 15 dias antes do inicio da competição – e sem divulgação – o bolavip.com abrigou 2.000 bolões em 2006. Chega à Copa da África do Sul com 6.200 disputas e 120 mil usuários.
Além dos sites especializados, redes de relacionamento também escalam prêmios para atrair apostadores. No Orkut, mais de 200 mil palpiteiros estão na disputa por computadores e DVDs. Já o Facebook é utilizado pelos criadores de bolões para convidarem os amigos às rodadas de apostas.
Apesar dos grandes prêmios e das conveniências dos bolões eletrônicos, a versão tradicional – de papel e caneta – ainda faz a cabeça da galera. Na Coordenação Central de Ensino a Distância, o designer Rômulo Freitas organiza a competição. Conta, por enquanto, com 18 participantes, que desembolsaram R$ 15, cada, para brincar de futurologia. Um pretexto para reunir os amigos:
– É bom para ter assunto. Juntar os amigos. Isso é coisa de quem gosta de futebol. É um motivo para ver e torcer por qualquer jogo – anima-se Freitas.
Este já é o terceiro bolão que o designer de 29 anos organiza. A carreira no campo das apostas começou na Copa de 2002, mas só em 2006 ele conquistou o título:
– No fim, empatei com outro participante. O critério para determinar o vencedor foi quesito "artilheiro". Todo mundo havia indicado o Adriano [hoje no Flamengo], só eu que apostei no Klose [da Alemanha]. Acabei vencendo – conta.
O vencedor do Bolão do Rômulo terá de dividir a bolada. Ficará com 60% do arrecadado. O segundo e o terceiro levarão 20% e 10%. Os 10% restantes serão do melhor apostador da primeira fase da Copa. Na versão tradicional da brincadeira, o prêmio é o menos importante.
No bolão organizado pelo ex-aluno de comunicação da PUC-Rio Luigi Ferrarese, o valor total também é dividido entre os três primeiros, mas não há premiação para a primeira fase da Copa. Luigi tem duas paixões: bolões e estatística. Assim nasceu um craque:
– Eu gosto de bolão de qualquer coisa. Se alguém quiser se juntar pra fazer um do campeonato de bocha da Indonésia, eu estou dentro. Além disso, sou viciado em estatísticas. Logo, é uma trabalheira prazerosa – diz, reafirmando o gosto pela forma tradicional.
Para ele, vencer é o que menos importa. Mesmo participando de vários bolões, nunca ficou em primeiro:
– O importante é participar. Nunca venci – diz o especialista.
Luigi orgulha-se de ter se tornado uma espécie de consultor:
– Na Copa passada, uma amiga ganhou com dicas minhas. Ela não sabia nada de futebol, mas queria participar do bolão da faculdade dela. Me telefonou e pediu ajuda. Disse depois que fizera muito mais pontos do que os concorrentes e que "ninguém entendeu nada". Mas quando eu aposto, só me dou mal.