Clara Freitas e Isabella Rocha - aplicativo - Do Portal
13/04/2015Criado em 2013 para estimular a formação de atletas, o programa Atleta na Escola, parceria entre o Ministério do Esporte e o Ministério da Educação (MEC), atraiu em seu primeiro ano 2 milhões de participantes em 40 mil escolas, e espera chegar, até o fim de 2015, a pelo menos 3 milhões de estudantes em 155 mil unidades de ensino. O projeto tem como objetivo incentivar a prática esportiva entre crianças e adolescentes, democratizar o acesso ao esporte, difundir valores olímpicos, estimular a formação do atleta escolar e identificar e orientar jovens talentos.
País ainda predominantemente jovem, o Brasil tinha cerca de 42% da população (80 milhões) formada por crianças, adolescentes e jovens de até 24 anos em 2009, de acordo com o último Censo do IBGE. Isto não se reflete proporcionalmente, porém, na quantidade dos atletas e no seu desempenho em competições.
O professor de educação física do Ciep Brizolão da Ayrton Senna, em São Conrado, e diretor adjunto do Ginásio Experimental Olímpico Juan Antônio Samaranch (Geo) afirma que não há mais tempo para formar atletas para as Olimpíadas, e chama a atenção que os projetos deveriam ser de longo e médio prazos.
– Criar atletas não é fácil. Dou aula para jovens que são verdadeiros talentos e prodígios da escola e poderiam estar competindo nas Olimpíadas, mas agora não dá mais tempo, nenhum projeto vai fazer milagre.
Em 2004, o Ministério do Esporte acenou com uma verba de R$ 200 milhões, da Lei de Incentivo à Formação Esportiva, para investimentos neste setor a partir do ano seguinte. A lei teria como objetivo apoiar as iniciativas de formação em todo o país, desde que estivessem de acordo com as prioridades da política nacional do esporte. Segundo o Ministério do Esporte divulgou na época, os projetos seriam analisados por uma comissão designada pelo ministério que também acompanharia seu desenvolvimento ao longo do ano. Se os resultados fossem satisfatórios, os projetos seriam renovados por mais um ano. Entretanto, a lei não entrou em vigor.
– O Brasil tem uma grande vantagem esportiva em relação aos outros países menores. Nosso país tem um volume de pessoas maior do que outros lugares. Mas até o hoje os esforços que foram feitos para estimular as práticas esportivas não deram resultados, porque não foram até as escolas – afirma o diretor de Esporte de Base e Alto Rendimento do Ministério do Esporte, André Arantes, que garante que com o Atletas na Escola será diferente:
– O diferencial do Atleta na Escola é ir, efetivamente até aos colégios. O projeto alcançou 20 mil escolas logo no começo. Ficou claro que essa iniciativa é um projeto que tanto alunos como professores já queriam há muito tempo. Mas o projeto não está focado em números a serem alcançados, e sim em verdadeiros talentos para o esporte brasileiro.
Arantes completa afirma que o projeto atual não terá o mesmo destino que as fracassadas tentativas anteriores de estímulo aos jovens talentos do esporte:
– A ação é formada pela simplicidade do programa e pela força dos parceiros que estão envolvidos. Dessa forma, o projeto consegue alcançar toda a escola de uma maneira efetiva, diferente das outras ações que fracassaram.
Os principais obstáculos
Professor de Educação Física há mais de três décadas, em escolas públicas e privadas, Gustavo Pereira já teve muitos alunos com aptidão para o basquete e handebol, por exemplo, mas não conseguiu trabalhar com eles dentro da escola.
– Além de faltar material, como bolas, as turmas são superlotadas e as quadras, pequenas – afirma. – A alternativa seria encaminhá-los para escolinhas, mas há poucas, principalmente nas áreas mais carentes.
Para Pereira, a falta de estrutura nas escolas impede que os professores trabalhem com o desenvolvimento do aluno nas atividades esportivas, mas considera a falta de prioridade mais preocupante que a falta de material. Na Fundação de Apoio a Escola Técnica (Faetec), onde também trabalha, não falta material, mas a unidade de Marechal Hermes esteve em obras durante boa parte do ano passado.
– A piscina foi construída às pressas em 1998 e todo ano temos problema, principalmente de vazamento, que são frequentes. Já chegamos a parar por infestação de pulga. Agora está sendo toda reformada, mas estamos sem dar aulas desde novembro passado. Além disso, as quatro quadras também estão em obra, que estão sendo empurradas e ficamos parados. Acabamos tirando férias forçadas.
Incentivos na escola
Atleta de vôlei de quadra e de praia, e estudante de Comunicação Social da PUC-Rio Priscila Santos, de 26 anos, conta que foi incentivada pelos seus professores a jogar esta modalidade na escola, pela sua altura e habilidade, mas ressalta que isso não acontecia com a maioria dos alunos, principalmente com as meninas.
– Acredito que o colégio tenha sido meu principal incentivo para jogar. Se eu não tivesse tido esse empurrão, provavelmente não teria começado a praticar este esporte. Foi a partir de uma indicação do colégio que comecei a treinar.
Atleta de vôlei de quadra federada pelo Clube de Regatas do Flamengo desde 2008 e estudante de Comunicação Social na PUC-Rio, Luiza Andrade, de 18 anos, acredita que a escola foi de grande importância para sua formação como atleta, inclusive durante o Ensino Médio, no Colégio Anglo-Americano.
– Muitas vezes eu precisei faltar aula para viajar com o clube, e o colégio sempre compreendeu e me incentivou a continuar no esporte. Além disso, a coordenação realizava frequentemente torneios internos, de diversas modalidades.
Além de contar com o apoio do colégio, a estudante ressalta que seus pais sempre foram a favor dessa escolha e apoiam tanto ela como o irmão, Gabriel Andrade, que atualmente joga basquete no Havaí. Luiza contou a própria ligação da família com a prática esportiva:
– Minha família é toda do meio do esporte. Meu pai foi jogador de basquete profissional e minha mãe, embora não tenha sido atleta, é professora de educação física e tem dois irmãos que jogaram basquete a vida toda.
Para o atleta de vôlei federado pelo Tijuca Tênis Clube e estudante de Engenharia de Produção da PUC-Rio Victor Grassi, boa parte da sua formação como atleta foi graças ao apoio do Colégio Marista São José, onde despertou seu interesse pelo esporte:
– Além das aulas de Educação Física, tínhamos a opção de fazer aulas pagas de algumas modalidades e equipes gratuitas para competir representando o colégio. Foi justamente a técnica da equipe do colégio que me direcionou para jogar em um clube e me federar.
Atleta de vôlei federada pelo Clube de Regatas do Flamengo dos 11 aos 19 anos, a estudante de Jornalismo na PUC Helena Petry afirma que a escola contribuiu para sua formação, mas o incentivo à prática de esportes não ia além das aulas de Educação Física.
– Muitas vezes pensei em parar de jogar. No início era difícil, a rotina de treinos era puxada. Mas, minha mãe me deu força para continuar e disse que no final valeria a pena, que eu ia gostar. Ela tinha razão, não parei até hoje.
Expectativa por núcleos em 2015
Arantes afirma que o projeto ainda não alcançou os objetivos por completo, pois a intenção é que para 2015 sejam desenvolvidos os Núcleos de Desenvolvimento de Esporte Escolares.
– O que nós fizemos foi agregar esse programa entre o Ministério da Educação e o Ministério do Esporte, no qual tínhamos o intuito de proporcionar as crianças um treinamento nas próprias escolas. Mais tarde esses pequenos talentos passarão a ingressar nos Centros de iniciação esportiva que serão construídos até 2015, esse é a parte final do projeto 2015/2016.
As escolas recebem as informações do programa pelo Sistema Integrado do Ministério da Educação (Simec). Por ser um canal direto de informação entre o Ministério da Educação e os colégios, as notícias do projeto chegam para os diretores das Escolas todos os dias. E por fim, as escolas têm que solicitar a participação. As instituições públicas municipais e estaduais receberão R$ 1 mil e mais R$ 3 por aluno inscrito. Escolas federais ou privadas não receberão recursos, apenas orientação.
Na PUC, histórias de pai para filho
Coordenador do Departamento de Educação Física da PUC-Rio e filho do ex-coordenador Antonio Duro Ferreira, responsável por implantar a Educação Física na PUC em 1965 e criar a Coordenação de Educação Física da Universidade três anos depois, Renato Callado, acredita que a escola é fundamental na formação esportiva do aluno. O departamento conta com equipes de basquete, natação, voleibol masculino e feminino e futsal feminino e masculino.
– A escola é um grande incentivador para o aluno ingressar uma modalidade esportiva. E quem sabe seguir para o resto da vida e até se profissionalizar.
Atletas na Escola O programa Atleta na Escola envolveu 20 mil escolas públicas e privadas em seu primeiro ano, e este ano estão inscritas 44 mil escolas. A expectativa é chegar a 3 ou 4 milhões de participantes. Em entrevista ao Portal PUC-Rio Digital, o diretor de Esporte de Base do Ministério de Esporte, André Arantes, explica a iniciativa. Portal PUC-Rio Digital: O projeto Atleta na Escola foi implantado em função da realização de Copa e Olimpíadas no Brasil? André Arantes: De fato, os megaeventos que estamos vivendo, como a Copa e as Olímpiadas, têm estimulado o governo a fazer ações transversais no sentido em que o Ministério do Esporte e da Educação têm se relacionado mais. A inciativa deste projeto foi visando exatamente este momento esportivo que o nosso país está vivenciando. Novas ações estão sendo criadas para essas áreas, como foi o caso do próprio Atleta na Escola e outras estão sendo ampliadas. São ações que estão sendo relacionadas a um ambiente favorável para a criação de novos projetos. Portal: Qual é o papel do projeto Atleta na Escola? Portal: Como o programa Atleta na Escola foi criado? Portal: O programa Atleta na Escola é um projeto de competição. Como funcionam os torneios nas escolas? E esse projeto tende a ser de longo prazo? Portal: Por que no Brasil é tão difícil a realização desses projetos integrados? Portal: Qual é o requisito para os alunos participarem do projeto? |