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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Campus

Da engenharia ao improviso, o desafio da TV ao vivo

Gabriela Ferreira - Do Portal

20/10/2008

Estava tudo acertado. O responsável pelo carro alegórico explicaria os ajustes finais para a escola entrar no Sambódromo carioca. Quando a repórter entrou ao vivo, o entrevistado tinha se deslocado para a parte inferior do veículo. Com naturalidade, Ana Paula Araújo agachou-se e conversou com ele. Na palestra do curso de telejornalismo do Globo Universidade, em parceria com a PUC-Rio, a repórter e apresentadora da TV Globo contou casos como este para mostrar aos estudantes os desafios das produções ao vivo e as formas de superar os contratempos.

Uma passagem ao vivo começa, segundo ela, com um trabalho de engenharia. Diversos equipamentos são preparados para permitir, como se diz, um link entre a redação e a cidade. Há caminhões, barcos, motos e helicópteros dotados de aparelhos que transmitem o sinal para a emissora. Ao gabarito técnico, soma-se a produção jornalística – que integra pauta, produção e reportagem.

Existem vários tipos de ‘vivos’, explicou Ana Paula. Os factuais referem-se, tradicionalmente, a fatos graves; como um acidente de trem, sobre o qual o repórter entra no ar ao vivo para transmitir as primeiras informações. Há ‘vivos’ produzidos, em que entrevistas são combinadas num determinado local; e os programados, relativos a eventos como partidas de futebol e carnaval. Neste caso, são enviadas, em geral, sete ou oito câmeras para as passagens. Há também os ‘vivos’ políticos, igualmente programados, nos quais repórteres esperam o resultado de uma votação ou entrevistam algum político.

Segundo Ana Paula, o tempo é um critério preponderante na condução de um ‘vivo’. Caso o repórter ultrapasse o tempo previsto, pode prejudicar a programação das demais matérias. Por isso, o coordenador de vivo exerce um papel essencial, articulando a participação do repórter:

– O coordenador informa o tempo do vivo que, se contar só com o repórter, varia, de 30 segundos a um minuto, em geral. Se houver entrevistado, pode chegar a um minuto e meio. A duração varia de acordo com a importância e a repercussão do assunto. O coordenador também faz testes de áudio e de vídeo, além de passar para o repórter o texto do apresentador que o chama.

Ana Paula considera as passagens ao vivo um dos principais, senão o principal desafio de um repórter de telejornal. Pois o profissional fica vulnerável às circunstâncias do local:

– No ‘vivo’ qualquer coisa causar um erro: se alguém se mexe, se alguém passa na sua frente, se fala alguma coisa. O repórter deve estar preparado para lidar com essas circunstâncias.

Especialista neste tipo de situação, a repórter ensina como vencer as “saias justas”:

– O principal é ser natural. O telespectador tem de entender o que o repórter está falando. É claro que, em um ‘vivo’, o bonito é decorar, falar o texto sem papel. Mas se for mais seguro com o papel, segure-o e deixe-o na sua frente. Se esquecer o texto, não fique desesperado. Repita o que acabou de falar com outras palavras, pois assim ganha-se tempo de lembrar o texto. Também é importante dominar muito bem o assunto.

Ana Paula atribui parte do reconhecido bom desempenho em ‘vivos’ ao seu primeiro estágio, na Rádio Globo:

– Rádio é uma grande escola, tudo vai ao ar na mesma hora em que acontece. ­­­­

Depois das orientações, os estudantes tentaram superar contratempos em ‘vivos’ simulados pela jornalista. Alguns arrancaram risadas, como a vez em que Ana Paula se passou por um entrevistado que falava sem parar e pegava o microfone. “O repórter não pode perder o comando da entrevista”, ensinou.