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Rio de Janeiro, 8 de novembro de 2024


Campus

'Hoje dedicação vale mais do que talento'

Paula Bastos Araripe - Do Portal

27/04/2016

 Paula Bastos Araripe

As várias crises do jornalismo e a experiência de escrever para uma coluna social foram assuntos abordados pela jornalista Daniela Pessoa, da Veja Rio, no dia de palestras organizado pelos professores da disciplina de Comunicação Impressa nesta segunda (26), na K102. Daniela, que começou na Vejinha em 2011 como repórter e hoje acumula funções nas colunas Beira-Mar e Mundo Animal, contou algumas das histórias que ela viveu cobrindo artistas e assuntos cotidianos.

A jornalista falou sobre a relação com as fontes, na qual tenta manter um vínculo positivo e próximo o suficiente para que o entrevistado se sinta a vontade para falar, mas sem ser “amigo” deles: “Não posso me dar ao luxo de ficar amiga da fonte para depois sair uma informação negativa sobre ela e eu ficar receosa de dar a notícia”. Ela também contou casos de famosos que recusavam a dar entrevista por “não falar com a Veja”, mas que ela conseguiu que mudassem de ideia através do esforço e da empatia. A colunista mencionou uma ocasião que fez um texto neutro sobre a peça de Paulo Gustavo, 220 volts, que ele não gostou e reclamou na época, mas que alguns meses depois já deu entrevista para ela com bom humor. E brincou: “O tempo cura feridas, até de artista chateadinho”.

Daniela enfatizou que um jornalista não pode se limitar achando que a pessoa não vai dar entrevista e que o “não” sempre já tem, qualquer coisa além disso já é lucro. Sobre as formas mais indiretas de se obter informação, ela afirmou que se escuta uma conversa informal, por acaso, entre dois famosos que é relevante para o texto, ela utiliza, explicando que o jornalismo seria mais “pobre” se não pudesse usar conversar e observações do dia a dia nos textos. Mas assegura: se uma fonte pede um off, deve-se respeitar o off, recorrendo a uma negociação com o assessor ou a fonte caso a declaração em off seja muito importante para o assunto. Ela também esclarece que sempre há a opção de ir “pelas beiradas”, caso a fonte principal não queira falar, e que às vezes essa alternativa, por mais que seja trabalhosa, também pode ser mais divertida, uma vez que leva o repórter a investigar mais:

– A investigação demanda falar com dezenas de pessoas, gastar muita saliva e sola de sapato, para no final usar duas frases no texto. Isso é normal, mas nada do que foi ouvido ou pesquisado é desperdício. O resto das informações serve para ajudar na estruturação do texto.

Responsável por duas colunas e reportagens para a revista, Daniela disse que com as redações mais enxutas, o jornalista está recebendo mais papéis em um veículo e que, apesar de aumentar as responsabilidades, não é algo negativo para o profissional: “Para a gente é ótimo, não enjoa nunca, cada dia trabalho com uma coisa diferente”. Formada na UFRJ, a jornalista afirma que hoje, mais do que ter talento, o que importa na área é ter dedicação:

 – O mercado de trabalho hoje não tem espaço para quem não é dedicado, tem que ser dedicado ao máximo. Agarre seu trabalho com amor. Por isso tem que gostar mesmo. É brega, é cliché, mas é verdade. Se não estiver curtindo, vai fazer outra coisa. Mas nesse sentido, o jornalismo é bom porque abre para vários caminhos e possibilidades para aqueles que não se identificam com a rotina das redações.

Sobre a questão do online, que ela define ser uma das crises que o jornalismo enfrenta, ela questiona que ninguém ainda no mundo descobriu a fórmula para lucrar no online. Mas demonstrou que as redes sociais hoje são melhores que assessoria para se obter informações. Ela ilustrou com um caso em que adicionou no Facebook Lunara Campos, namorada de Thor Batista, filho do empresário Eike Batista, e ela aceitou, deixando disponível várias atualizações sobre a vida dela, incluindo viagens com a família do namorado e o valor das diárias de hotéis em que se hospeda. Por outro lado, ponderou que “barracos” da internet são fontes frequentes de notinhas na revista. Mas, por se tratar de uma publicação semanal (seus textos são fechados na quarta-feira para que a revista circule na sexta), ela precisa ter a sensibilidade de perceber se o assunto vai ser falado por outros veículos antes, ficando datada ou superada.

Apesar de enfatizar que as revistas Veja e Veja Rio têm redações distintas, Daniela defendeu sua opinião sobre a reportagem polêmica da Veja sobre Marcela Temer, mulher do vice-presidente, intitulada “Bela, recatada e ‘do lar’”. Ela argumentou que quem conhece o tipo de texto da Veja sabe que aquela matéria tinha um tom irônico e que durante todo o texto a repórter apenas descreve o dia a dia de Marcela, junto a declarações de pessoas próximas a ela. “É o problema de interpretação”, justificou, e ponderou que, talvez, a ironia transparecesse mais com um título que indicasse o tom da reportagem. No entanto, disse que bem ou mal a repercussão foi positiva para a Veja, a ponto de reutilizarem a lógica desse título para a capa da edição dessa semana sobre Eduardo Cunha, com “Fera, odiado e do mal”.