Karla Rodrigues* - Da sala de aula
06/11/2013Neste 7 de novembro se completam 20 anos da última vez que Ayrton Senna comemorou uma vitória na Fórmula 1. Em 1993, no Grande Prêmio da Austrália, foi a última vez que Senna foi visto com o braço erguido para fora do carro, com a bandeira do Brasil na mão e ao som do Tema da vitória. Foi a última vez que subiu no pódio e estourou champanhe, jogou nos colegas e no público e depois na própria cabeça.
Apesar de Senna ter vencido a corrida, os holofotes estavam virados para Alain Prost, que se aposentou naquele dia. A transmissão da última vitória do brasileiro pela TV Globo foi como outra qualquer: enquanto o piloto cruzava a linha de chegada e fazia o percurso do carro até o pódio, Galvão Bueno narrava a vitória, emocionado: “Senna, 41 vitórias na Fórmula 1! Ele fez questão de receber a bandeirada bem próximo de toda a equipe da McLaren, uma parceria histórica na Fórmula 1. E como ele deve estar satisfeito! Não deixou o Prost sair da Fórmula 1 com uma vitória. Tem agora dez vitórias a menos que Prost e pelo menos dois anos de contrato com a Williams. Ayrton Senna tem tudo, para, em sua carreira, não só conquistar mais títulos mundiais, como, também, bater todo o recorde absoluto de vitórias. Obrigado, Prost, por tudo o que você mostrou ao mundo da Fórmula 1 em todos estes anos, com esses quatro títulos mundiais, com 51 vitórias. Obrigado, Senna, por mais uma grande vitória, por ser um grande campeão, por completar 41 vitórias e por ter dado um grande espetáculo. Você, que vai continuar brilhante na sua carreira” – disse Galvão, durante a transmissão, sem saber que aquela também era, praticamente, uma despedida de Senna.
No ano seguinte, o Brasil perderia o maior ídolo do automobilismo. O GP de San Marino, em Ímola, na Itália, no dia 1° de maio de 1994, era apenas a terceira corrida da temporada, e Senna havia acabado de assinar contrato com a Williams. O brasileiro estava na sétima volta quando entrou na curva Tamburello e perdeu o controle do carro, que se chocou violentamente contra o muro. Ele teve graves danos cerebrais, e ainda o fizeram mexer a cabeça. Por esse motivo, muitos que acompanhavam pela televisão imaginaram que ele estivesse bem. Mas Ayrton Senna não resistiu aos ferimentos e morreu poucas horas depois. Desde a morte do piloto, nenhum brasileiro conseguiu superar, muito menos se igualar a ele.
O francês Alain Prost foi o maior rival direto de Senna na Fórmula 1. Para muitos especialistas, a rivalidade entre eles foi a maior da história do esporte, até hoje. Prost se aposentou no GP da Austrália, no mesmo dia da última vitória de Senna. A rivalidade era tanta que os dois disputaram a liderança da corrida até o final – o brasileiro venceu e o francês ficou em segundo. Mesmo com o resultado, Prost ficou com o título daquele ano, pela equipe Williams, e Senna em segundo, pela McLaren.
Ao longo da carreira, Prost disputou 12 campeonatos, ganhou quatro títulos mundiais, teve 51 vitórias por quatro equipes: Renault, McLaren, Ferrari e Williams. Já Senna participou de dez campeonatos, ganhou três títulos, teve 41 vitórias pelas escuderias Toleman, Lotus, McLaren e Williams.
Em 1994, Ayrton Senna assinou contrato com a Williams para substituir Alain Prost. Mas sua história com a equipe durou pouco: o acidente ocorreu na sua terceira corrida da temporada daquele ano. Senna liderava a prova do GP de San Marino, seguido pelo alemão, ainda novato, Michael Schumacher. Eles não chegaram a ser, diretamente, grandes rivais nas pistas, mas são grandes rivais na história da Fórmula 1. Senna morreu dois anos depois da estreia de Schumacher no esporte. Atualmente, o alemão é o maior vencedor da F1, com sete títulos. Mas esse número poderia ter sido menor se Ayrton estivesse vivo.
A carreira de Ayrton Senna na Fórmula 1, tricampeão mundial, durou apenas dez anos. Já Michael Schumacher competiu durante 17 anos e foi heptacampeão. Se Senna continuasse com tal média de três títulos a cada dez anos, precisaria de mais 17 anos de carreira para superar o alemão, ou seja, 27 anos de carreira, no total, para conquistar oito títulos. Mesmo perdendo em números, Ayrton Senna é considerado o maior piloto de todos os tempos. Em novembro de 2012, a BBC de Londres fez uma votação entre jornalistas automobilísticos, que elegeram o brasileiro.
Em 1991, Ayrton Senna ganhou o último título, não só de sua carreira, mas também da história do Brasil na competição. Há quase 22 anos um brasileiro não vence uma temporada da Fórmula 1. Promessas como Rubens Barrichello, Felipe Massa e o sobrinho de Ayrton, Bruno Senna, decepcionaram como sucessores do ídolo brasileiro. Quando o piloto corria, a Fórmula 1 era quase como o futebol para os brasileiros, mobilizava grande parte da população. O empresário Antonio Medina, 50 anos, era e ainda é grande fã de Ayrton.
– Senna era um ídolo nato. Acho que o povo brasileiro passou a gostar mais de Fórmula 1 depois dele. Ouvir aquela musiquinha toda vez que ele vencia uma corrida era muito especial – declara o empresário.
Já na Alemanha, diferentemente do que aconteceu no Brasil, depois que o grande ídolo do automobilismo, Michael Schumacher, se aposentou, logo surgiu outro ídolo alemão, o jovem Sebastian Vettel. O sucessor de Schumacher tem cinco anos de carreira e já é tricampeão mundial. Com apenas 26 anos de idade, Vettel venceu os quatro últimos campeonatos mundiais da F1.
Hoje falta um ídolo no automobilismo brasileiro, e a população não se mostra mais tão interessada pelo esporte como era na época de Ayrton Senna, que mesmo assim continua sendo grande ídolo de várias gerações. O estudante Luiz Henrique Medina, 22 anos, filho de Antonio Medina, conta que, apesar de não ter visto Ayrton Senna correndo, aprendeu a admirá-lo por causa do pai:
– Acho que todo mundo que gosta de F1 gosta dele (Ayrton Senna), não tem como não gostar. Não pude ver o Senna correr porque eu era muito pequeno quando ele morreu. Mas tive a oportunidade de ver o Schumacher, e agora estou vendo o Vettel. Pena que eles não são brasileiros – comenta o estudante.
Legado social do piloto
Ayrton Senna não deixou apenas um legado para o esporte, mas também um legado social. O Instituto Ayrton Senna foi fundado em 1994, após a morte de Senna. Seus programas atingem, diretamente, cerca de 2 milhões de alunos em mais de 1.300 munícipios de todo o Brasil. O instituto também capacita 75 mil educadores com o objetivo de desenvolver o potencial dos estudantes para que eles tenham sucesso na escola e na vida profissional. “Se a gente quiser modificar alguma coisa, é pelas crianças que devemos começar, por meio da educação”, dizia Senna.
O Instituto Ayrton Senna faz parte da rede Cátedras da Unesco, desde 2004, e colabora diretamente para que o Brasil alcance uma educação básica de qualidade até 2015. Não tem fins lucrativos e é financiado por recursos próprios, por parcerias com a iniciativa privada e por doações. Para colaborar, basta acessar o site e se cadastrar.
Ayrton Senna como enredo
A escola de samba Unidos da Tijuca anunciou que vai homenagear o piloto no carnaval do ano que vem, com o samba-enredo “Acelera, Tijuca!” (conheça a letra do samba). A escola de samba vai contar com a ajuda da irmã do piloto e presidente do Instituto Ayrton Senna, Viviane Senna, para dar informações sobre a vida do ídolo. A homenagem será no carnaval de 2014, ano em que se completam 20 anos da morte de Ayrton.
* Reportagem produzida para a disciplina Laboratório de Jornalismo.