Mestra e aluna da primeira turma de doutorado em Comunicação Social da PUC-Rio, a jornalista Adriana Barsotti conquistou o Prêmio Compós de Dissertações 2013, com o trabalho Transformações contemporâneas nas práticas jornalísticas: o jornalista on-line como mobilizador de audiência, que mostra as novas experiências de produção de informação na internet. O prêmio é concedido pela Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, que tem entre seus objetivos o fortalecimento e a qualificação dos cursos de mestrado e doutorado e a consolidação do campo da comunicação.
Orientador de Adriana, Leonel Aguiar, professor do Programa de Pós-Graduação e também coordenador da graduação do departamento, comemorou a conquista do prêmio, o mais importante na área de comunicação:
– Este prêmio é da maior relevância para o departamento e para o programa de pós-graduação. Há a feliz coincidência de ganhá-lo no ano em que lançamos o doutorado. É de uma importância acadêmica fundamental, sinal de que o programa está indo na direção certa.
Adriana, que tem 25 anos de carreira e exerceu variadas funções no jornal O Globo, onde hoje colabora como colunista de e-books e literatura digital, conversou com o Portal a respeito do prêmio e das novas formas de exercer a profissão.
Portal PUC-Rio Digital: A sua experiência na versão digital do jornal O Globo contribuiu para a realização desta dissertação?
Adriana Barsotti: Com certeza. Minha trajetória iniciou no jornalismo impresso. Em 2008, fui para uma área de apoio à redação no Globo, a gerência de produto, para construir aplicativos para celular, conceber os projetos desses aplicativos, de novos sites para colocar no ar. Vislumbrei aí outro universo até então desconhecido para mim. Comecei trabalhando na construção desses produtos, como o site e o aplicativo do Rio Show, e em 2011 voltei à redação para tocar o projeto O Globo A Mais, o vespertino do jornal. Fiquei um ano inteiro como editora, e saí para fazer o doutorado. Passei por todas as etapas, da construção do produto à edição digital. Com certeza a minha vivência na redação contribuiu para eu sacar que tinha uma ideia a ser explorada.
Portal: Após a pesquisa, mudou algum ponto de vista ou ideia que você tinha sobre o jornalismo online, como a nova relação do público com o jornalismo?
Adriana: O online mudou o jornalismo. Antes, o público era muito afastado das redações; com o online, passou a fazer parte delas. Então, acho que o jornalismo nunca mais será o mesmo depois da internet. Eu vejo pontos positivos nisso. Muitos profissionais criados no jornalismo impresso têm certa aversão, mas eu vejo isso como um mundo de possibilidades novas.
Portal: Você acredita que o jornalismo vai sobreviver só com a internet, sem o papel?
Adriana: A tendência é que o papel vire um produto de nicho. Não sei quanto tempo isso vai demorar para acontecer, algumas previsões já foram feitas e não se concretizaram. Mas acho que isso não é importante: o papel é só o suporte. Acredito na sobrevivência do jornalismo. Muitos autores questionam se vai haver futuro para o jornalista, tendo em vista que estamos num mundo onde qualquer um pode criar seu próprio canal de mídia. Mas acredito que o jornalista sempre será necessário porque, quanto mais informações, mais você vai precisar dele para mostrar ao público o que é mais relevante.
Portal: Quando o Jornal do Brasil encerrou sua edição impressa, em 2010, falou-se em uma “acomodação” do Globo, por não ter mais um concorrente direto no Rio. A expansão dos onlines acaba com essa “acomodação”?
Adriana: Acho que nem existe mais essa rivalidade entre os jornais, porque, na parte online, a concorrência é muito maior e engloba muito mais veículos. Na internet, todo estão competindo em grau de igualdade – isso falando em grande mídia –, e fora também temos sites que se tornam relevantes. O importante é a corrida para quem vai publicar, explicar e contextualizar primeiro. Esta concorrência entre os jornais que imaginamos é baseada no pressuposto de que são produtos iguais porque começaram no papel, mas na internet todos os sites de notícias são sites de notícias. Todos usam a linguagem multimídia.
Portal: Em sua dissertação, você aposta no fortalecimento do jornalismo cívico, de preocupações comunitárias, que surgiu nos Estados Unidos dos anos 1990. Mas também cita Marshall, quando diz que as “notícias do jornal passam a carregar o interesse de propagandear ideias, produtos ou personagens”. Você acredita nessa “inversão de valores”, ou é uma ideia exagerada?
Adriana: Acho que existe espaço para se fazer um jornalismo de qualidade, de interesse do público, mas também há espaço para o jornalismo se tornar cada vez mais uma ferramenta de marketing e propaganda. Cabe ao jornalista saber usar essas ferramentas, para ir ao encontro do que público realmente anseia. Sobretudo agir sem preconceito, tem que conjugar as notícias ditas interessantes com as importantes ou relevantes. O jornalismo é um mix disso, e o jornalista tem que saber transitar por esses dois campos.
Portal: Qual foi a importância do prêmio Compós para você?
Adriana: Foi um reconhecimento acadêmico muito importante, porque trabalhei 25 anos em redações e em 2010, quando decidi fazer o mestrado, para mim tudo era novidade, eu era foca na vida acadêmica. Foi importante porque me deu mais segurança para continuar neste caminho.
Portal: E qual será o tema de sua pesquisa no doutorado?
Adriana: Minha linha de pesquisa será o jornalismo para dispositivos móveis, com foco em tablets. Vou resgatar a história dos jornais vespertinos, que desapareceram nos anos 1960, quando a televisão ganhou relevância, e ressurgem agora nos tablets. Já existem casos na Itália, na França, nos Estados Unidos e aqui no Brasil também.
Escola pública: contradição entre investimento e retorno
Silvia Cristina: "Sou eu quem pago para lecionar"
Juliana Pessanha: "Pátio escolar se tornou sala para 22 turmas"
Almir Gonçalves: "Não lutamos por dinheiro, lutamos por direitos básicos"