Marianna Fernandes - Do Portal
16/05/2013Lançado há dois anos, Ciência sem Fronteiras, criado pelo governo federal para estimular o intercâmbio de pesquisadores e estudantes de variadas áreas de conhecimento, passará a priorizar, mais que nas seleções anteriores, os alunos de cursos de engenharia e tecnológica. O programa já beneficiou 19.601 estudantes, sendo 7.573 destas áreas, e planeja distribuir 101 mil bolsas em quatro anos. Estudantes de cursos classificados na categoria Indústria Criativa, como cinema e design, relatam que têm tido dificuldades para obter bolsas no programa. A resposta recebida é que seus cursos são considerados de baixa prioridade.
A categoria Indústria Criativa beneficiou 1.502 estudantes brasileiros em dois anos. Na PUC-Rio, é a segunda área com mais alunos beneficiados: 43 das 167 bolsas já concedidas à instituição. Estudantes de engenharias e áreas tecnológicas somam 81, metade do total.
Em novembro de 2012, o governo chegou a cortar 24 cursos do edital, sendo 20 da área de humanas. Estudantes foram à Justiça e conseguiram reinserir seus cursos. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) voltou a retirar os cursos do edital em vigor, sem, no entanto, cortá-los do programa. Desde então, o serviço de atendimento do Ministério da Educação (MEC) sobre o Ciência sem Fronteiras (0800 616161) orienta os interessados a se informar nas universidades, gerando desinformação e falta de transparência no processo.
O estudante de cinema da PUC-Rio Vinicius Ribeiro é um dos alunos que tiveram o pedido de bolsa rejeitado. Vinicius critica a falta de clareza dos editais, que substituíram a lista de cursos contemplados (arquitetura, design, software, jogos de computadores, cinema, vídeo, fotografia, música, artes, televisão, conteúdos digitais, editoração e publicação eletrônica) por uma definição do que seria a indústria criativa.
– Foram feitas alterações no edital correspondente à minha chamada. Na nova versão não consta a lista de cursos pertencentes à indústria criativa.
Vinicius conseguiu um documento, assinado pela RioFilme, atestando que o cinema pertence à indústria criativa. Além disso, ele foi à Secretária da Economia Criativa, onde também afirmaram que o cinema é um dos principais pontos de indústria criativa no Brasil.
Ao buscar informações com o MEC, Vinicius foi instruído a procurar o coordenador do programa na PUC para esclarecer quais são os cursos incluídos no programa, e ainda não conseguiu fazer sua inscrição.
– É uma falta de comunicação muito grande. Se o meu curso é de baixa prioridade, isso deveria estar claro no edital. Eu já estou decidido a entrar na Justiça, e vou até o fim para conseguir minha bolsa – afirma o aluno.
Coordenadora central de Cooperação Internacional, responsável pelo Ciência sem Fronteiras na PUC-Rio, Rosa Marina Meyer explica que alunos de cursos classificados como Indústria Criativa podem se inscrever no programa, mas dependem das vagas restantes.
– Esse programa foi concebido para as áreas tecnológicas e biomédicas, mas incluiu-se uma janela que deu margem a essa interpretação, a Indústria Criativa. Nos primeiros editais, chegamos a mandar alunos dessa especialização, e foram aceitos. Na verdade o governo queria cortar esses cursos. No final, eles foram mantidos, mas são avaliados como baixa prioridade – explica Rosa, contando que não recebeu qualquer documento sobre corte de cursos.
Rosa acredita que no início do programa, era mais fácil obter bolsas porque o governo temia não conseguir distribuir todas as bolsas disponíveis no prazo determinado. Com o sucesso do programa, a disputa ficou mais acirrada.
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