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Rio de Janeiro, 30 de dezembro de 2024


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Há 25 anos, prata da casa semeia consciência ambiental

Rodrigo Serpellone - Do Portal

18/10/2012

 Frederic Jean / Época

Meio ambiente e jornalismo fazem parte da vida do editor-executivo da revista Época Alexandre Mansur há 25 anos. Desde as primeiras experiências profissionais, na assessoria da Petrobras e na extinta revista esotérica Ano Zero (do ex-professor da PUC Pedro Camargo), o jornalista, formado pela PUC-Rio em 1990, já estava ligado ao tema da ciência e seus impactos no planeta. Na onda ambiental iniciada pela Eco-92, começou a cobrir a área no Jornal do Brasil em 1994, num tempo em que ainda não havia editoria de meio ambiente em jornais e revistas.

– Anos depois do boom desta questão, as grandes ONGs se preocuparam com pontos como a fome e a desigualdade social. Só na década seguinte as mudanças climáticas passaram a ser um tema maior.

Depois de dois anos na Veja, foi chamado em 2000 a integrar o time da Época, que já nasceu de olho na sustentabilidade (na foto, Mansur faz a cobertura, para a Época, do primeiro Bolsa Floresta, no município de São Sebastião de Uatumã, AM):

– Desde que foi lançada, a Época investe na área ambiental e de ciência. Em função disso, a Veja se preparou, criando uma editoria de meio ambiente. Por isso me chamaram, saí do Rio e fui para São Paulo para reforçar esta área – conta Mansur, para quem enchentes, desabamentos e outros desastres provocados pelo aquecimento global fizeram a população mundial entender a gravidade do problema.

Aos 44 anos, casado com Betina von Staa, ex-aluna de Letras da PUC, pai de Natalia e Isabela e rubro-negro, Mansur procura envolver um número maior de leitores por meio do  Blog do Planeta, no site da Época. Ali, desde 2007, o editor-executivo e sua equipe anunciam novidades e atualizam descobertas sobre meio ambiente. Seus últimos posts, por exemplo, falam sobre o aumento do aquecimento global nos últimos 160 anos.

– A coluna da revista é muito diferente do blog. Na internet você não está mais numa torre de marfim, imediatamente a pessoa retruca. Você está falando no meio de uma multidão, e conquista facilmente apoios ou críticas. Até minha filha mais velha lê. Ela me cobra. Outro dia parei para abastecer o carro e ela reclamou: “Você, que escreve coisas ambientais, tem que pôr álcool, não gasolina”. Mesmo com o álcool mais caro, tenho que obedecer. Ela tem razão – conta, rindo.

A vida cotidiana pauta o jornalista. Na sua rua, semana retrasada, Mansur reparou que as latas de lixo tinham sido pintadas com flores. Certo dia, indo para o trabalho, viu uma mulher puxando um carrinho de feira. De repente, ela parou e começou a pintar a lixeira:

– Estava atrasado, mas senti que devia voltar e falar com ela. É uma bióloga aposentada, que resolveu pintar as latas de lixo da cidade. Foi legal, publiquei isso no blog. Não podemos perder o olhar do dia a dia. Isso às vezes dá uma audiência maior do que as matérias pensadas e muito apuradas.

Histórias bem apuradas resultaram em seis prêmios de jornalismo no currículo. Conquistou, com equipe, o Prêmio Jornalistas&Cia/HSBC de Imprensa e Sustentabilidade 2010, nas categorias Principal e Mídia Nacional/Revista, pela edição verde anual da revista Época daquele ano, Quanto vale a natureza?; dois Prêmios Imprensa Embratel, na categoria Reportagem de Telecomunicações, com as reportagens A nova geração conectada (Época 2004/2005); e O poder e os riscos das redes sociais (2009/2010). Ganhou, ainda, o Reuters-IUCN Media Award 2000, da International Union for Conservation of Nature; o Prêmio CPFL Imprensa 2007, da Companhia Paulista de Força e Luz, e o Prêmio CEBDS de Desenvolvimento Sustentável 2008, do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável.

 Lis HortaNa faculdade, na era pré-blog, Mansur colaborava no Jornal Zinho, editado pelo colega de turma Lula Branco Martins, hoje professor da PUC-Rio (na foto, Mansur, de camiseta branca com folhas, que já remetiam ao seu lado ambiental, e Lula, à direita, aparecem rindo). Lula foi uma das pessoas mais presentes no começo da carreira de Mansur. Já editor do Jornal do Brasil, em 1992, o jornalista chamou o amigo para trabalhar na revista Programa, noticiando programas para jovens na Zine.

– É legal saber que lhe dei seu primeiro emprego num grande veículo de imprensa. E ele sempre teve conteúdo variado, escrevia para outras editorias – lembrou Lula Branco Martins, hoje colunista da Veja Rio.

Numa cobertura nacional, pela Época, acabou passando pelo momento mais triste da carreira, testemunhando o assassinato do repórter fotográfico Luís Antônio da Costa, o La Costa, em 2003. Na porta de um acampamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em São Bernardo do Campo (SP), La Costa tomou um tiro à queima-roupa no tórax. Ele estava bem atrás de Mansur.

Mansur conta que, ao ouvir o disparo, só teve uma reação: pular uma cerca ao lado e se jogar no chão. Quando levantou, viu o colega baleado.

– Nós o botamos no carro de reportagem e corremos para o hospital, mas não conseguimos salvá-lo – lamenta.

Inspirado no jornalista Washington Novaes, um precursor na cobertura ambiental, colunista do Estado de S. Paulo, e no oceanógrafo e documentarista francês Jacques Cousteau – “quero fazer um pouco do que eles fizeram” –, Mansur acredita que a função do jornalismo é “ajudar as pessoas a se orientarem nesse mundo complicado, a separar o certo do errado”. E adverte que a internet é uma armadilha, já que “qualquer um pode se expressar”:

– Nem sempre as pessoas que usam blogs, Twitter, Facebook são independentes. Tem gente que é financiada por uma causa, ou são pessoas que não conhecem as regras de imparcialidade, de direito de resposta ou de conferir antes de publicar.

Da sua geração, elogia outro jornalista ambiental, André Trigueiro, criador do curso de Jornalismo Ambiental na PUC-Rio. A recíproca é verdadeira:

– Estamos realmente cobrindo um assunto importante, urgente. Nós nos vemos em coberturas, e é uma honra poder ajudar e ser ajudado pelos colegas. Às vezes trocamos ideias sobre pautas. Jamais tive uma visão de que Mansur é meu concorrente.

 Arquivo PessoalPrata da casa, o editor-executivo da Época vê a sua formação como algo precioso. Atualmente cursando MBA em Sustentabilidade pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o jornalista afirma que a base teórica da PUC, de áreas como a sociologia, a antropologia e a economia, fez diferença em sua carreira de sucesso:

– No curso de Comunicação tive a chance de pensar de maneira inteligente usando o conhecimento de várias áreas. Isso me deu uma base cultural, de referência. Na imprensa escrita é preciso ter pensamento crítico, fazer referências e contextualizar informações, o que se encontra na PUC.

Alexandre Mansur tem boas lembranças do tempo de universidade. Além de Lula, se formaram no mesmo ano as professoras da PUC-Rio Cássia Chaffin e Alessandra Aldé; o diretor de redação da revista Quem, Marcelo Camacho; o cineasta Cezar Migliorin; o escritor e jornalista Paulo César de Araújo, entre outros.

Mansur usa o conhecimento para fazer sua parte, seja escrevendo, seja cuidando da pequena horta que cultiva na varanda do apartamento em São Paulo. “Quero, no mínimo, salvar a Praia de Ipanema”.