Matheus Vasconcellos e Patrícia Côrtes - Do Portal
31/10/2012Eles usam óculos com lente de fundo de garrafa, são tímidos, um olho na tela do computador e outro na do videogame. Sabem tudo de cultura e ciências, mas não sabem bem como fazer amigos. Suas conversas têm sempre algo ligado a games, quadrinhos e computadores. O estereótipo de nerd, porém, ficou ultrapassado. Eles estão dominando o mundo. Só no ano passado, o comércio de jogos arrecadou R$ 600 milhões, um crescimento de 7% comparado a 2010.
– O nerd agora é pop, atingindo muito mais gente – afirma Eduardo Spohr, autor dos livros A Batalha do Apocalipse e Filhos do Éden, best-sellers em 2010 que somam mais de 400 mil exemplares vendidos no país.
Se o nerd já teve um perfil solitário, a popularização do gênero mudou essa história. No último sábado, mais de sete mil pessoas se reuniram no Planetário da Gávea para a Jedicon, surpreendendo a organização – o Conselho Jedi do Rio de Janeiro, fã-clube formado por fãs da saga Guerra nas estrelas, de George Lucas. A entrada era franca, mas os aficionados pela série estavam dispostos a gastar nos sete estandes de produtos. Itens de colecionador chegavam a custar R$ 500. Na Arena Jedi, guerreiros se digladiavam com espadas de madeira e espuma. O ator e comediante Fernando Caruso, nerd de carteirinha, foi o mestre de cerimônias.
Formado em jornalismo pela PUC-Rio, Eduardo Spohr é um dos mais bem-sucedidos escritores de literatura fantástica dos últimos anos. Eduardo é colaborador do site Jovem Nerd, cujo selo Nerdbooks lançou livros como Protocolo Bluehand: Alienígenas, que vendeu 2 mil cópias no dia de lançamento e esgotou a primeira tiragem em apenas nove dias.
Alexandre Ottoni, o Jovem Nerd, e Deive Pazos, o Azaghal, criaram o blog há 10 anos, para reunir os nerds e também produzir conteúdo informativo de forma bem-humorada. O site publica todos os dias conteúdo em vídeo ou áudio, e hoje tem mais de 10 milhões visualizações de páginas por mês. Alottoni, como gosta de ser chamado, acredita que o site tem papel fundamental para a identificação dos novos nerds.
– A diferença é que hoje ninguém tem vergonha de ser nerd. Quis passar esse sentimento meu para o site. Da nossa forma bem-humorada de encarar o mundo e expor nossa opinião, nós cativamos muitas pessoas que diziam nem saber que eram geeks. Fico muito feliz de saber que conseguimos atingir tantas pessoas – conta Alexandre, que em 2007 aproveitou uma brecha do mercado e abriu uma seção no site chamada Nerdstore, dedicada a vender produtos próprios.
– Em 2007, nosso público mais fiel queria comprar uma camiseta, uma caneca, algo que pudesse identificar a galera do site. Assim nasceu a Nerdstore. Estamos sempre investindo nesse mercado voltado para o nosso nicho, de quem a gente mais entende – diz Alottoni, que viu a explosão de sites concorrentes na última década: – A internet aproximou as pessoas e facilitou muito a comunicação, e muita gente está produzindo conteúdo nerd. Se você é autêntico, se destaca naturalmente, mas mesmo assim não é fácil transformar prazer em trabalho. É preciso ter muita autocrítica para saber se o que você faz é legal ou não.
Os eventos voltados para esse grupo também estão acontecendo com mais frequência. Em setembro estreou o NerdRio (foto), evento que reuniu 3 mil pessoas para palestras, pocket shows e desfiles de cosplay no Clube Monte Líbano. A organizadora, Luciana D’Aulizio, diz que o Rio de Janeiro está carente de eventos desse tipo:
– A gente pretende fazer o próximo NerdRio, ano que vem, em um lugar maior. Acho que esses eventos estão crescendo porque há demanda. Na sociedade da informação em que vivemos, todo mundo é obrigado a ser um pouco nerd – afirma Luciana, que promete trazer atrações mais abrangentes para a próxima edição.
O Rio de fato está longe de sediar encontros como São Paulo, que recebeu em outubro a Brasil Game Show, maior feira de jogos da América Latina, e no início de 2013, de 28 de janeiro a 3 de fevereiro, sediará a Campus Party Brasil, que vai reunir mais de 8 mil pessoas no Parque Anhembi.
Cada nerd com sua tribo
Geeks: interessados principalmente em tecnologia, ciência e informática.
Gamers: Os compulsivos por vídeo games. Podem se subdividir também em fãs de RPG e cartas.
Otaku: Fãs da cultura japonesa, principalmente os desenhos animados, os chamados animes e os quadrinhos (mangás)