Matheus Vasconcellos e Caio Cidrini* - Do Portal
02/08/2012O cavaleiro das trevas ressurgiu, na última sexta-feira. A estreia de Batman – O cavaleiro das trevas ressurge nos cinemas brasileiros foi marcada por um clima de apreensão, uma semana após o estudante americano James Holmes matar 12 pessoas e ferir 58 a tiros em uma sessão de pré-estreia do filme, na periferia de Denver, Colorado.
O estudante de Comunicação da PUC-Rio Gabriel Nascimento, de 21 anos, presenciou um clima de tensão na pré-estreia do filme em Niterói, na última quinta-feira, dia 26, quando um homem com o cabelo pintado de laranja entrou na sala de cinema.
– Vi o rapaz com o cabelo laranja e me lembrei do atirador. Comentei com meus amigos e postei no Facebook na mesma hora – conta Gabriel, que não sabe se foi uma brincadeira de mau gosto ou uma coincidência infeliz.
Na sexta-feira 27, o cinema Estação Vivo, no Shopping da Gávea, estava tranquilo. Era possível comprar o ingresso na hora para a sessão das 17h50, que teve muitos idosos na plateia, semiocupada. A bilheteira Íris Silva comentou que o público inclui crianças e adolescentes – a classificação é de 12 anos.
– As crianças adoram o Batman e muitas vêm assistir, principalmente porque ainda estão de férias – contou Íris.
Porém, há pais que pediram aos filhos que não fossem à estreia. De férias no Rio, a estudante Maria Luísa Corrêa, de 13 anos, de Penha, Santa Catarina, contou que a mãe vetou sua ida ao cinema.
– Minha mãe pediu para eu não ir. Disse que existe muita gente “maluca” no mundo e que no Brasil não era diferente, que não custa nada aparecer alguém aqui para imitar o atirador. Eu não concordo com ela, acho que a gente não deve deixar de ver um bom filme porque aconteceu uma tragédia em outro país. Não é por que ele fez aquilo que alguém aqui vai fazer também – reclama Maria Luísa, que ainda não assistiu ao filme.
Embora a “maldição do Batman” possa provocar certo medo, comerciantes garantem que o tiroteio em Aurora não influenciou a venda de produtos relacionados ao herói no Rio. Pelo contrário, dizem que os produtos estão em alta por causa da exibição do filme nos cinemas.
Na PBKids do São Conrado Fashion Mall, na Ri Happy de Madureira e na Party Shop, no Shopping da Gávea, vendedores contaram que foram feitas encomendas maiores antes do lançamento, e que os produtos têm tido boa saída. No entanto, o atendente do quiosque Fanspot, do New York City Center, na Barra da Tijuca, constatou que a plateia está evitando adereços relacionados ao Batman nas sessões do filme.
– As vendas não diminuíram, mas quase ninguém está usando nossos produtos para ir ao cinema – afirma Anderson.
Mas nada disso espantou o público: o filme contabilizou em seu fim de semana de estreia 1,1 milhão de espectadores e faturou R$ 13,5 milhões – a terceira melhor estreia do ano, ficando atrás apenas de Os Vingadores e de O espetacular Homem-Aranha.
A maldição do Batman
Lendas de filmes amaldiçoados são recorrentes em Hollywood. O ataque de James Holmes durante a exibição de Batman – O cavaleiro das trevas ressurge trouxe mais misticismo para a franquia de Christopher Nolan, que já era cercada de tragédias. A fama da saga começou com as filmagens de Batman – O cavaleiro das trevas, em 2008.
O primeiro acontecimento foi a morte de um técnico de efeitos especiais durante a filmagem de uma cena de perseguição de carro. O veículo perdeu o controle e se chocou com uma árvore. A vítima estava na parte traseira da caminhonete. Outro acidente de carro aconteceu com Morgan Freeman, que a caminho de casa após as filmagens capotou diversas vezes, quebrando o braço e o ombro.
Porém, o fato que mais colaborou para a fama amaldiçoada da série de filmes do homem-morcego foi a morte de Heath Ledger. Atuando como Coringa, o ator australiano morreu antes da estreia do filme. Ledger foi encontrado morto no seu apartamento em Nova York, devido a uma overdose de remédios.
Eventos trágicos voltaram a ocorrer no último longa da série, em 2011. Um figurante sofreu um ataque cardíaco e morreu próximo ao local de filmagem. Também houve dois acidentes automobilísticos nos bastidores de Batman – O cavaleiro das trevas ressurge. Houve danos com equipamentos, mas nenhuma morte e ferimentos.
Uma semana após o massacre no cinema em Colorado, uma sessão do filme em um shopping em Guadalajara teve que ser esvaziada. Um incêndio no imóvel vizinho chegou a três salas de cinema e acionou os alarmes e 800 pessoas tiveram que ser retiradas sem nenhum ferido.
Terror na sala de cinema Não foi a primeira vez que atos de violência foram praticados nos cinemas americanos. Em 2006 Mujtaba Jabbar, estudante de medicina, 25 anos, matou um homem durante uma sessão do filme X-Men 3: o confronto final em Maryland. Jabbar usou uma arma e afirmou cometer o crime porque sofria de esquizofrenia, que foi comprovada e o livrou de julgamento. Na cidade de Fullerton, Califórnia, em fevereiro de 2008, um homem esfaqueou duas pessoas durante a exibição do filme The signal. A cena seguinte era de um esfaqueamento, coincidentemente ou não. Steven Walter Robinson, hoje com 28 anos, autor do ataque, foi preso na semana seguinte ao ataque e condenado à prisão perpétua. No mesmo ano, na Filadélfia, James Cialella, atirou em um homem por estar falando alto durante uma sessão do filme Curioso caso de Benjamin Button. Cialella foi acusado de tentativa de homicídio. Mas acontecimentos como esses ultrapassam a fronteira dos Estados Unidos. O caso mais parecido com o da tragédia no Colorado é brasileiro. Em 1999, Mateus da Costa Meira, assim como Holmes e Jabbar estudante de medicina, 24 anos, atirou com uma submetralhadora contra 66 espectadores durante uma sessão do filme O Clube da Luta. O ataque aconteceu em um cinema em um shopping no bairro do Morumbi, em São Paulo. Três pessoas morreram e quatro ficaram feridas. |
* Colaboraram Amanda Reis, Caio Fiusa, Patrícia Côrtes e Rodrigo Serpellone.