Quem nunca sonhou desbravar o mundo, conhecer novas culturas, e ainda trocar experiências com todo tipo de pessoa? Os fotógrafos alemães Axel Brümmer e Peter Glöckner realizaram este sonho a partir de 1990, no projeto “Os Traços de Marco Pólo”, em uma longa jornada visitando os lugares por onde, segundo historiadores, Marco Polo teria passado. Os dois aventureiros esriveram na PUC-Rio contando aos alunos suas aventuras de viagens. Eles nasceram na Alemanha Oriental sob o domínio da União Soviética, quando o governo exercia grande repressão na produção e distribuição da informação em toda região: sair legalmente do país era impossível. “Até os 22 anos só conhecíamos a Alemanha Oriental, não tínhamos noção de como era o resto do mundo, nem do que se fazia nele”, diz Axel. Assim que o muro de Berlim caiu, em 1989, eles descobriram um mundo novo, diferente de tudo que até então conheciam. Logo sentiram vontade de explorá-lo e saíram rumo ao desconhecido.
Axel chegou a morar cinco anos no Brasil, na Amazônia, quando casou-se com uma brasileira.
Em 2003 começaram a jornada pelo primeiro pólo europeu da rota histórica. O interesse no curso de Marco Polo e em fotografar era muito grande. O desejo era de navegar em um Dschunke, barco à vela chinês, o mesmo modelo do aventureiro que os inspirava. “Queríamos nos aventurar como Marco Polo, quem sabe ter experiências parecidas, e para isso o barco seria essencial”, relata Peter. O olhar curioso e admirado transformou-os em excelentes profissionais, hoje contratados pela Laica, empresa que fornece todo o material fotográfico para o registro de suas aventuras.
Mesmo com fotos a fazer, a maior preocupação da dupla sempre é em torno dos seres humanos, de experimentar, compreender suas histórias e culturas. Segundo Axel e Peter, essa troca de experiência foi fundamental para que desenvolvessem um sentimento de inclusão e de respeito pela cultura alheia. A rota e o veículo estavam escolhidos. Mas esta viagem seria muito cara, não tinham dinheiro. O primeiro tipo de transporte que utilizaram foi a bicicleta: barata e possibilita relacionar-se com as pessoas durante o percurso. Pedalando passaram pela Palestina, Líbano, Cazaquistão, Irã, Ásia central, Afeganistão e China.
Esta aventura despertou o interesse de diversas pessoas pelo mundo, que, com os amigos da dupla, enviaram doações que patrocinaram a viagem e financiaram a compra do barco Dschunke encontrado no litoral chinês. A primeira viagem de barco mal havia começado e sofreram um grande susto. O tão sonhado Dschunke afundou em sua primeira viagem, quando passavam pelo mar da Indonésia.
Uma busca por uma nova embarcação iniciou-se, até acharem outro na Índia que precisava ser reformado: apenas o casco estava em boas condições. Com a ajuda financeira e mão-de-obra de amigos, conseguiram fazer a reforma. “Ver nosso barco afundar foi algo terrível, por um momento pensamos em desistir. Nosso sonho só se tornou possível a partir da boa vontade dos amigos que fizemos e das pessoas que simpatizaram com nosso projeto. Chegaram a doar 10 mil euros anonimamente”, diz Peter. No fim de 2006 terminaram a segunda perna da rota histórica de Marco Polo ao chegarem a Veneza.
É preciso mais do que duas pessoas para navegar e o barco tem capacidade para 12 tripulantes. Peter e Axel aceitam qualquer pessoa, desde que haja vaga, o único pré-requisito é ter vontade de trabalhar. Pelo Dschunke já passaram mais de 30 pessoas, sendo cinco deles brasileiros, número que deve aumentar, uma vez que o novo projeto é repetir a rota de Pedro Álvares Cabral. “Tenho uma ligação muito forte com o Brasil, morei durante cinco anos na Amazônia e fui casado com uma brasileira”, esclarece Axel.
Axel e Peter começaram a rota de Pedro Álvares Cabral em setembro de 2007, saindo de Portugal e chegaram à costa brasileira no dia 28 de janeiro, coincidindo com o início das comemorações dos 200 anos da chegada da Família Real ao Brasil, e tiveram a embarcação exposta no Rio Boat Show 2008, que aconteceu na Marina da Glória.
O objetivo de Cabral era seguir o caminho para as Índias, recém-descoberto por Vasco da Gama, e voltar com os navios cheios de especiarias. O regresso deste navegador motivou a coroa portuguesa a organizar uma grande expedição para assentar-se permanentemente nas Índias. O próprio Vasco da Gama deu as instruções sobre o curso a seguir durante a viagem. Também coube ao almirante Cabral difundir o cristianismo entre os povos do oriente. Para tal feito, embarcaram um grupo de frades da Ordem Franciscana. Finalmente, em 9 de março de 1500, a frota zarpou de Lisboa em direção ao Arquipélago de Cabo Verde.
O caminho que Axel e Peter repetiram foi exatamente o mesmo que Cabral seguiu até chegar ao Brasil. Partiram de Portugal em direção ao arquipélago de Cabo Verde, de onde seguirão em direção a Porto Seguro, para, enfim se dirigirem ao Rio de janeiro.Para os interessados nas aventuras da dupla, há maiores informações no site oficial.