Carina Bacelar - Do Portal
29/06/2011A nova diretora do Departamento de Sociologia e Política, Maria Sarah Telles, projeta que as ciências sociais também podem dar uma guinada no mercado graças à Copa do Mundo de 2014 e à Olimpíada de 2016. Segundo a professora, que tomou posse nesta quarta-feira, essas iniciativas de grande abrem oportunidades para a área, pois exigem, por exemplo, análises de impactos sobre as populações e as dinâmicas urbanas. "As ciências sociais têm um papel muito importante de monitorar, pressionar e, em último caso, denunciar", afirma. Por conta disso, a PUC-Rio vai inaugurar, no próximo ano, um núcleo de estudos sobre megaeventos, o Central. No entanto, a prefeitura já encomendou pesquisas aos pesquisadores do grupo. Na opinião de Sarah, o setor público é justamente o campo mais fértil, atualmente, para sociólogos, cientistas políticos e antropólogos recém formados.
O reitor da universidade, padre Josafá Siqueira, S.J., ressaltou, na cerimônia de posse, a importância da "criatividade permanente" para cumprir desafios como a consolidação dos cursos de pós-graduação. Em entrevista ao Portal PUC-Rio Digital, Sarah Telles adianta como pretende desenvolver esses novos projetos – dos quais também fazem disciplinas de educação a distância e convênios de dupla diplomação com universidades estrangeiras.
Portal PUC-Rio: Que mudanças a senhora pretende implementar no Departamento de Sociologia e Política?
Sarah: Fui diretora em 1994, durante sete meses. O departamento estava em crise. Era para mudar mesmo. Agora, em 2011, é para dar continuidade ao projeto do qual estamos colhendo vários resultados bons. As mudanças são semelhantes às que estão ocorrendo na PUC, de uma forma geral. Um dos projetos é a internacionalização do programa tanto da graduação quanto da pós. Haverá convênios com universidades estrangeiras, como as de Coimbra (em Portugal) e outras de língua portuguesa. Assim, o aluno, ao fim da graduação, poderá ter dois diplomas. Esse movimento começa já nos próximos meses. As universidades europeias e americanas estão cobiçando alunos brasileiros, e a PUC-Rio está nessa lista. Na pós-graduação, trabalharemos mais com a “Bolsa-Sanduíche” (para alunos de graduação que queiram emendar na pós).
Portal: O ensino a distância vem dando muito certo, por exemplo, do Departamento de História. Há perspectiva de se adotar modelo semelhante?
Sarah: Ainda temos algumas resistências no departamento em relação ao ensino a distância. Mas, por outro lado, vamos começar a ter essa modalidade de ensino em algumas disciplinas da graduação e no latu sensu. Não temos ainda a clareza de um curso de ciências sociais a distância, mas isso é um processo. Vamos começar a oferecer a disciplina Base do Pensamento Político online, como aconteceu com Introdução à Filosofia. Alguns professores do quadro complementar estão animados, e muitos deles já até foram tutores de ensino a distância.
Portal: Como vem sendo absorvido o profissional de sociologia no mercado?
Sarah: Cresce cada vez mais em termos de instituições públicas. Muitos de nossos ex-alunos se candidatam a concursos públicos. Estão em instituições dos governos federal, estadual e municipal. São avaliadores de políticas sociais, do setor público. Tem uma professora nossa (Maria Celina D’Araújo) que escreveu um livro radiografando os altos cargos do governo Lula, em Brasília. E a concentração de profissionais formados em ciências sociais é impressionante. Também para professoresn o mercado vem se expandindo, principalmente porque filosofia e sociologia tornaram-se obrigatórias. Já as ONGs, que eram uma demanda tradicional na área, estão em crise de financiamento. Tornaram-se uma perspectiva mais reduzida. Mas eu acredito que isso mude. O governo atual está no caminho de aprovar uma legislação destinando uma verba pública para elas, independentemente de articulações políticas.
Portal: As demandas impulsionadas pela Copa e pela Olimpíada, como a revitalização do Centro, podem contribuir para esse mercado?
Sarah: Sim. Vão produzir diagnósticos e políticas de avaliação do que está sendo feito na cidade. O impacto desses megaeventos sobre o espaço urbano, sobre os mais pobres, sobre as áreas mais degradadas pode ser excelente, tornando a cidade muito mais habitável e cidadã; ou ser terrível, excludente, como na África do Sul. As ciências sociais têm um papel muito importante de monitorar, pressionar e denunciar, em último caso. Para isso, estamos constituindo um núcleo aqui dentro do centro de ciências sociais chamado Central. Uma das funções dele será acompanhar os megaeventos, se articular com outros movimentos sociais que já estão fazendo isso. Já denunciam, por exemplo, a remoção que vem acontecendo de forma arbitrária de populações. Esse é um projeto para ser inaugurado em 2012, mas já está realizando pesquisas para a prefeitura.
Portal: Quais são os principais desafios à vista?
Sarah: O grande desafio é manter a boa avaliação do curso de graduação (conceituado com máxima pelo MEC) e chegar a esse patamar na pós. Para tal, o doutorado tem que ter teses defendidas. Estamos no terceiro ano do doutorado, então só a partir de 2013 teremos as primeiras dissertações. A Capes exige cada vez mais dedicação do professor à pesquisa, e isso às vezes desmotiva para atuar em sala de aula. Para a universidade, isso hoje configura uma tensão forte.
Portal: Como superar esse embate entre academicismo e prática?
Sarah: Acho que temos que dar respaldo para os professores poderem produzir. Uma das coisas que podemos fazer para ajudar é ter uma excelente parte administrativa, que a ajude o professor a ficar menos tempo em cima de burocracia das agências financiadoras de pesquisa. Se ajudarmos o professor na infraestrutura dos projetos, isso alivia a carga e ele pode ir para a aula mais relaxado. Outras solução seriam trabalhar com uma equipe maior no departamento e investir em bons professores no quadro complementar. Uma forma que adotamos de fixar o horista é colocá-lo para dar aulas nos cursos de pós e incluí-los nos projetos de pesquisa de professores do quadro principal.
Portal: Como integrar as áreas de sociologia, antropologia e ciência política sem reduzi-las?
Sarah: A primeira mudança será o nome. Tudo indica que logo será aprovado o novo nome: Departamento de Ciências Sociais. O curso de graduação é em ciências sociais, a pós-graduação também. Só o nome do departamento que é mantido desde a década de 1950. Naquela época, a sociologia era a “grande ciência social”, seguida pela ciência política. A antropologia ainda era pouco desenvolvida no país. O diploma, no Brasil, sempre foi de ciências sociais. Agora é que está começando a haver graduações em separado.
Portal: Em relação a esse aspecto, a senhora acredita que o departamento caminhe a passos mais largos em direção à multidisciplinaridade?
Sarah: Isso já vem sendo feito desde os anos 2000 em termos de pesquisa. O próprio Nirema também é interdisciplinar, integra história, sociologia... Acho que não temos como escapar da interdisciplinaridade. Complica e dificulta o dia a dia da gente sermos interdisciplinares na prática, enquanto a cobrança (das instituições de pesquisa) é ainda muito centrada na produção individual. Os professores acabam trabalhando mais isolados por conta disso. Acho que ser interdisciplinar é da própria natureza das ciências sociais, porque nós fazemos reflexões e diagnósticos sobre vários assuntos.
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