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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Campus

PUC inaugura Centro de Estudos e Projetos da Cidade em 2011

Stéphanie Saramago - Do Portal

29/11/2010

 Stéphanie Saramago

A PUC-Rio vai inaugurar em 2011 o Centro de Estudos e Projetos da Cidade, com o objetivo de reunir pesquisas sobre as cidades brasileiras, mais especificamente o Rio de Janeiro. Para a professora do Departamento de Sociologia Maria Alice Rezende, uma das coordenadoras do projeto, um centro desse tipo possibilita “uma intervenção no cotidiano do Rio de Janeiro, uma reflexão mais apurada sobre a cidade”.

O centro de estudos pretende levantar questões da cidade sob uma perspectiva acadêmica. Um exemplo desse projeto é o estudo das periferias urbanas. Segundo a socióloga, as periferias devem ser consideradas como produtivas, positivas, inclusive em suas perspectivas culturais. O associativismo do funk, por exemplo, é outro movimento que vem sendo pesquisado pelos professores. “Essa cadeia produtiva da cultura é uma coisa que produz trabalho, dinheiro, assalaria muitas pessoas”, afirmou a socióloga. A importância desse centro é sua capacidade de mobilizar a cidade, a cidadania, e “tornar o espaço um lugar razoável para a população”, completa Maria Alice.

Através de trabalhos de campo, consulta de arquivos, discussão sobre o papel das instituições e pesquisas teóricas sobre a cidade, professores de diferentes departamentos reúnem material de pesquisa. Maria Alice ressalta que a reflexão acadêmica é demorada, “o que é rápido é a gente escrever um artigo, produzir um projeto, mas a ideia da pesquisa tem que ter uma solidez maior”, completou a professora.

Portal Puc-Rio digital: Qual é o objetivo principal do centro de estudos?

Maria Alice Rezende: Olha, esse centro é uma boa ideia por muitos motivos. Ele surgiu da ideia de termos um lugar de diálogo e acolhimento de pesquisas sobre essa temática especifica que é a cidade, e mais especificamente ainda o Rio de Janeiro. Evidentemente, como nós estamos no Rio, a vocação dos pesquisadores, pelo menos até agora, têm como ênfase o Rio de Janeiro. É natural que essa seja uma inclinação do centro. Se a gente abrir a reflexão sobre o que significa ter um centro sobre a cidade, nós certamente estaremos abrindo uma possibilidade de intervenção no cotidiano do Rio de Janeiro. Intervenção em muitos níveis, como a reflexão mais apurada sobre a cidade e seus problemas.

Portal: Quais são as questões que o centro pretende abordar?

M.R: Vai depender das pesquisas que estão sendo propostas e tem muita coisa em curso. Há pesquisas, por exemplo, referidas à violência. Há pesquisas referidas a padrões de assistência jurídica. Há pesquisas históricas sobre o Centro da cidade, sobre a região portuária, sobre essa parte do município que vai ser mobilizada agora para a organização das Olimpíadas, o porto. Há a sociologia que lida com formas de vida urbana. Porque todas essas questões temáticas estão referidas a uma reflexão muito antiga na sociologia sobre cidade, que implica padrões de comportamento urbano, mutações que esse constructo chamado cidade vem sofrendo. A cidade moderna tal como nós conhecemos que a sociologia conceituou, é a cidade do século XIX, das formações urbanas e industriais. Agora, essa perspectiva está ruindo porque há o padrão de cidade, de convivência, e as formas produtivas não são exclusivamente fabris. Esse projeto fordista de organização do trabalho das classes subalternas vem perdendo espaço.

 Stéphanie Saramago

Portal: Esse projeto foi criado na PUC-Rio?

M.R: Sim. O centro ainda está sendo implantado. Ele vai funcionar como uma espécie de federação de pesquisas propostas pelos diferentes departamentos do Centro de Ciências Sociais, mas, no futuro, podemos imaginar inclusive que outros departamentos, como Engenharia, Engenharia de Trânsito, tenham interesse em trabalhar conosco. Por enquanto, é um experimento que tem a ver com o Centro de Ciências Sociais e vai ser institucionalizado e, evidentemente, foi muito bem recebido, acolhido e estimulado pelo decano Luis Roberto Cunha e pela vice-decana Monica Hertz. O Centro de Estudos e Projetos da cidade terá um site que será uma maneira de comunicação entre essas pesquisas federadas e ágeis na comunicação com centros de pesquisa fora da PUC e fora do país que tenham esse mesmo objetivo.

Portal: E qual é a importância desses estudos?

M.R: Com esse centro de estudos, estaremos constituindo um endereço de reflexão sobre o Rio de Janeiro para a sociedade brasileira. Isso já é uma grande coisa. Aprender a pensar sobre a sua cidade é o primeiro passo para valorizá-la. A ideia de cidadania, de apego à cidade e de participação deriva do conhecimento sobre ela. E agora há essa agenda da cidade do Rio de Janeiro que mobiliza arquitetos, urbanistas, sociólogos, que está ligada a mais uma rodada de intervenções da Prefeitura, do Estado e do Governo Federal na urbanização do Rio de Janeiro. Já houve “Favela-Bairro” e agora vem o “Morar carioca”, que faz uma pesquisa no local, para conhecer as características daquela favela, e, depois, um projeto de intervenção. Então eu acho que isso mobiliza a cidade, mobiliza a cidadania, recursos humanos e materiais para tornar a cidade um lugar mais justo, mais razoável para o conjunto da população.

Portal: Esses estudos no caso teriam uma aplicação prática?

M.R: Poderiam ter uma aplicação prática sim, mas não necessariamente são concebidos assim, mas é claro que eles podem ter efeito na vida social. Como você vai pesquisar o que está acontecendo com o movimento funk, por exemplo, é claro que você está iluminando um setor da vida social que poderia estar invisível, e de repente você confere certo destaque pelo recorte acadêmico que introduziu ali, e aquilo já cria uma dinâmica mais animada. Então, a mesma coisa quando você dá destaque a padrões de reaproveitamento do lixo e saber quem são aquelas pessoas, saber as formas de ação dessas cooperativas, onde moram. Assim, o pesquisador vai recortando e constituindo ali outras dinâmicas, fazendo com que elas possam ser visitadas por empresários, ou possam ser visitadas por sindicatos, você vai movimentando o tecido urbano. A princípio, a destinação não é para intervir nesse sentido, mas sim produzir condições para que essa intervenção se processe.

Portal: Desde quando o projeto existe?

M.R: Há dois anos, quando eu vim para a PUC-Rio, me pediram um projeto para entrar porque eu era do Instituto Universitário de Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, o Iuperj, onde há somente pós-graduação e agora está sendo anexado pela Uerj. Eu já tinha um projeto de cidade e cada um de meus colegas, por exemplo, dos Departamentos de História, de Geografia, todos eles também já tinham seus respectivos projetos em andamento. Agora o centro está sendo montado. O grande desafio do centro é pensar nesse momento as periferias urbanas e considerá-las como produtivas, positivas, no sentido de que ali há muita energia, muitos traços culturais importantes. É importante para a cidade ver perspectivas culturais e de transformação da vida urbana.

  Stéphanie Saramago  

Portal: O que já foi constatado até o momento a partir dessa observação positiva?

M.R: Para começar, toda essa discussão sobre cultura urbana, as dissertações de mestrado e as pesquisas de campo que têm sido feitas são marcadas por essa tônica positiva. Há o movimento funk, o associativismo do funk. Essa cadeia produtiva da cultura é uma coisa que produz trabalho, dinheiro, assalaria muitas pessoas. Aqui a gente pensa em periferia como se fosse uma coisa muito afastada, mas várias favelas interagem com esse universo de professores de sociologia e com as pesquisas que estão sendo realizadas.

Portal: Como esses estudos serão divulgados?

M.R: Nós vamos tentar fazer um site bastante dinâmico, que seja ao mesmo tempo um lugar de troca de papers, um lugar onde a gente possa deixar online os resultados de pesquisa, produzir entrevistas com atores sociais importantes, exibir filmes urbanos. Hoje em dia esse é um veículo fascinante porque você pode disponibilizar para uma população bem maior um acesso às coisas que você está produzindo. Mas a pesquisa acadêmica demora, o que é rápido é a gente escrever um artigo, produzir um projeto, mas a ideia da pesquisa tem que ter uma solidez maior. Esse é um centro que vai respirar muito a partir de seminários internacionais, troca com professores de outros estados. No Brasil são muitos centros, pois a cidade é de fato o lugar que se tem emprestado muita energia acadêmica, universitária. De fato, a gente tem concentrado muito investimento do ponto de vista da reflexão. A ideia de políticas públicas não nasce do nada, ela tem que ter uma base de indagação e pesquisa para que possam ser concebidas. Não é nosso papel construir políticas públicas. Os gestores urbanos que produzem. Mas certamente eles são de algum modo levados a agir a partir de fundamentos que a vida universitária pode propiciar.