Marcelo Paulino, de 37 anos, é formado em Geografia e sonha em fazer teatro. Enquanto não sobe aos palcos, ele proporciona a cegos e deficientes visuais o acesso a best-sellers como O código da Vinci, Quando Nietzsche Chorou e a coleção Harry Potter. Paulino é auxiliar de biblioteca na PUC-Rio, onde o projeto “Livros Falados” funciona desde novembro de 2006.
Por conta de um convênio com a Fundação Dorina Nowill para Cegos, a biblioteca recebeu 45 CDs com livros gravados, que podem ser escutados na sala de multimídia ou alugados. Em troca, a universidade estende o programa aos que não estudam na PUC-Rio. Além disso, alunos portadores de deficiência visual podem levar, por empréstimo, as gravações para casa. – A fundação pega todos os livros de sucesso no momento para atender a esse público – conta Paulino.
– Os que estão aqui são indicados pelos estudantes. Nós ainda não temos usuários regulares, mas tem um aluno que já pegou três livros. Até os que não têm deficiência procuram o lugar por curiosidade.
A idéia do projeto surgiu quando a professora Rosana Koln Bines, pesquisadora da Cátedra Unesco de Leitura e do Departamento de Letras, indicou que a diretoria da biblioteca entrasse em contato com a Fundação Dorina Nowill, em São Paulo. Desse encontro nasceu a parceria. Na ocasião, Rosana lecionava para um aluno cego e buscava formas de ajudá-lo em seus estudos. Ainda não há disponíveis exemplares acadêmicos de livros falados. No entanto, a Fundação Dorina Nowill já começou a gravar textos jurídicos e um dicionário de língua portuguesa, que devem chegar em breve à biblioteca. E, com apenas um cadastro, os usuários ganham uma assinatura gratuita da "Veja falada".
– Todos as obras que temos foram doadas. Mas ainda pretendemos produzir nossos próprios livros. Temos uma bibliotecária que já fez aulas de técnicas de gravação de livro falado, oferecidas pela Casa de Rui Barbosa. Mas o ideal é que haja mais gente. Se tiver oportunidade, farei também – diz Paulino.
O curso é importante pois, ao contrário do que ocorre com os contadores de história tradicionais, a leitura nos livros falados não pode ser carregada de emoção. O objetivo é conduzir a pessoa para o seu próprio caminho, sem interferência do contador.
– A gravação deve ser feita em tom neutro, sem entonação, para não influenciar. A intenção é justamente permitir que cada um tire as suas próprias conclusões – explica o bibliotecário.
Todos os funcionários da sala de multimídia, onde trabalha Paulino, foram treinados pelo Instituto Benjamin Constant para orientar corretamente os deficientes visuais. A ONG Centro de Vida Independente, cujo lema é melhorar a qualidade de vida dos que têm algum tipo de deficiência e torná-los mais independentes, projetou um vídeo e ofereceu palestras aos funcionários da biblioteca.
Embarcando neste tema da inclusão, a PUC-Rio acabou de criar um núcleo específico de apoio aos deficientes e pretende investir na acessibilidade, que ainda é um problema nos ambientes de estudo. A diretoria da biblioteca quer aproveitar o novo núcleo para manter o investimento no bem-estar dos deficientes físicos. O bibliotecário Paulino ainda não conquistou o sonho de estudar teatro. Mas se diz realizado com a possibilidade de ajudar pessoas que são, em muitas ocasiões, ignoradas pela sociedade.
– Gosto de ler e de ajudar os que precisam – revela – Deu para notar a felicidade de um aluno cego quando se deu conta de que teria acesso a um livro desses. Fico feliz com isso. As pessoas se esquecem de estender a mão ao próximo. Qualquer ajuda é válida.
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