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Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 2024


Campus

"A PUC é um lugar de conhecimento universal"

Juliana Oliveto - Do Portal

10/12/2010

 Camila Grinsztejn

Luiz Felipe Lampreia foi ministro das Relações Exteriores do governo Fernando Henrique Cardoso entre 1995 e 2001, secretário-geral do Itamaraty entre 1992 e 1993 e embaixador do Brasil em países como Portugal e Suíça. Antes de seguir a carreira diplomática – assim como seu pai João Gracie Lampreia –, deixou-se seduzir pela sociologia e frequentou, na década de 1960, o curso na PUC-Rio.

– Eu sempre quis ser diplomata, mas a sociologia me balançou muito. Gostei tanto, foi uma experiência tão boa, que houve um momento em que pensei em deixar o "projeto Itamaraty", mas acabei não resistindo quando abriu o concurso – contou Lampreia.

O início dos anos 1960 foi marcado, no Brasil, pela efervescência política. A inauguração de Brasília, a transferência da capital do país para a nova cidade, pelo então presidente Juscelino Kubitschek, e a eleição do oposicionista Jânio Quadros, com 48% dos votos, para a Presidência da República, movimentavam o cenário político nacional.

Nesse contexto, Luiz Felipe Lampreia, então com 18 anos, deixou o colégio Andrews, no Rio de Janeiro, para entrar em um mundo completamente novo, em especial para quem vinha de uma educação familiar conservadora. Matriculado no curso de sociologia, Lampreia pôde dividir espaço com opiniões variadas, pessoas politizadas e toda uma variedade de pensamentos.

– Havia muito debate político, principalmente porque boa parte do curso foi durante o governo Jânio Quadros, um momento de grande empolgação nacional, todos acompanhavam com muito interesse e aí havia um intercâmbio de concepções muito agradável – lembrou.

Sete meses depois de subir ao poder, Jânio Quadros renunciou – em agosto de 1961 – e o país sofreu com uma tentativa de golpe militar que queria impedir que o vice-presidente João Goulart, o Jango, assumisse o governo. Lampreia recordou que ninguém morria de amores por ele, mas pela ideia da legalidade intrínseca.

 Camila Grinsztejn

– Os estudantes se mobilizaram muito na PUC, pessoas como o Cacá Diegues e o Arnaldo Jabor, havia assembleias e grandes discussões, um movimento muito interessante que acabou sendo uma festa, porque a teoria da legalidade acabou prevalecendo.

Mesmo com o foco na carreira diplomática, Luiz Felipe Lampreia sempre quis frequentar a PUC-Rio, por considerar a experiência da Escola de Sociologia e Política da universidade – atual Departamento de Sociologia e Política – muito variada, graças à concepção do curso implementada pelo padre Fernando Bastos D’Ávila, S.J. “Nosso curso não envolvia apenas sociologia, mas antropologia, economia, ciência política e história, sendo um curso realmente humanístico e isso sempre me atraiu”, explicou Lampreia.

Além das aulas de sociologia ministradas pelo próprio padre D’Ávila e também pelo sociólogo Gláucio Soares, que levantavam discussões amplas e reveladoras que “serviram para abrir a mente” de Lampreia, o ex-aluno lembrou com saudade do professor Arthur Neiva, então vice-diretor do departamento.

– Arthur Neiva era um professor fascinante, de uma formação muito ampla e que partia do princípio que você tinha que ter uma noção, pelo menos geral, de todos os ramos de conhecimento, incluindo a física e a química. Era uma pessoa brilhante que me marcou muito – recordou.

O ano agora era 1963 e o Instituto Rio Branco abriu concurso para novos interessados em seguir a carreira diplomática. Como na época não era necessário que o candidato tivesse formação acadêmica completa – o que mudou em 1994 –, Lampreia, então com 20 anos, se despediu da Escola de Sociologia e Política e foi atrás de sua vocação.

 Camila Grinsztejn

O ex-ministro ressaltou a importância dos anos na universidade para coisas que viveu posteriormente. Segundo ele, é muito importante que as pessoas não tenham uma visão limitada à área que desejam, é necessário ampliar os horizontes para que possa haver troca de ideais e debates, especialmente orientados por grandes professores.

– Em termos de informação, trago até hoje uma série de ideias e de conceitos que estão presentes na avaliação de diversos assuntos e que fazem parte da minha vida, da minha bagagem de conhecimento. 

Luiz Felipe Lampreia disse que ter a experiência da universidade é algo importante, mas que é preciso ser uma instituição de qualidade, já que um diploma, em si, não tem valor algum. “Só o fato de a pessoa ter um diploma não quer dizer nada, pode ser uma espécie de primeiro quesito, mas não é o suficiente”.

Lampreia ainda afirmou que considera a PUC uma grande universidade, com uma “série de segmentos maravilhosos” e que foi uma ótima experiência fazer parte dela enquanto aluno.

– A PUC não é uma universidade dogmática, não força o aluno a se definir como se fosse um partido. É um lugar de conhecimento universal, capaz de abrir a cabeça do estudante e habilitá-lo na área que escolher.