Em conferência na PUC-Rio, a professora do Departamento de Antropologia da USP Lilia Moritz Schwarcz analisou a diferença entre a perspectiva histórica e antropológica do tempo. A palestra Na pátina do tempo: relações de fronteira entre história e antropologia foi proferida na segunda-feira, 31/05, como parte do seminário Reflexões sobre o tempo: educação e história.
De acordo com a professora, que tem formação tanto de historiadora quanto de antropóloga, o tempo na antropologia consiste na diversidade de usos da história e de parentescos.
– Os fenômenos, para a história, são analisados como causa e consequência. Passado, presente e futuro nos orientam – afirmou. – Como historiadora, eu gostava de ver as coisas mudarem. Como antropóloga, eu gosto de ver as coisas se repetirem – concluiu.
Para Lilia, o conceito de tempo deve ser sempre entendido no plural, pois cada cultura utiliza uma concepção diferente. Nesse contexto, a professora citou, por exemplo, o romance A montanha mágica, de Thomas Mann, onde o autor afirma que o tempo é um senhor de muitas chaves.
– Não há povo que não pensa o tempo – comentou.
Segundo a professora, o pensador Claude Lévi-Strauss também contribuiu para uma concepção plural do tempo ao ressaltar, por exemplo, a importância do mito para a história ocidental. De acordo com o antropólogo, o mito assegura que o futuro será igual ao presente. Já a concepção histórica garante que o futuro é sempre diferente.
Segundo a professora Lilia Schwarcz, o tempo está relacionado com a experiência da infância. Em Massangana de Joaquim Nabuco, por exemplo, a época de criança é ressaltada por um sentimento de nostalgia, o que não ocorre no relato de Lima Barreto sobre o mesmo período da vida.
– A história, em Massangana, aparece ao revés, de trás para frente. Ele destaca a integração social na época da escravidão. A inclusão é defendida pela memória e pelo passado. O relato de Lima Barreto sobre a infância defende o contrário, um tempo que não foi e nunca existiu e não existe integração social – disse.
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