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Rio de Janeiro, 30 de dezembro de 2024


Campus

Redes sociais aumentam chance de vaga no mercado

Clarissa Pains - Do Portal

20/04/2010

 Clarissa Pains “Redes sociais são fundamentais para oferecer bem-estar e aumentam as chances de alcançar vaga no mercado de trabalho”, afirmou Eduardo Marques, professor de ciência política da USP, durante a aula inaugural do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio, no último dia 15. Marques, membro do Centro de Estudos da Metrópole da universidade paulista, discutiu sociabilidade e pobreza urbana com professores do departamento e cerca de 40 alunos da graduação – a maioria calouros – e da pós-graduação.

– O debate sobre a pobreza no Brasil é dominado por explicações econômicas. Só que esse tipo de análise só contempla a esfera do mercado, a compra e venda de força de trabalho. Mas a esfera do Estado e da sociabilidade também são responsáveis por dar o bem-estar necessário para que um indivíduo esteja fora da situação de pobreza – disse – Pesquisas recentes mostram que a maioria dos empregos são conseguidos por meio de contatos. Logo, até mesmo para chegar ao mercado de trabalho é preciso estabelecer relações.

Muitos pobres, segundo Marques, não conseguem citar 20 pessoas da sua esfera de sociabilidade. Ele contou que um orientando seu fez uma pesquisa sobre como o Estado destrói as redes sociais por meio da realocação de comunidades carentes. Esse aluno elaborou a rede social de 30 moradores de uma favela no início de sua remoção e depois de dois anos. A pesquisa demonstrou que vários vínculos foram destruídos nesse meio tempo, apesar de ocorrer a criação de outros. O ideal, para o professor, seria repetir a pesquisa daqui a 10 anos.

 Mauro Pimentel

Segundo ele, de 1990 a 2008, a população urbana pobre diminuiu 20%. O professor explicou que houve melhora nas condições de vida, mas com baixa mobilidade social. Quando a economia vai bem, o padrão de vida de todos – inclusive dos pobres – aumenta, mas não há mudança de classe. Marques afirmou que além de segregados territorialmente, os pobres estão menos conectados a outras pessoas.

– A rede média de indivíduos pobres de São Paulo tem 49 pessoas, enquanto a da classe média tem 96. Um outro dado é que a vizinhança é muito importante para os mais pobres, e praticamente não existe para a classe média – contou o professor, que tem um estudo sobre redes sociais em andamento.

De acordo com ele, a melhora das condições de vida está relacionada a diferentes tipos de classificação dos contatos (família, amigos, trabalho etc). Quanto mais pessoas de áreas diversas nós conhecemos, mais informações variadas chegam até nós.

– Ao longo da vida, as pessoas mais pobres jogam fora parte de suas redes, porque quem mora a três horas do local de trabalho e aproveita o domingo para dormir não consegue contatar ninguém. Para quem é muito pobre, até os contatos que chamamos de “fff” – fracos, fortuitos e frequentes –, aquelas pessoas para quem só se diz “oi” e “tchau”, são muito importantes porque são fontes de ajuda a baixo custo. Dar informações sobre oportunidades de emprego, por exemplo, não custa nada para quem dá, mas é essencial para quem recebe.

Segundo o professor, a rede é uma representação estática da dinâmica da sociabilidade. "Se não entendermos os mecanismos das redes, vamos continuar intervindo nos sintomas, e não nas causas da pobreza”, disse.