Uma câmera nas mãos e a inquietação de registrar uma história. Assim começaram as gravações de Entre a luz e a sombra, documentário premiado da cineasta e jornalista Luciana Burlamaqui. Em palestra na PUC-Rio, Luciana falou da rotina dos sete anos de filmagem e contou detalhes dos bastidores do filme protagonizado pelo rapper Dexter e seu parceiro Afro-X, dupla formada no presídio do Carandiru. Sophia Bisilliat, esposa de Dexter, também estrelou o filme.
À platéia de cerca de 40 alunos, a cineasta explicou a importância de "não ter pudores para quem quer documentar algo". Segundo ela, a intimidade adquirida entre os personagens é o que faz um documentário ficar mais natural:
– Não tem que ter vergonha de pedir para filmar. Tem que entrar, pedir licença e invadir a realidade alheia.
Luciana explicou que foi fundamental impor essa condição desde o início: “Ou eles (os personagens) me aceitavam com a câmera ou não rolava gravação”. Apesar de gravar "ao acaso", ela ressalvou: era um “acaso consciente”. O que em princípio nasceu como investigação do contexto da violência urbana virou uma investigação da alma humana.
– A ideia era fazer algo para tevê. Eu filmava pequenas histórias, mas o material ficou tão rico que eu senti a necessidade de criar elos entre elas – justificou a cineasta.
Luciana começou a filmar o documentário logo depois de ter voltado dos Estados Unidos, onde estagiou na área de edição. Inspirada nos ensinamentos do jornalista americano Jon Alpert, com quem trabalhou e "aprendeu a documentar", Luciana decidiu que precisava contar uma história. Começou a produzir o filme - imagem e áudio - sozinha. Como sempre gostou de reportagens policiais, apostou no assunto. Foi depois de conhecer o grupo de rap formado dentro do Carandiru que ela achou sua história.
– Eu descobri que eles saíam do presídio para fazer shows para outros presidiários. Achei essa história sensacional e decidi que eu tinha que contá-la.
Luciana passou a seguir os passos de Dexter, vocalista do grupo 509-E, e Sophia, voluntária do presídio que se casou com o rapper. Durante quatro anos ela dividiu sua rotina entre o trabalho numa ONG e as gravações do documentário. O cotidiano do casal, os shows do grupo, as visitas a outros presídios, tudo foi documentado. Ao fim da primeira etapa, foram mais três anos de edição até que no fim do ano passado sua história foi lançada.
Entre as perguntas dos estudantes da disciplina de Projeto de Filme I e exibições de trechos do documentário, Luciana ressaltou também a importância de atributos técnicos, como a edição e o áudio, para o sucesso de um filme:
– É muito importante saber editar, porque na hora de gravar você já pensa nesse momento. Cuidar do áudio também é importantíssimo. Ele é o guia nos filmes – contou a jornalista.
Aos futuros cineastas, ela deixou o recado:
– A única maneira de aprender melhor é saindo às ruas. É nela que estão as histórias que temos que contar. Assistir a bons filmes também é importante. Eles nos inspiram.
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