O debate sobre as missões de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) em países como Haiti e Afeganistão marcou a sessão de quarta-feira (14/04) à tarde no encontro Europe and Latin America in Peace Operations: Comparative Perspectives and Practices, na PUC-Rio. No colóquio internacional, organizado pelo Instituto de Relações Internacionais (IRI) da universidade, estudiosos e representantes das Forças Armadas analisaram temas como as dificuldades que os militares enfrentam nas operações de paz. O encontro reuniu cerca de 150 pessoas, dentre professores e estudantes, no Salão da Pastoral Anchieta.
A receita para alcançar a eficiência em uma organização multinacional, de acordo com o coronel Ulf Siverstedt, da Faculdade de Defesa da Suécia, é um intenso treinamento dos participantes antes e durante as operações. Ele explicou que, por falta de tempo, na maioria das vezes isso não é feito de forma adequada.
Segundo o Coronel Eldar Berli, das Forças Armadas da Noruega, embora a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) tenha o Afeganistão como prioridade, não atua no país com uma estratégia própria.
– A estratégia existente hoje foi elaborada na Casa Branca, nos Estados Unidos. Isso é muito conveniente para as nações porque quando dá tudo certo elas continuam no time que está vencendo. Se algo dá errado, colocam a culpa nos que elaboraram a estratégia – disse.
Ele afirmou ser complicada a relação entre militares e civis no Afeganistão: “Todos os militares querem coordenar, mas nenhum afegão quer ser coordenado”.
– Há, na verdade, muitos desafios. Mas, a Noruega ganhou do Brasil na primeira fase da Copa de 1998. Então tudo é possível – brincou Berli, arrancando risos da plateia.
De acordo com o professor Julián González Guyer, da Universidade da República, no Uruguai, a contribuição uruguaia à ONU é permeada por contradições. Para ele, o paradoxo básico da ajuda uruguaia a outros países é direcionar o foco para questões nacionais, do próprio Uruguai.
– Objetivos que parecem ser de dimensões mundiais são, na verdade, baseados em interesses domésticos. Eu gostava muito de contos de fada quando era criança, mas, agora, prefiro a realidade – provocou.
Há 10 anos, o Uruguai tem intensa participação em missões de paz. Porém, segundo Guyer, há apenas um ano o governo “se deu conta” de que esse tipo de operação não é somente um assunto militar, mas também político. O especialista resssaltou que os processos de integração na América Latina geralmente têm fins comerciais, por isso o continente não é bem-sucedido nessa área. O Uruguai, por exemplo, ainda não tem representação diplomática no Haiti.
Para Ricardo Benavente, professor da Academia Nacional de Estudos Políticos e Estratégicos (Anepe), da Marinha do Chile, a Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti) tem obtido resultados positivos, porém as ações no Haiti requerem esforços que vão além da esfera da segurança.
– As respostas para os dilemas da missão de paz devem vir da arquitetura multilateral da ONU – afirmou.
Segundo Benavente, a atual experiência chilena em solo haitiano foca na cooperação em torno das questões civis e não mais apenas na observação militar e no desenvolvimento de unidades especializadas. O professor afirmou que o documento elaborado pelo governo do Haiti sobre a avaliação das necessidades de ajuda após o terremoto de janeiro, o Post Disaster Needs Assessment (PDNA), tem papel-chave na reconstrução do país caribenho.
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