O encanto pela arte e literatura foi o motivo para a criação do projeto Livro Falado, que inicia no dia 6 de maio sua oficina na PUC-Rio. Em parceria com a Cátedra Unesco de Leitura, o curso pretende incentivar a leitura para cegos e promover a integração social.
O trabalho da professora AnaLu Palma teve início com o contato com deficientes visuais depois do mestrado em Teatro, feito na Unirio. Percebeu a escassez de material em áudio, principalmente em livros técnicos de teatro para aqueles deficientes visuais que queriam perseguir esse sonho. Por isso, em 2000, a partir da parceria com a Academia Brasileira de Letras (ABL) e aprovação do então presidente, Ivan Junqueira, foi dado início ao projeto Livro Falado.
Sozinha, AnaLu chegou a gravar e distribuir cerca de 42 mil áudios por várias bibliotecas pelo Brasil, com a coleção Voz da Academia. No entanto, por considerar “muito trabalho para uma pessoa só”, decidiu montar uma oficina que capacitasse outros a ajudarem.
Em 2003, deu início à oficina no Sesc Rio, com a utilização, na época, de fitas cassete. Foram ministradas as primeiras aulas sobre como gravar, o tom da voz e outras questões técnicas. De acordo com AnaLu, não se trata de um audiolivro. No livro falado, não há dramatizações ou efeitos sonoros. Além de contar a história da obra, é preciso informar, por exemplo, os textos de capa e contracapa.
– É como se uma pessoa estivesse lendo para um deficiente pessoalmente – comparou.
A paixão pelos livros acabou sendo o mesmo fator de motivação para os alunos. Segundo Christiane Senra, ex-aluna de filosofia da PUC-Rio, seu sonho era ler para cegos. Assim que completou 20 anos, procurou o Instituto Benjamin Constant, conhecido por ser uma instituição voltada para a educação de deficientes visuais. Porém, eles não aceitavam voluntários sem capacitação e não ofereciam cursos que capacitassem voluntários.
– Fiquei extremamente frustrada – confessou a artista plástica.
E “através do destino”, em um e-mail de divulgação do Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF), Christiane descobriu o curso de capacitação de ledores.
– Comecei no dia 15 de março, um pouco receosa, mas a AnaLu foi muito acolhedora e é muito capacitada. Toda a turma se doa muito, tem gente que vem de Caxias para ter aula. E o melhor de tudo é que além de sermos voluntários, isso é cultura – frisou.
Outros alunos também estavam no curso para cumprir uma promessa. Foi o caso da aposentada Cleudes Werneck, que fez o curso em 2006 na Casa Rui Barbosa.
– Antes mesmo do curso com a AnaLu, já tinha feito um de capacitação. Porém a conheci em 2004, quando fui gravar em um estúdio na Tijuca uma história para o concurso Talentos da Maturidade. O técnico achou que a minha leitura era muito boa e acabou entregando meu material a AnaLu. Acabei assim por fazer o curso dela. No final, ela sorteou livros e eu ganhei um exemplar de Livro, um encontro com Lydia Bojunga Nunes. Me identifiquei muito com a obra e por causa disso prometi gravá-la, e cá estou eu.
De acordo com a contadora de histórias, apesar de já ter se especializado como ledora, ela pôde aprender no curso como usar o computador para gravação e ainda aprimorar a técnica, já que havia um deficiente nas aulas que funcionava como “termômetro”.
– É um tanto coisa do destino, tenho degeneração ocular e sei como isso vai terminar, mas tento exercer a minha experiência de vida da melhor forma possível – contou Cleudes.
Assim como suas alunas, AnaLu Palma pretende não parar com seu projeto.
– Lancei esse ano o site oficial com todas as obras que já gravamos, disponibilizadas para o mundo inteiro. E agora estou iniciando o contato com as embaixadas de paises lusófonos. E talvez haja a possibilidade de treinar pessoas nesses países e oferecer o mesmo curso lá – revelou.
A oficina Livro Falado começará no dia 6 de maio e se extenderá por 12 semanas, sempre as quintas-feiras, das 14h às 17h. Terá uma carga horária de 36 horas. A inscrição pode ser feita até o primeiro dia do curso, na Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio. O preço é de R$300, podendo ser pago em 3 parcelas, no cheque ou mensalmente em dinheiro. Mais informações pelo telefone 3527-1961.
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