A educação só muda o mundo quando se une à cultura e à arte, analisou o diretor do Departamento de Letras da PUC-Rio, Júlio Diniz. Em conferência inserida no ciclo Jornada Educação Século XXI, hoje (26/03) no RDC, o professor discutiu, entre outros temas, uma possível pedagogia da leitura, a influência da mídia na literatura e sua relação com cinema, música etc.
O educador é um artista, disse o diretor para a plateia composta basicamente por educadores. Ele citou o filósofo alemão Friedrich Nietzsche ao afirmar que a figura de um professor é como a de um fariseu, que professa e repete uma informação preexistente, apenas fixando conteúdo. Já o educador consegue ver além de uma aula bem planejada.
– A arte entra no processo da educação porque transforma a escola num lugar lúdico, inventivo. Arte e leitura são invenção e quanto mais distantes da tentativa de cópia da realidade estiverem, melhor. Nunca pergunte ao aluno “o que o autor quis dizer?”. Nem o próprio autor sabe. E, se vocês descobrirem, por favor, contem a ele – provocou Diniz – Uma obra literária nunca é fechada, não há uma interpretação apenas. O mais interessante é a pluralidade.
O diretor do Departamento de Letras da PUC-Rio afirmou que a leitura é um processo muito mais amplo do que a escola atualmente oferece. Segundo ele, uma pessoa não pode ser definida pela quantidade de livros que lê.
– A leitura não salva ninguém, já que em si não é boa ou ruim, mas uma ferramenta de transformação. Pode parecer estranho um educador dizer isso, mas, na verdade, a leitura é até mesmo capaz de matar. No livro O nome da rosa, de Umberto Eco, ela mata literalmente. Nessa obra, da mesma maneira que os personagens aprendem com o livro, morrem envenenados por ele.
Para Diniz, a arte de educar está ameaçada porque o ofício do professor se enquadra em tudo o que a sociedade capitalista quer: mão-de-obra barata, extensa jornada de trabalho, serviço burocrático. Ele considera difícil que esse profissional consiga se comunicar com o jovem do século XXI.
– Os professores querem dar pílulas de Machado de Assis aos alunos, empurrar Chico Buarque garganta abaixo. Temos que parar com a ideia nostálgica de que os jovens têm que deixar o computador e pegar o livro. Há uma quantidade enorme de informações que chega até eles por meio de aparelhos nanicos. Esse novo método de conhecimento deve ser potencializado, não censurado.
Citando o pensador francês Roland Barthes, Diniz afirmou que “tão fascista quanto impedir alguém de falar é obrigar alguém a falar”. Os educadores, segundo ele, não devem exigir interpretações dos alunos, mas buscar entender seus gostos, suas memórias e histórias de vida.
– Tudo tem seu tempo. Ninguém vai ler James Joyce aos 10 anos. Senão não vai ler mais nada – brincou o diretor – Não se pode condenar um aluno porque ele gosta de determinado estilo de música ou literatura, por exemplo. Senão vamos afundar o pé no autoritarismo, que já é marca da escola brasileira. Sou a favor de uma sociedade multicultural e multidiscursiva.
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