A escola não deve ensinar cidadania só na teoria. Para se tornar um cidadão pleno, o aluno tem de vivenciá-la no dia a dia, lembrou Roberto DaMatta na palestra de abertura da Jornada Educação Século XXI, nesta segunda-feira, no auditório do RDC. O antropólogo esclareceu o papel da escola na sociedade contemporânea e condenou o "comportamento do brasileiro em geral": a falta de cidadania no dia a dia – observada, por exemplo, em ações agressivas no trânsito:
– O professor é o símbolo do conhecimento e desperta sentimentos de simpatia ou antipatia nos alunos. Ele tem que fazer o aluno, por exemplo, respeitar a fila. Entrar em uma fila e receber o pão, mesmo ele sendo o último dessa fila. O trabalho do professor é cotidiano, como a construção da democracia.
DaMatta afirmou que esse comportamento egoísta disseminado na sociedade resulta da formação do indivíduo. Para ele, a criança é estimada como um "ser especial" e, quando se torna adulta, entra em choque com outros indivíduos – que também foram criados assim.
– Esse tipo de formação faz bem para a nossa autoestima, mas cria problemas. A responsabilidade dos pais e professores é avassaladora, pois os meninos não foram chamados a viver – avalia.
DaMatta explicou à plateia formada por professores e estudantes que o ambiente harmônico da casa – "o lugar onde o indivíduo está na segurança das relações pessoalizadas – contrasta com a rua, onde "impera a relação impessoal e desarmônica". Na visão do antropólogo, os homens são atores de papéis sociais que já existiam antes de nascerem e continuarão a existir com as novas gerações. Papéis diversos, destacou ele: criança, adolescente, adulto, carioca, brasileiro, sulamericano, ocidental, pedestre, motorista, passageiro. Para DaMatta, este é o principal problema na relação de pais e filhos: antes de a criança nascer, o pai projeta os papéis sociais que a nova pessoa exercerá, mas esses são apresentados de acordo com as circunstâncias de vida.
– Todos os papéis são difíceis de desempenhar. Todo papel implica um ator, que é renovado de geração em geração. São os homens que invetam os papéis, mas nem sempre conseguem desempenhá-los – concluiu o palestrante.
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