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Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 2024


Campus

Desmistificando o autor dos avisos acadêmicos virtuais

Lais Botelho - Do Portal

29/03/2011

Laís Botelho

Spam: mensagem eletrônica não solicitada enviada em massa. Geralmente tem caráter apelativo ou  inconveniente. Apesar de se aproximarem, os emails encaminhados com frequência pelo diretor da DAR e professor associado de engenharia mecânica, Washington Braga, não se encaixam na definição. Informativos, eles se traduzem em lembranças acadêmicas, avisos e até em uma luz no fim do túnel, para os mais desavisados. Mas quem seria esse autor?

- Acho que ele tem 1,80m, cabelos castanhos claros e veste sempre camisa de botão de manga curta para dentro da calça social com cinto e sapatos marrons - imagina Victor Noronha, aluno de direito.

Mariana Santos, de Administração, aposta no senso de humor:

- Pelo jeito relativamente informal dos emails, acredito que ele seja um ótimo contador de piadas. No auge dos seus 50 anos, deve esbanjar simpatia e ter uma família muito feliz.

Já Rodrigo Caruso, de comunicação, imagina um senhor mais tradicional, muito atarefado, que se esconde atrás de uma pilha de papéis.

Essa figura tão presente virtualmente no dia a dia dos alunos da PUC faz com que a curiosidade de muitos deles atravesse os pilotis. Alunos de diversos cursos imaginam como seriam suas características.

“Eu não sou um cara formal”, diz Washington. Ele garante que só possuiu um terno na vida toda, exceto o do casamento. Admite que não gosta de ser chamado de "senhor" e o vocativo “tio” o deixa extremamente chateado. "Para mim, tio é uma coisa e não qualquer coisa", argumenta.

O professor acredita que o seu perfil contribiu para desempenhar as múltiplas funções na universidade: controlar uma equipe de 30 funcionários no DAR, dar aulas de Engenharia Mecânica e orientar e resolver problemas de 13 mil estudantes durante todo o ano letivo. Ele reconhece que o contato virtual pode gerar ruídos: 

- Às vezes, eu consigo responder no tom que você entende; às vezes não. Eu penso A, falo B, você ouve C, entende D, responde E. Uma palavrinha a mais, outra a menos, uma vírgula, um aposto, ou a falta daquelas carinhas idiotas, podem trazer um ruído. No fundo, parece que é fenício discutindo com japonês. Email não tem o olho no olho. Nunca ninguém na história desse país conseguiu ser unanimidade, e não vai ser agora. Os alunos devem ser bem atendidos. Mas, às vezes, a gente erra e o negócio é pedir desculpas.

Apesar dos eventuais problemas na comunicação, Washington considera imprescindíveis os alertas enviados aos alunos. “É uma forma de fazer o papel da universidade, ajudar”, enfatiza. Segundo ele, já houve casos de jubilamento por falta de informação. E brinca ao falar sobre a quantidade de emails:

- Meus filhos me sinalizam para evitar que eu mande email todo dia. Eu raramente mando para todo mundo, porque assim eu apanho deles. Sou comedido para usar a mala direta.

Ainda que afirme ser 95% diretor da DAR e 5% professor, Washington é reconhecido tanto pelo bom humor, quanto pelo rirgor nas notas. "Apesar das piadinhas, ele sabe conduzir a turma. É animado e competente", resume a ex-aluna Lívia Rigueiral. Já Helena Souza tem outras lembranças marcantes:

- Suas provas eram muito difíceis. Ele é bem rigoroso e dá muitas notas baixas.

Mas há quem discorde:

- Ele não era assim tão rigoroso. Uma vez, aumentou a nota da turma toda, pois todos tinham ido mal na prova - conta Marcelo Souza.

O professor confirma os comentários: “Eu acho que cobro dos alunos, sim. Às vezes dá certo, às vezes não”. Expulsar ao toque do celular, fechar a porta meia hora após o início da aula e não dar segunda chamada são umas das medidas que comprovam o seu rigor. Washington também se "incomoda profundamente com as colas":

- É um ato progressivo e desrespeitoso com os alunos que estudaram. Se não houver um controle, vira uma bagunça.

A cobrança, esclecere ele, não significa falta de espirituosidade nas aulas:

- Eu mexo com todo mundo, falo bobagens. Se o Flamengo perde, eu aproveito para brincar comos alunos. Descobri que em um ambiente descontraído, as sinapses nervosas são 40 vezes mais rápidas do que o normal - conta - Há os alunos que adoram minha aula e os que não gostam. É a história da minha vida. Detesto ser unanimidade. 

A combinação entre perfeccionismo e descontração transforma-se numa receita para o èxito profissional na sala de aula e na DAR. A secretária Renata Montalvão diz que Washinton é "tranquilo e bem humorado". Mauro Esperansa, coordenador de controle e automação e também professor de engenharia mecânica, confirma:

- Pessoa tranquila, competente. Administra de forma honesta e possui um bom relacionamento profissional e pessoal.

Professor associado do curso de engenharia mecânica, diretor da DAR ou simplesmente Washington Braga? Para ele, são "pessoas" diferentes que convivem harmoniosamente e não devem se misturar. Ele se diverte quanto aos mitos criados:

- É legal. Imagina idealizar uma pessoa de um jeito e depois ver a minha fotografia. Será uma decepção. Não importa se eu existo, ou se eu sou um avatar. É tão gozada essa situação, vamos deixar assim. Deixa aí como lenda urbana - brinca.