O jornalista e escritor Zuenir Ventura, ou “Mestre Zu”, como é conhecido, contou curiosidades de sua vida e carreira em mais um encontro do ciclo Operação Lei Tura, promovido pela Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio, na noite de ontem (11/03). Ventura, que, quando jovem, não queria ser jornalista e admite não gostar de escrever, considera hoje a profissão “uma segunda pele”. “Se raspar [a pele], não sai sangue, sai tinta de jornal”, brincou.
Ele sonhava em ser professor, se formou em Letras e se tornou jornalista por acaso. Trabalhava como arquivista na Tribuna da Imprensa e, no dia em que Albert Camus morreu, ele era o único na redação do jornal que conhecia bem o autor. Por isso, Ventura foi chamado para escrever o obituário, que “fez certo sucesso” e lhe rendeu fama de “gênio”, segundo ele.
– O jornalismo pode ser a melhor ou a pior profissão do mundo. Não é a melhor maneira de ficar rico, mas é a melhor maneira de ter prazer – disse.
Aos 78 anos, Ventura afirmou ter amigos de 16 a 102 anos – como o arquiteto Oscar Niemeyer. Para os jovens, ele aconselhou valorizarem o presente: “Eu não vivo no passado, o passado vive em mim”, ensinou. Não se arrisca a fazer projeções sobre o futuro, pois, de acordo com ele, previsões são sempre “furadas”. “Nós, jornalistas, somos os grandes profetas do passado. Sabemos tudo o que já aconteceu, mas estamos sempre ‘quebrando a cara’”, disse Ventura.
A carreira de escritor, assim como a de jornalista, também começou por acaso, mas, segundo ele, isso não diminui sua paixão pelas duas profissões. Um de seus livros mais conhecidos, 1968 - O ano que não terminou, por exemplo, não foi planejado:
– Na minha casa, quem manda e resolve as coisas é a Mary [Akiersztein, esposa e também jornalista]. Eu escrevi 1968... porque ela mandou – brincou Ventura – A partir daí, vieram outras ideias e acabei virando escritor, mas, antes, nunca havia cogitado essa possibilidade. Queria dar aulas e passar a vida toda lendo. Escrever, para mim, é uma tarefa um pouco penosa.
Embora não tenha estudado na PUC-Rio, ele cultiva laços com a instituição. Além de o filho ter se formado – também jornalista – na universidade, Ventura foi aluno de Cleonice Berardinelli, 94 anos, professora da PUC-Rio e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). Foi ele quem lhe deu o apelido de “divina Cleo”, pelo qual a professora é conhecida até hoje por seus alunos. “Ela é uma das pessoas mais interessantes que já conheci”, afirmou.
Na faculdade, foi Cleonice quem lhe mostrou o encanto de Os Lusíadas, que ele detestava nos tempos de colégio, em Friburgo. “Eu tinha que fazer análise sintática do livro, procurar o sujeito oculto. Não sou detetive”, brincou o escritor. “Mais tarde, por causa da divina Cleo, este se tornou um dos meus textos preferidos. Por trás de um leitor, há sempre um bom professor”.
Quanto à literatura dedicada a sagas, como Harry Potter e Crepúsculo, enormes sucessos entre os jovens, Zuenir Ventura afirmou que esse é “um fenômeno a ser estudado”:
– É curioso porque, no século XXI, com tanta tecnologia, esse tema vampiresco me parece atrasado. Porém, qualquer leitura faz bem.
Na tentativa de entender melhor a cabeça dos jovens, no entanto, ele escreveu o livro 1968 - O que fizemos de nós, 40 anos depois da publicação do primeiro 1968... Ele conta que a ida a uma rave, para escrever o capítulo A primeira rave a gente nunca esquece, lhe rendeu grandes surpresas:
– Achava que seria um mico, que todos iriam se escandalizar, mas ninguém “deu bola”. Eu tinha um estereótipo dos jovens: alienados, despreocupados. No entanto, me dei conta de que estamos fazendo com os jovens de hoje o mesmo que fizeram com a geração de 1960.
O ciclo de palestras Operação Lei Tura terá como último convidado, no dia 12, o também jornalista e escritor Nelson Motta. O encontro começa às 17h, no auditório do CTC, no décimo segundo andar do Edifício Cardeal Leme.
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