O terceiro encontro do ciclo de palestras Operação Lei Tura, da Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio, proporcionou ontem (10/03) aos alunos da universidade uma conversa bem humorada com o autor de O menino e as palavras, o escritor Ignácio de Loyola Brandão. Jornalista de formação, Loyola Brandão se recusou a chamar o encontro de palestra e logo avisou aos estudantes.
– Quem quer uma palestra pode ir embora, porque não sei dar uma – disse brincando com o público de cerca de 40 pessoas.
Sua fala, que teve duração de cerca de duas horas, no auditório do CTC (12º andar do Prédio Cardeal Leme), tratou principalmente da infância do autor, na pequena cidade de Araraquara, a 275 km de São Paulo. Emocionado, o cronista do Estadão contou duas das mais marcantes experiências vividas na cidade e que acabaram por fazê-lo escolher a arte de escrever.
Segundo Loyola Brandão, sua vontade veio cedo, observando o quanto seu pai, Antônio Maria Brandão, ferroviário e dono de uma ampla biblioteca, "de 900 livros", lia e escrevia sermões para grandes comemorações da igreja local.
– Eu ficava maravilhado como todo mundo prestava atenção, entendia, e gostava – contou.
O escritor contou que a primeira vez que foi admirado como autor foi em uma aula de redação, quando a professora pediu aos alunos que reescrevessem o conto da Branca de Neve.
– Foi especial para mim, porque sempre gostei da história da Branca de Neve, mas tinha raiva dos anões que sempre faziam ela de escrava, mesmo trabalhando em uma mina de diamantes e serem ricos – criticou com humor.
Ao corrigir o trabalho, a professora ficou maravilhada e decidiu que o conto deveria ser lido em sala de aula. Também propôs que os próprios alunos dessem nota ao texto, que terminava com a Branca de Neve envenenando os anões por acidente, depois que eles comeram uma sopa de cogumelos.
– Foi engraçado. Leram a minha história, e todos os alunos começaram a comentar pelo colégio a história que havia escrito. Me senti admirado, amado porque eles ficaram pedindo para ler de novo – lembrou.
O segundo fator decisivo para o escritor foi o último exame do colégio. De acordo com Loyola Brandão, ele precisava de 9,7 em um teste oral de matemática. Então o professor, chamado Ulisses, quis fazer um acordo.”Ou tudo ou nada”, ele lhe disse.
– Aceitei, afinal o que tinha a perder? Lembro que ele escreveu a equação no quadro, e eu comecei a inventar uma resposta. Na hora que ia responder, umas meninas lindas entraram no ginásio onde estava fazendo a prova, eu não podia fazer feio – narrou o autor.
Para sua surpresa, ao terminar, ele ganhou a nota 10. Mas indignado com o professor, o questionou:
– Mas como eu tinha tirado 10, com uma invenção? O professor me respondeu dizendo que tinha sido 10 pela loucura, pela imaginação. E ainda falou para ir embora que o meu mundo era o da fantasia.
Depois de narrar histórias sobre sua infância, adolescência e a maioridade, Ignácio de Loyola Brandão terminou dando dicas, usadas por ele para ter assuntos sobre o que escrever.
– Desde os 15 anos, ando com uma caderneta para anotar o que vêm à mente, para escrever algo inusitado que aconteceu. É como Lavoisier fala: "No mundo nada se perde tudo se transforma". Acho que por isso nunca tive necessidade de escrever sobre a falta de inspiração – relatou o autor.
Outra dica foi ler e ter bastante vocabulário.
– Eu li muito enciclopédias. Vocês sabem o que é crosadura? É uma espécie de rato da Europa. Quanto mais sinônimos vocês sabem melhor vocês vão escrever – terminou.
O ciclo de palestras Operação Lei Tura ainda terá como convidados Zuenir Ventura, no dia 11, e Nelson Motta, no dia 12. Ambos os encontros começam às 17h, no auditório do CTC, no décimo segundo andar do Prédio Cardeal Leme.
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