Bruno Alfano - Do Portal
05/03/2010
A falta de renovação das águas da Lagoa Rodrigues de Freitas aliada às mudanças climáticas foram as responsáveis pela proliferação de algas que provavelmente mataram 90 toneladas de peixes, na sexta-feira passada. Assim diagnosticou a secretária estadual do Meio Ambiente, Marilene Ramos, em palestra na PUC-Rio, nesta quinta-feira. Formada basicamente por calouros do Centro Técnico Científico (CTC), a plateia reproduzia a ansiedade do carioca por explicações sobre a mortandade.
- A hipótese mais provável é a de que as algas foram as responsáveis. Não há evidência técnica de que o responsável pela mortandade tenha sido o esgoto lançado na lagoa - esclarece a secretária.
Ao diagnóstico provável do cobertor de peixes mortos no cartão postal carioca, Marilene acrescentou uma esperança: o projeto de renovação da água, "parceria" entre o governo estadual e o empresário Eike Batista. Orçada em R$ 28 milhões, iniciativa prevê a despoluição da Lagoa em 30 meses. Tubos subterrâneos levariam e trariam as águas do mar para a Rodrigo de Freitas – vice-versa – de acordo com o nível da maré. Ao renovar as águas, a medida supostamente inibirá a formação de algas e, assim, o risco de mortandade de peixes.
O pequeno canal do Jardim de Alah só consegue renovar 3% das águas da Lagoa. Combinada com os "nutrientes" carregados pelas chuvas, a renovação precária favorece a proliferação de algas marinhas. Parte delas produz uma substância nociva aos peixes, o que pode ter causado a recente mortandade, apontam estudos do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). De acordo com as pesquisas, os níveis de oxigênio mantiveram-se equilibrados, o que deslocou a suspeita principal para as algas.
Na palestra, Marilene Ramos também explicou as ações para mitigar os efeitos dos desastres em Angra dos Reis e na Baixada Fluminense. Ela observou que, por enquanto, a prioridade ainda é a remoção de famílias em áreas afetadas, respectivamente, por desabamentos e alagamentos, no início do ano. Em seguida, os esforços serão concentrados em obras de prevenção.
- Estamos investindo na Baixada desde que entrei. A região afetada ainda corre o risco de alagamento em caso de chuva forte. Precisamos tirar as famílias de lá. E só um programa que subsidia moradias pode resolver isso.
A secretária lamentou que, em Angra, os sinais do desastre são foram convertidos em precauções:
- Os moradores que ocupavam áreas de risco do Morro do Carioca, em Angra, já foram retirados. Mas foi preciso uma tragédia para o poder público ter força para retirá-los. Eu trabalhei 20 anos na prefeitura de Angra de Reis, só que não havia onde colocar aquelas pessoas. Daí a necessidade de um projeto de habitação.
No começo do ano, o estado do Rio de Janeiro sofreu com enchentes e desmoronamentos, principalmente, nas regiões de Angra dos Reis e da Baixada Fluminense. Juntas, contabilizaram 70 mortes. As obras de recuperação das áreas atingidas custarão aos cofres públicos R$ 800 milhões.
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