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Rio de Janeiro, 13 de outubro de 2024


Meio Ambiente

"Mares têm ilhas de lixo, e nenhum país é responsável"

Barbara Chieregate e Marina Ferreira - aplicativo - Do Portal

23/11/2015

Dedicada à preservação da água, a expedição Race For Water Odyssey, que chegou ao Rio no início do mês, foi a primeira a fazer o mapeamento global das ilhas de lixo espalhadas pelos oceanos, e busca montar o primeiro relatório global sobre a poluição por plástico. Cerca de 80% da poluição marítima é causada por resíduos de plástico, e um milhão de aves morrem por ano pela ingestão desses materiais. Existem cinco vórtices de lixo identificados ao redor do mundo, e das 250 milhões de toneladas de plástico produzidas por ano, 10% têm o mar como destino final. A iniciativa suíça gerou a campanha Mar sem Lixo. Mar da Gente, feita pela Swissnex Brasil em parceria com a Swissando. A diretora executiva da Swissnex Brasil, Malin Borg, falou ao Portal sobre a iniciativa.

Portal: Como é o trabalho que realizam com a Swissnex no Brasil?      
Malin Borg: A Swissnex Brasil é uma iniciativa do governo suíço, como um consulado científico. Conectamos Suíça e Brasil nas áreas de ciência, arte, inovação e educação. Fazemos parcerias, projetos específicos, como o “Mar de Lixo”, mas também menores, como juntar pesquisadores suíços e brasileiros em eventos públicos. Estamos aqui desde abril de 2014, e é o sexto escritório do mundo da Rede Swissnex. A ideia é sempre ficar em um polo de criatividade, de inovação, como o Rio de Janeiro, não só dentro de uma embaixada.

Portal: O que é a Race for Water Odyssey?       
Malin Borg: A Race for Water é uma fundação suíça que visa a proteger a água. A primeira iniciativa foi a Race for Water Odyssey, que começou em março, em Bordeaux, na França, em uma embarcação que fazia a volta ao mundo, passando pelas cinco ilhas de lixo. Ele teve um acidente e virou, quebrou tanto que não pôde vir ao Rio. Mas a equipe está vindo mesmo assim, e as pesquisas nessas ilhas de lixo continuam. É o primeiro levantamento global das ilhas de lixo do mundo. Há anos haviam feito de uma ou outra, mas nunca de todas elas. E foram mapeadas de uma forma científica constante, com um sistema. Eles se lançaram ao mar em março e estavam até agora. Não queremos passar um mês falando sobre lixo marítimo e parar por aí; queremos criar parcerias sustentáveis.

Portal: O que os cientistas descobriram ao fim do mapeamento?      
Malin Borg:
Nas três primeiras paradas, eles encontraram uma quantidade enorme de plástico que forma esse volume de lixo. Alguns resultados preliminares mostram que em Azores e Bermudas, por exemplo, que são ilhas remotas, de difícil acesso, sem indústrias, encontraram um lixo que era 80% plástico e não produzido no local. Existia também o lixo da população local, mas em meio ao que encontraram, existiam muitos fragmentos de plástico. Isso mostra que o lixo rodou o oceano, bateu em ondas, quebrou, sofreu ação do sol – foi se fragmentando e, logo, está rodando o mundo.

Portal: Como surgiu a campanha “Mar sem Lixo. Mar da Gente”?

Malin Borg: Soubemos da Race for Water Odyssey há um ano e, já que o Rio de Janeiro seria a última parada, quisemos fazer uma campanha em volta disso. O Rio não fica dentro dessas correntes, então era planejado vir aqui para conversar com os parceiros, com a população, sensibilizar as pessoas desse problema do plástico nos oceanos. Então decidimos, junto com a iniciativa Swissando, uma campanha de comunicação do governo suíço, montar uma campanha para acolher a equipe da Race. Assim nasceu a “Mar sem Lixo. Mar da Gente”, juntando parceiros locais como o Museu do Amanhã, a Biblioteca Parque Estadual e o Projeto Grael.

Portal: Como é a campanha?

Malin Borg: Haverá seminários na Biblioteca Parque Estadual. Um será mais aberto ao público, em parceria com Museu do Amanhã e com o Viva Rio, e o assunto principal é o futuro dos oceanos. Vamos juntar pessoas do governo, universidades, ONGs, e o debate será em torno do lixo marinho no contexto brasileiro. No segundo dia o foco será mais científico: vamos juntar cientistas brasileiros e suíços e fazer workshops à tarde. Eles serão um tipo de experimento de pensamento que vai propor reflexões sobre a hipótese de o oceano ter apenas um dono. Eles discutirão como seria gerida a poluição se um governo fosse o dono dos oceanos todos, e de quem seria a responsabilidade. Haverá também hipóteses de uma empresa ser dona dos oceanos, e logo, tomar conta de todo o lixo nele.

Depois vamos resumir os resultados e tentar levantar algumas novas ideias e soluções, já que justamente o problema não é de ninguém. Nenhum país se sente responsável por esse lixo todo nos oceanos. Como o lixo vai de um lugar para o outro, ninguém é responsável pela coleta, e quem mais sofre são as pequenas ilhas que ficam com as costas cheias de restos de plástico.

A abertura é uma exposição sobre a Race, com duas esculturas de lixo marinho, da Baía de Guanabara. Também estamos fazendo uma corrida de stand up paddle em Niterói, na qual quem ganha não é o mais rápido, e sim quem coleta mais lixo. A ideia é aproximar a equipe, a Suíça com os pesquisadores brasileiros e o Brasil.

Portal: Como foi o workshop sobre o método sustentável de cradle to cradle?             
Malin Borg:
Cradle to cradle é o conceito de fazer o design de um produto já pensando na vida posterior dele, um design sustentável, circular. A expedição identificou que um dos lixos mais encontrados nessas grandes ilhas de lixo são fragmentos de escovas de dentes. Trabalhamos em parceria com uma empresa de escovas de dente suíça, a Curaprox, e juntamos designers, arquitetos e engenheiros do IED e fizemos um workshop com o objetivo de produzir o protótipo de uma escova cradle to cradle. É muito perigoso porque vira microlixo rapidamente e os peixes ingerem esse material, assim como nós também consumimos, em última análise. Uma designer, professora da Universidade de Artes de Zurique, e um representante do EPEA Brasil, órgão que certifica produtos de cradle-to-cradle, ministraram o workshop. Os resultados vão ser expostos no IED durante a Semana de Design Rio.  

Portal: Como é a relação da Swissnex com universidades?       
Malin Borg: Já realizamos um trabalho na PUC em parceria com o Instituto Genesis que foi bem produtivo. No momento trabalhamos com uma universidade na Suíça com foco na inovação, e eles querem fazer um intercâmbio, um curso de verão, aqui no Brasil com uma universidade parceira. Em dezembro vamos à PUC justamente para conversar sobre a possibilidade de fazer uma escola de verão em inovação. 

Programação da Campanha

23/11 e 24/11 – Workshop Cradle to Cradle / IED Rio 5/11 – Apresentação do projeto Race for Water / Espaço Cultural CCR Barcas, Praça XV 5/11 – Resultado do Workshop Cradle to Cradle (Semana Design Rio) / IED Rio 7/11 – Competição de Stand-Up Paddle com coleta de lixo / Praia de Itaipu, Niterói 07/11 – Flupp: Mesa redonda “Navegar é preciso”, com Marco Simeoni (CEO da R4WO) e Amyr Klink / Fatec – Chapéu Mangueira/Babilônia 9/11 – Palestras educativas para crianças do Projeto Grael e passeio de barco – Praia de Jurujuba 10/11 e 11/11 – Conferência “Preservando nossos oceanos: uma corrida contra o tempo” – Biblioteca Parque Estadual Vão ser expostas esculturas feitas pelo Departamento de Belas Artes da UFRJ, fotos de todo o roteiro da Race ao redor do mundo e vídeos da experiência da equipe. Mais informações: http://www.swissnexbrazil.org/mardagente/