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Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 2024


Campus

Professora da PUC-Rio é a nova imortal da ABL

Clarissa Pains e Carolina Frossard - Do Portal

17/12/2009

 Arquivo pessoal

Ela tem 93 anos de idade, 65 de magistério e é a maior especialista em literatura portuguesa do Brasil. A professora da PUC-Rio Cleonice Berardinelli, “Dona Cleo” ou “Divina Cleo”, como é conhecida entre colegas e alunos, foi eleita na tarde desta quarta-feira, 16, para ocupar a cadeira nº 8 da Academia Brasileira de Letras, em substituição ao escritor Antonio Olinto, falecido em setembro deste ano. Ao tentar definir a importância deste momento, ela reproduziu uma frase que lhe disseram e da qual gostou: “este é o reconhecimento de uma vida dedicada às letras”.

O diretor do Departamento de Letras da PUC-Rio, Júlio César Diniz, considera “mais do que justo e merecido” o ingresso na ABL da professora que, só na universidade católica, leciona há 47 anos:

– É o reconhecimento do seu talento e trabalho. Eu mesmo fui seu aluno no mestrado e no doutorado. É uma festa sermos representados por ela na Academia.

Para o reitor da PUC-Rio, Padre Jesus Hortal Sánchez, S.J., é uma satisfação muito grande uma professora da universidade ser eleita uma imortal:

– Ela é uma figura realmente importante na crítica literária brasileira. É um prêmio concedido a um trabalho muito bem feito. A professora continua a dar aulas com entusiasmo e a empolgar os seus alunos.

O próprio presidente da ABL, Cícero Sandroni, ligou ontem para o celular de Dona Cleo e lhe disse que ela havia vencido a votação por 30 votos a nove. O resultado já era esperado: “ao longo do processo, me diziam que já poderia comemorar”, contou a professora. Ela estava em casa aguardando um carro da Academia que iria buscá-la para uma cerimônia, quando concedeu uma entrevista por telefone. Segundo ela, “agora, o trabalho aumenta”.

– Entrar para a ABL significa o ponto alto da minha carreira.

Embora a data da posse seja marcada somente em janeiro, a mais nova imortal já tem de fato mais trabalhos e compromissos, por enquanto mais prestigiosos que cansativos:

– Ontem, saí da Academia só à noite. Fiquei de pé um longo tempo recebendo os abraços. Estavam lá amigos, quase todos os meus alunos.

Também professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro e acadêmica correspondente brasileira da Academia das Ciências de Lisboa, Cleonice é especialista em Camões e Fernando Pessoa, e autora de livros como Estudos Camonianos e A passagem das horas de Álvaro de Campos. Ela já orientou mais de cem dissertações e teses, e foi eleita a personalidade educacional deste ano.

– Não pretendo parar de dar aulas tão cedo. O dia em que parar é para morrer. Na verdade, nem era essa a profissão que eu queria seguir quando era jovem, foi um professor meu quem me aconselhou a fazer matrícula em Letras ao realizar as provas de admissão, e hoje cá estou. Sou apaixonada pelo que faço.

Fundada por Alberto de Oliveira (tendo Cláudio Manuel da Costa como patrono), a cadeira que hoje pertence a Cleonice Berardinelli já foi ocupada também por Oliveira Viana, Austregéslio de Athayde e Antonio Callado.

Dona Cleo nasceu no Rio de Janeiro, mas precisou acompanhar o pai, militar, que foi morar em São Paulo. Em 1938, formou-se em Letras Neolatinas pela USP. Até hoje mantém intacto o encanto de ter nas mãos um bom livro. “O prazer de ler um texto é destrinchá-lo, buscar quais as intenções do autor”, ensina. A literatura portuguesa é o seu campo de trabalho e, para os que querem conhecê-la melhor, ela sugere três autores: Camões (especialmente Os lusíadas), Eça de Queiroz e José Saramago.