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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Campus

PUC-Rio na defesa da liberdade e da tolerância religiosa

Bruna Santamarina, Carolina Frossard e Yasmim Rosa - Do Portal

29/10/2009

 Bruna Smith

O Brasil, o país das diversidades, ainda enfrenta a intolerância religiosa. Numa nação onde a multiplicidade de culturas e religiões se faz presente, a livre convivência de crenças é um patamar a ser alcançado. Não é de hoje que o povo brasileiro vive sob esse clima de inflexibilidade, não importa o gênero. Na PUC-Rio, o seminário Cinema e Tolerância religiosa discutirá o tema entre os dias 26 e 30 de outubro.

Os debates contam com a parceria da Globo Universidade e têm como objetivo difundir a consciência da tolerância e aproximar as diferenças no processo de construção de uma paz segura e duradoura. De acordo com a diretora do Departamento de Comunicação Social da universidade, Angeluccia Habert, integrante da comissão organizadora do evento, o momento é propício para a discussão do tema.

– Vários casos de intolerância vêm acontecendo e, por isso, queremos mostrar que a PUC-Rio, apesar de ter em seu nome a especificação católica, apoia os movimentos a favor da liberdade religiosa. Em nossa universidade, temos alunos de diversas crenças e estamos reafirmando nosso combate aos grupos extremistas – afirma.

A opção pela exibição de filmes como base para os debates explica-se pelo grande alcance que o formato oferece.

– O cinema tem uma característica própria de destacar e retomar questões do cotidiano. Casos díspares, que acontecem em âmbitos diferentes, são colocados sob um mesmo ângulo, o que facilita a compreensão e atinge as pessoas com muito mais facilidade – acredita.

Para Angeluccia, a capacidade dos filmes em interferir no intelecto e na emoção da plateia é o grande trunfo no combate à intolerância. Os organizadores esperam que os participantes do evento ajam de forma decisiva para que se alcance a liberdade religiosa.

À caminho da tolerância

O país já caminha no combate à discriminação. Em 2007, um decreto aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, estipulou o dia 21 de janeiro como o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Nesta data, no ano de 2000, no Rio de Janeiro, a mãe-de-santo Gildásia Santos morreu vítima de um infarto depois que sua casa de culto foi destruída por evangélicos.

Em 2008, no dia 21 de setembro, a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), organizou a I Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, na praia de Copacabana. Na edição deste ano, cerca de 80 mil pessoas participaram do evento.

De acordo com a Constituição Federal de 1988, a liberdade de crença e de culto é um direito garantido por lei. Um projeto de autoria do deputado Dr. Talmir (PV-SP) visa regulamentar a liberdade de crença religiosa no país e tem como objetivo coibir manifestações de desrespeito às religiões. Enquanto o projeto não é aprovado, alguns dispositivos garantem esses direitos. De acordo com uma decisão do Supremo Tribunal Federal, a discriminação religiosa é classificada como racismo. O crime é inafiançável e imprescritível, ou seja, não existe um prazo máximo para o julgamento do acusado, o que permite que ele seja punido mesmo anos depois. No caso de discriminação religiosa, a vítima pode procurar uma Delegacia de Polícia e registrar a ocorrência, para que seja iniciado um processo penal.

Religiões em diálogo

No seminário Cinema e Tolerância Religiosa, a mesa Religiões em Diálogo reunirá figuras proeminentes de diversas crenças, no auditório do RDC, na PUC-Rio, às 14 horas do dia 29. Espiritismo, candomblé, budismo, catolicismo, islamismo e a igreja evangélica serão representados no debate, que será mediado pelo Padre Paulo Cezar Costa, professor e diretor do Departamento de Teologia da universidade. Segundo ele, o seminário pretende refletir e propor uma cultura que caminhe para a paz na percepção da religião:

– Nossa consciência é de que a religião deve ser causa e promotora da paz, e não da guerra, como foi durante muitos anos. Existem diferenças substanciais entre os grupos. Precisamos olhar para o que une as religiões e perceber os valores do outro e, acima de tudo, respeitá-los.

Ele avalia o preconceito como "abominável", principalmente o velado, em que as pessoas sabem que serão taxadas de preconceituosas e, por isso, não se manifestam com brutalidade, mas, ainda assim, discriminam. De acordo com o professor, para resolver o problema, é necessária uma mudança de mentalidade.

– É preciso uma conversão na forma das pessoas perceberem as outras religiões. Devemos apresentar motivações para que as mudanças ocorram e a luta possa dar um passo da intolerância para a tolerância. Refletiremos sobre o cinema e a discriminação no sentido de despertar o assunto no coração da juventude. Sinto-me no dever, como homem de fé, de me engajar nessa luta. As pessoas comprometidas com suas religiões também devem participar, assim como todos os homens e mulheres de boa vontade, que estão buscando o bem. Esta luta não deve ser minha, deve ser nossa – observa.

Sami Armed Isbelle dirige o Departamento Educacional e de Divulgação da Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro (SBMRJ), organização que representa a comunidade islâmica da cidade. O setor educacional da instituição oferece cursos sobre o Islã e a língua árabe e de memorização do Alcorão, além de realizar encontros para jovens seguidores da religião.

– Seminários como o que ocorrerá na PUC-Rio servem para salientar a importância da tolerância religiosa para a sociedade. Por estar sendo ministrado em uma instituição de ensino, atinge futuros formadores de opinião. Tenho as melhores expectativas possíveis para a mesa em que estarão representantes de diferentes religiões e acho que será algo muito frutífero para quem estiver presente – disse.

Para Isbelle, a intolerância religiosa ainda é um problema no Brasil e pode ser combatida com educação:

– A questão da educação é essencial para a promoção da tolerância religiosa. Os próprios sacerdotes e líderes religiosos devem pregar aos seus seguidores a importância ao respeito a outras crenças.

O pastor presbiteriano Eduardo Rosa Pedreira, mestre e doutor em Teologia pela PUC-Rio e líder da Comunidade Presbiteriana da Barra da Tijuca, também estará na universidade para participar da mesa. Ele acredita que o seminário consolida a importante luta pela tolerância no âmbito da religião:

– Será um momento de reflexão e enriquecimento. Espero que seja mais um ponto de luz nesse caminho para a tolerância religiosa. O fato de o seminário acontecer dentro de uma universidade é fundamental, pois é um ambiente que fabrica conhecimento. O público jovem também é imprescindível, porque precisa conversar sobre valores tão primordiais quanto o respeito à religião do outro.

Para o pastor, a paz começa na liberdade, principalmente a religiosa. Ele explica que, no Brasil, não possuímos histórico de forte intolerância, uma vez que as religiões convivem relativamente bem. Segundo ele, há grupos fundamentalistas isolados que, eventualmente, cometem atos de discriminação. O líder religioso afirma que a luta, ainda assim, é pertinente e conta que participar do evento é significativo e gratificante:

– Faz parte de uma luta que tem resultados não só para mim, mas para toda a sociedade.

A monja Coen Murayama, presidente do Conselho da Comunidade Budista Soto Zenshu da América do Sul, também acredita que o diálogo contém o antídoto para o discriminação religiosa no Brasil. Para ela, a palavra “tolerância” não é a mais adequada para descrever o objetivo que deve ser atingido:

– “Tolerar” dá a impressão de ter de suportar algo extremamente desagradável, como um remédio de sabor detestável. Prefiro dizer que o encontro inter-religioso, a cooperação inter-religiosa abre portais de amadurecimento da espécie humana. Esse processo leva ao respeito e à possibilidade de menos violência entre humanos, menos violência de humanos contra a natureza. O respeito à diversidade da vida. Os encontros inter-religiosos são uma fonte de esperança para a mudança de modelo mental de nossa espécie – observa.

Monja Coen ainda ressaltou a essência daquilo que, para ela, une os representantes das diferentes religiões:

– Estamos unidos pela fé. Estamos unidos pela experiência mística. Estamos unidos pelos propósitos comuns de querer o bem a todos, criar condições para que todos os seres humanos possam acessar a um estado de serenidade, tranquilidade e paz. Estado que surge ao nos tornarmos seres éticos, responsáveis e atuantes na co-responsabilidade da transformação da vida.

Confira a programação do evento Cinema e Tolerância Religiosa:

DIA 29 DE OUTUBRO DE 2009

9h – Auditório do RDC

Abertura

• Padre Francisco Ivern Simó (PUC-Rio) e Luis Erlanger (TV Globo)

9h30 – Auditório do RDC

Tolerância Religiosa no Brasil

• Cesar Romero Jacob (PUC-Rio) – Mediador

• Maria Clara Bingemer (PUC-Rio)
• Patrícia Birman (UERJ)
• Frei Volney José Berkenbrock (UFJF)
• Padre Elias Wolff (ITESC - CNBB)

14h – Auditório do RDC

Religiões em Diálogo

• Padre Paulo Cezar Costa (PUC-Rio) – Mediador

• Padre Mário de França Miranda
• Pastor Eduardo Rosa Pedreira
• Rabino Nilton Bonder
• Representante Islâmico Sami Armed Isbelle
• Monja Coen Murayama
• Mãe Beata de Yemonjá
• Representante Espírita Nestor João Masotti

17h – Auditório do RDC

Apresentação do Programa Sagrado da TV Globo

DIA 30 DE OUTUBRO DE 2009


9h – Auditório do RDC

Cinema e Tolerância Religiosa


• Angeluccia Habert (PUC-Rio) – Mediador

• Miguel Pereira (PUC-Rio)
• Fernando Ferreira (PUC-Rio)
• João Luís Vieira (UFF)
• Eduardo Peñuela (USP)

14h – Auditório do RDC

Homenagem aos diretores de filmes sobre religião no Brasil

Eduardo Coutinho
Geraldo Sarno
João Moreira Salles

Mostra de filmes:

Dia 26 de outubro de 2009

11h – Sala 102K


Iaô (1976) – Geraldo Sarno


Dia 27 de outubro de 2009

11h – Sala 102K

Santo Forte (1997) – Eduardo Coutinho


Dia 28 de outubro de 2009

11h – Sala 102K

Santa Cruz (2000) – João Moreira Salles