Iniciada no Brasil na virada do século XXI, a revolução digital modificou inexoravelmente a prática do jornalismo. O acesso mais rápido, amplo e interativo às informações desdobrou-se em novos modelos de produção, novas rotinas, novas exigências profissionais. Mas isto não se deu num clique. Em 2005, apenas 20% da população brasileira tinha acesso à internet, metade ainda por conexão discada. Neste cenário, o Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio começou a desenvolver, em 2006, o Portal PUC-Rio Digital, primeiro veículo universitário de convergência de mídia do país.
Então diretor do Departamento, o professor Cesar Romero Jacob, idealizador do Portal, coordenador-geral do Projeto Comunicar lembra que, naquele momento, as possibilidades de expansão da produção e consumo de notícias no tempo e no espaço ainda estavam se construindo:
– A revolução digital rompeu com os problemas logísticos do jornalismo tradicional: na rede, textos não sofrem a limitação de horário para envio do conteúdo para gráfica; o rádio supera a necessidade de escolha entre transmissão AM (distância) ou FM (qualidade); e a televisão extrapola limites geográficos. E, com a globalização, o jornalismo é 24 horas, não desliga nunca, porque noite aqui já é manhã no Oriente, e podemos saber o que acontece lá em tempo real. Em 2006, isso não era tão claro quanto hoje, até pelas restrições da internet discada.
A professora e jornalista Carla Rodrigues – que acompanhou os primeiros passos da internet no Brasil no Ibase, com o desenvolvimento do primeiro provedor para pessoas físicas do país, o Alternex – foi responsável pela implantação da plataforma, além de primeira editora de texto do Portal, como passou a ser chamado pela Comunidade PUC. Também fizeram parte da primeira equipe os professores-editores Leticia Hees e Lenira Alcure (TV), Lula Branco Martins (texto), Marcelo Kischinhevsky e Creso Soares Junior (rádio). Desde então, pelo menos 800 alunos do Departamento tiveram a primeira experiência profissional no laboratório, em estágio remunerado e supervisionado, produção que soma 5,5 mil reportagens de áudio, 3,7 mil de texto e 2,3 mil de vídeo em oito anos de atividades.
– O Portal abriu espaço para a prática jornalística mais sintonizada com as novas mídias e com a convergência, que na época, estava começando na imprensa brasileira. No exterior, já havia experiências positivas. O Departamento percebeu que os alunos precisavam de um espaço de estágio para este novo jornalismo de convergência de mídia – lembra Carla Rodrigues.
A aposta na convergência acompanhou a reforma curricular adotada no curso de Jornalismo, com laboratórios de Jornalismo, Radiojornalismo e Telejornalismo. O Portal abria espaço também para reportagens produzidas em sala de aula. Para dar celeridade ao processo, formaram-se equipes de estagiários em dois turnos. Carla reforça a importância da conjugação entre teoria, técnica e prática:
– O Portal e a nova grade do curso ofereceram aos alunos a oportunidade para práticas em rádio, texto e TV de maneira mais intensa. A grande contribuição do Portal foi formar profissionais que podem se expressar em texto, áudio e vídeo, bem diferente da formação jornalística anterior, em que quem optava por jornalismo escrito jamais aprenderia a editar uma reportagem de TV ou de rádio. O resultado é o melhor possível – afirma a professora, hoje no Departamento de Filosofia da UFRJ e colunista do Blog do Instituto Moreira Salles.
Inicialmente, as reportagens abordavam um mesmo tema, com diferentes enfoques em texto, áudio e vídeo. O modelo passou a ser adotado só pautas especiais, para que cada mídia pudesse produzir reportagens específicas, de acordo com as respectivas características. “Cada mídia tem um tempo próprio. A convergência deve ser de mídia, mais do que da pauta”, justifica Romero Jacob, para quem os maiores desafios da criação do Portal foram as escolhas da tecnologia de publicação e do layout do site. O sistema editorial escolhido foi o “Publique!”, software desenvolvido pela Fábrica Digital, empresa na época incubada no Instituto Gênesis:
– Como retribuição ao apoio que a Universidade lhes proporcionou, eles nos cederam o programa, que, inicialmente, só permitia o uso de texto. Então contratamos o desenvolvimento de áudio e vídeo. Para o layout, não sabíamos como construir visualmente essa engrenagem que não existia até então, em nenhuma outra instituição. A preocupação era fazer algo amigável e atraente, de fácil navegação e autoexplicativo. Queríamos instigar o interesse das pessoas com aquela nova tecnologia – recorda Romero Jacob.
Primeiro editor do núcleo de Rádio, o professor Marcelo Kischinhevsky considera a experiência do Portal “positiva para o treinamento no mercado convergente”, ao mesmo tempo em que o ambiente pedagógico permite reflexões do fazer jornalístico que escapam ao dia a dia das empresas: “Em um portal-laboratório, é possível aprender com o erro e testar conteúdos e linguagens que saem da forma de bolo, o que não acontece tanto no mercado de trabalho”. Ele compara:
– Hoje, o repórter de rádio tem que ir a campo, gravar a sonora, trazer o material para a redação, editar, gravar, montar e entregar pronto, além de ter que fazer fotos pensando no site da rádio. Não dependemos mais de técnicos para fazer cada etapa: somos profissionais multitarefa.
Na visão de Carla Rodrigues, o grande desafio do Portal não foi praticar jornalismo online, e sim praticar jornalismo como projeto pedagógico: “Existem milhares de projetos jornalísticos no mundo. O que diferencia o Portal foi estar a serviço do pedagógico”. Em relação ao estágio na Universidade, a professora observa a diferença de experiência que o aluno vivencia entre escrever para o professor e para o público:
– Quando o aluno produz para o público, ele passa de consumidor de conteúdo a produtor de conteúdo, passagem que define a profissão. O jornalista consome informação diferente das outras pessoas, porque tem olhar de jornalista. Falamos de um momento em que qualquer um pode produzir conteúdo online, então é importante que o curso proporcione aos alunos diferenciar este internauta comum de um jornalista.
Soares Júnior, professor do Departamento de Comunicação da PUC-Rio e um dos primeiros editores da rádio, ao lado de Kischinhevsky, credita o sucesso do Portal à combinação do modelo “hospital-escola” associado ao caráter experimental, abordando temas pouco explorados pela mídia tradicional:
– O Portal foi um grande celeiro. Antigos repórteres estão em grandes empresas, jornais, TV, rádio... Hoje, trabalhando no Sistema Globo de Rádio, vejo uma grande diferença nos alunos que passaram pelo Portal ou pelo Comunicar, que chega com bagagem, conhecimento. O selo de qualidade do Portal é seu legado.
A partir de agora, o “selo de qualidade” integra-se ao Comunicar para reforçar a estrutura de comunicação da Universidade. Criado também de forma pioneira em 1988, com o duplo objetivo de capacitação dos alunos e prestação de serviços à PUC-Rio, o Projeto Comunicar fortalece, assim, o alinhamento às crescentes demandas digitais. “O Comunicar, que acumula uma tradição de quase 30 anos em serviços de comunicação, assimila a tecnologia e conhecimento acumulados nos 10 anos de produção do Portal. A ideia é juntar forças para criar algo de mais peso, com uma presença maior da comunicação na Universidade”, explica o coordenador-geral do Comunicar. Soares Junior completa: “A junção do Portal com o Comunicar é a união de esforços que deve ser feita. É a inovação do Portal combinada à tradição do Comunicar. A Universidade só tem a ganhar com isso”.
Ao comentar a nova fase, Carla Rodrigues observa que uma das características da internet é justamente a mutação: “Há um processo coletivo de debates, contribuições de todas as áreas, construído por todos os que participaram. O projeto continuou com o espírito de trabalho coletivo, com editores competentes que convergem agora para um projeto único”. Kischinhevsky acrescenta: “Hoje não existe jornalismo online ou off-line: é tudo jornalismo, bom ou ruim”.
Coberturas especiais (boxe)
Desde os primeiros passos, em 2006, até a recém-integração ao Comunicar, o Portal acumulou mais de 10 mil reportagens, em texto (jornal), áudio (rádio) e audiovisuais (TV), feitas por alunos do curso de Comunicação Social. Sob a orientação de professores-editores com reconhecida experiência no mercado, os estagiários produziram também 3 mil gravações de palestras, seminários, formaturas, 376 ensaios de fotojornalismo. Disponíveis para consulta, as 16 mil postagens compõem um acervo com informações relevantes sobre o campus, a cidade, o país, o mundo.
Parte das reportagens permitiu aos profissionais em formação participarem de grandes coberturas, como a Jornada Mundial da Juventude, a Rio+20, a Copa do Mundo 2014. Nesses 10 anos de vida, o Portal produziu dezenas de séries especiais; contabilizou incontáveis entrevistou figuras proeminentes de diversas áreas (política, economia, meio ambiente, cultura, esporte, etc.), como o ex-presidente do Banco Central do Brasil Armínio Fraga; e ganhou prêmios como o recebido em 2009 pela equipe de Rádio: Expocom Regional Sudeste da Intercom, maior prêmio científico da área de Comunicação do país, na categoria Programa Laboratorial de Radiojornalismo, com uma série produzida para o Conecta, veiculado também no programa Universidade no Ar, da rádio CBN. Outra importante reportagem foi organizada para acompanhar o 11° Encontro da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine), que reuniu mais de 200 pesquisadores do Brasil e do exterior.
Das produções audiovisuais (TV), destacam-se, por exemplo, “Ex-usuários de crack encontram apoio na Fazenda Esperança”, sobre histórias que superaram o vício; “Portal conhece o Cristo por um ângulo diferente”, em homenagem aos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro; “Theatro Municipal representa o Rio da Belle Époque”, uma retrospectiva da construção do teatro durante a reforma urbana do Rio; “Portal visita importante palco da política brasileira”, que explica o funcionamento da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj); e “Uso de drones levanta debates sobre regulação da tecnologia”, que explica como o mercado de drones tenta minimizar acidentes sem legislação específica.
Do acervo de áudio (rádio), encontram-se, entre as reportagens mais representativas, “Governo comemora resultados do combate ao trabalho infantil”, de Catherine Schmid, que repercute a redução de 153 mil crianças no trabalho infantil entre 2011 e 2013; “Diplomacia terá que lidar com nova realidade internacional”, de Nathália Afonso, que explica o aumento de assuntos abordados no âmbito diplomático, substituindo o nível governamental; “Comerciantes e moradores à espera de um novo Centro”, de Victor Wahrsager, abordando a restauração da região central do Rio, através da reforma do Porto e construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) para preparar a cidade para as Olimpíadas; e “Estrangeiros lutam por medalhas olímpicas para o Brasil”, de Marco Antônio Azeredo, expondo a contratação de diversos técnicos estrangeiros para treinar os atletas do país.
Na produção de texto (jornal), destacam-se, por exemplo, as reportagens “Brasil despeja R$ 50 bilhões no ralo da corrupção”, de Thiago Coelho, que contabiliza, em 2012, a sangria imposta ao país por esquemas corruptos comprovados; “Analistas: paz em Gaza exige mais mobilização internacional”, na qual Júlia Cople, Juliana Reigosa e Marcela Henriques mergulham nos mais recentes capítulos e perspectivas do embate secular; “Atrás de paz e emprego, refugiados somam 5 mil no país”, de 2013, em que Caio Cidrini e Vitor Afonso tiram da sombra a rotina dos que tentam encontrar refúgio, trabalho e dignidade no Brasil; “Relativização de valores aumenta o risco de guerras”, de Yasmin Restum, em que especialistas dimensionam os efeitos da crise ética; “Liderança e influência digital de Papa Francisco ampliam o número de fiéis”, de Luisa Oliveira; “O menino que quer trocar o crack pela batata fria”, de Caroline Hülle, que revela a rotina dos jovens que integravam os primeiros grupos de internações compulsórias por crack no Rio; “Um retrato do Alzheimer, a doença da família”, em que Marina Ferreira e Maria Clara Parente relatam as experiências de cinco famílias afetadas pelo Alzheimer; “Legado Olímpico exige mais atenção social”, de Andressa Pessanha, um rico balanço das heranças urbanas, socioeconômicas e esportivas projetadas para a Rio 2016; Crise energética: consumo racional economizaria uma Itaipu, de Jana Sampaio; “Segurança pública precisa de reforma”, na qual Andressa Pessanha e Mariana Bispo repercutem com especialistas, como professor de Ciências Sociais da PUC-Rio Luiz Fernando Almeida, o Mapa da Violência no país, em especial a incidência tradicionalmente concentrada em mulheres, negros e pobres.
Ao extenso repertório de reportagens, somam-se grandes entrevistas, como as concedidas pelo polonês sobrevivente do Holocausto Aleksander Laks à repórter Luisa Gabriela; pelo historiado francês especializado em representação política Pierre Rosanvallon à repórter Yasmin Restum; pelo coordenador da Executiva Nacional da Pastoral da Terra, Ruben Siqueira, na qual ele expõe, à repórter Cecília Bueno, bastidores dos renitentes conflitos de terra no Pará; do professor de Direito da Informática da PUC-Rio e consultor da ONU Gilberto Martins de Almeida, à repórter Júlia Cople, na qual ele aponta a necessidade de a governança incluir a internet profunda; do professor de Engenharia da PUC-Rio Raul Feitosa à repórter Gabriela Caesar, sobre uma inovadora tecnologia desenvolvida na Universidade para imagens de satélites; do físico Enio Frota à repórter Thaís Bisinoto, sobre uma pesquisa, desenvolvida também na PUC-Rio, que levanta uma nova teoria para a origem da vida. Somam-se também séries especiais, como Especial Clima, com reflexões e sugestões para cumprir os exigências para um país e um mundo sustentável e Desafios 2015.
Iniciada no Brasil na virada do século XXI, a revolução digital modificou inexoravelmente a prática do jornalismo. O acesso mais rápido, amplo e interativo às informações desdobrou-se em novos modelos de produção, novas rotinas, novas exigências profissionais. Mas isto não se deu num clique. Em 2005, apenas 20% da população brasileira tinha acesso à internet, metade ainda por conexão discada. Neste cenário, o Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio começou a desenvolver, em 2006, o Portal PUC-Rio Digital, primeiro veículo universitário de convergência de mídia do país.
Então diretor do Departamento, o professor Cesar Romero Jacob, idealizador do Portal, coordenador-geral do Projeto Comunicar lembra que, naquele momento, as possibilidades de expansão da produção e consumo de notícias no tempo e no espaço ainda estavam se construindo:
– A revolução digital rompeu com os problemas logísticos do jornalismo tradicional: na rede, textos não sofrem a limitação de horário para envio do conteúdo para gráfica; o rádio supera a necessidade de escolha entre transmissão AM (distância) ou FM (qualidade); e a televisão extrapola limites geográficos. E, com a globalização, o jornalismo é 24 horas, não desliga nunca, porque noite aqui já é manhã no Oriente, e podemos saber o que acontece lá em tempo real. Em 2006, isso não era tão claro quanto hoje, até pelas restrições da internet discada.
A professora e jornalista Carla Rodrigues – que acompanhou os primeiros passos da internet no Brasil no Ibase, com o desenvolvimento do primeiro provedor para pessoas físicas do país, o Alternex – foi responsável pela implantação da plataforma, além de primeira editora de texto do Portal, como passou a ser chamado pela Comunidade PUC. Também fizeram parte da primeira equipe os professores-editores Leticia Hees e Lenira Alcure (TV), Lula Branco Martins (texto), Marcelo Kischinhevsky e Creso Soares Junior (rádio). Desde então, pelo menos 800 alunos do Departamento tiveram a primeira experiência profissional no laboratório, em estágio remunerado e supervisionado, produção que soma 5,5 mil reportagens de áudio, 3,7 mil de texto e 2,3 mil de vídeo em oito anos de atividades.
– O Portal abriu espaço para a prática jornalística mais sintonizada com as novas mídias e com a convergência, que na época, estava começando na imprensa brasileira. No exterior, já havia experiências positivas. O Departamento percebeu que os alunos precisavam de um espaço de estágio para este novo jornalismo de convergência de mídia – lembra Carla Rodrigues.
A aposta na convergência acompanhou a reforma curricular adotada no curso de Jornalismo, com laboratórios de Jornalismo, Radiojornalismo e Telejornalismo. O Portal abria espaço também para reportagens produzidas em sala de aula. Para dar celeridade ao processo, formaram-se equipes de estagiários em dois turnos. Carla reforça a importância da conjugação entre teoria, técnica e prática:
– O Portal e a nova grade do curso ofereceram aos alunos a oportunidade para práticas em rádio, texto e TV de maneira mais intensa. A grande contribuição do Portal foi formar profissionais que podem se expressar em texto, áudio e vídeo, bem diferente da formação jornalística anterior, em que quem optava por jornalismo escrito jamais aprenderia a editar uma reportagem de TV ou de rádio. O resultado é o melhor possível – afirma a professora, hoje no Departamento de Filosofia da UFRJ e colunista do Blog do Instituto Moreira Salles.
Inicialmente, as reportagens abordavam um mesmo tema, com diferentes enfoques em texto, áudio e vídeo. O modelo passou a ser adotado só pautas especiais, para que cada mídia pudesse produzir reportagens específicas, de acordo com as respectivas características. “Cada mídia tem um tempo próprio. A convergência deve ser de mídia, mais do que da pauta”, justifica Romero Jacob, para quem os maiores desafios da criação do Portal foram as escolhas da tecnologia de publicação e do layout do site. O sistema editorial escolhido foi o “Publique!”, software desenvolvido pela Fábrica Digital, empresa na época incubada no Instituto Gênesis:
– Como retribuição ao apoio que a Universidade lhes proporcionou, eles nos cederam o programa, que, inicialmente, só permitia o uso de texto. Então contratamos o desenvolvimento de áudio e vídeo. Para o layout, não sabíamos como construir visualmente essa engrenagem que não existia até então, em nenhuma outra instituição. A preocupação era fazer algo amigável e atraente, de fácil navegação e autoexplicativo. Queríamos instigar o interesse das pessoas com aquela nova tecnologia – recorda Romero Jacob.
Primeiro editor do núcleo de Rádio, o professor Marcelo Kischinhevsky considera a experiência do Portal “positiva para o treinamento no mercado convergente”, ao mesmo tempo em que o ambiente pedagógico permite reflexões do fazer jornalístico que escapam ao dia a dia das empresas: “Em um portal-laboratório, é possível aprender com o erro e testar conteúdos e linguagens que saem da forma de bolo, o que não acontece tanto no mercado de trabalho”. Ele compara:
– Hoje, o repórter de rádio tem que ir a campo, gravar a sonora, trazer o material para a redação, editar, gravar, montar e entregar pronto, além de ter que fazer fotos pensando no site da rádio. Não dependemos mais de técnicos para fazer cada etapa: somos profissionais multitarefa.
Na visão de Carla Rodrigues, o grande desafio do Portal não foi praticar jornalismo online, e sim praticar jornalismo como projeto pedagógico: “Existem milhares de projetos jornalísticos no mundo. O que diferencia o Portal foi estar a serviço do pedagógico”. Em relação ao estágio na Universidade, a professora observa a diferença de experiência que o aluno vivencia entre escrever para o professor e para o público:
– Quando o aluno produz para o público, ele passa de consumidor de conteúdo a produtor de conteúdo, passagem que define a profissão. O jornalista consome informação diferente das outras pessoas, porque tem olhar de jornalista. Falamos de um momento em que qualquer um pode produzir conteúdo online, então é importante que o curso proporcione aos alunos diferenciar este internauta comum de um jornalista.
Soares Júnior, professor do Departamento de Comunicação da PUC-Rio e um dos primeiros editores da rádio, ao lado de Kischinhevsky, credita o sucesso do Portal à combinação do modelo “hospital-escola” associado ao caráter experimental, abordando temas pouco explorados pela mídia tradicional:
– O Portal foi um grande celeiro. Antigos repórteres estão em grandes empresas, jornais, TV, rádio... Hoje, trabalhando no Sistema Globo de Rádio, vejo uma grande diferença nos alunos que passaram pelo Portal ou pelo Comunicar, que chega com bagagem, conhecimento. O selo de qualidade do Portal é seu legado.
A partir de agora, o “selo de qualidade” integra-se ao Comunicar para reforçar a estrutura de comunicação da Universidade. Criado também de forma pioneira em 1988, com o duplo objetivo de capacitação dos alunos e prestação de serviços à PUC-Rio, o Projeto Comunicar fortalece, assim, o alinhamento às crescentes demandas digitais. “O Comunicar, que acumula uma tradição de quase 30 anos em serviços de comunicação, assimila a tecnologia e conhecimento acumulados nos 10 anos de produção do Portal. A ideia é juntar forças para criar algo de mais peso, com uma presença maior da comunicação na Universidade”, explica o coordenador-geral do Comunicar. Soares Junior completa: “A junção do Portal com o Comunicar é a união de esforços que deve ser feita. É a inovação do Portal combinada à tradição do Comunicar. A Universidade só tem a ganhar com isso”.
Ao comentar a nova fase, Carla Rodrigues observa que uma das características da internet é justamente a mutação: “Há um processo coletivo de debates, contribuições de todas as áreas, construído por todos os que participaram. O projeto continuou com o espírito de trabalho coletivo, com editores competentes que convergem agora para um projeto único”. Kischinhevsky acrescenta: “Hoje não existe jornalismo online ou off-line: é tudo jornalismo, bom ou ruim”.
Coberturas especiais (boxe)
Desde os primeiros passos, em 2006, até a recém-integração ao Comunicar, o Portal acumulou mais de 10 mil reportagens, em texto (jornal), áudio (rádio) e audiovisuais (TV), feitas por alunos do curso de Comunicação Social. Sob a orientação de professores-editores com reconhecida experiência no mercado, os estagiários produziram também 3 mil gravações de palestras, seminários, formaturas, 376 ensaios de fotojornalismo. Disponíveis para consulta, as 16 mil postagens compõem um acervo com informações relevantes sobre o campus, a cidade, o país, o mundo.
Parte das reportagens permitiu aos profissionais em formação participarem de grandes coberturas, como a Jornada Mundial da Juventude, a Rio+20, a Copa do Mundo 2014. Nesses 10 anos de vida, o Portal produziu dezenas de séries especiais; contabilizou incontáveis entrevistou figuras proeminentes de diversas áreas (política, economia, meio ambiente, cultura, esporte, etc.), como o ex-presidente do Banco Central do Brasil Armínio Fraga; e ganhou prêmios como o recebido em 2009 pela equipe de Rádio: Expocom Regional Sudeste da Intercom, maior prêmio científico da área de Comunicação do país, na categoria Programa Laboratorial de Radiojornalismo, com uma série produzida para o Conecta, veiculado também no programa Universidade no Ar, da rádio CBN. Outra importante reportagem foi organizada para acompanhar o 11° Encontro da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine), que reuniu mais de 200 pesquisadores do Brasil e do exterior.
Das produções audiovisuais (TV), destacam-se, por exemplo, “Ex-usuários de crack encontram apoio na Fazenda Esperança”, sobre histórias que superaram o vício; “Portal conhece o Cristo por um ângulo diferente”, em homenagem aos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro; “Theatro Municipal representa o Rio da Belle Époque”, uma retrospectiva da construção do teatro durante a reforma urbana do Rio; “Portal visita importante palco da política brasileira”, que explica o funcionamento da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj); e “Uso de drones levanta debates sobre regulação da tecnologia”, que explica como o mercado de drones tenta minimizar acidentes sem legislação específica.
Do acervo de áudio (rádio), encontram-se, entre as reportagens mais representativas, “Governo comemora resultados do combate ao trabalho infantil”, de Catherine Schmid, que repercute a redução de 153 mil crianças no trabalho infantil entre 2011 e 2013; “Diplomacia terá que lidar com nova realidade internacional”, de Nathália Afonso, que explica o aumento de assuntos abordados no âmbito diplomático, substituindo o nível governamental; “Comerciantes e moradores à espera de um novo Centro”, de Victor Wahrsager, abordando a restauração da região central do Rio, através da reforma do Porto e construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) para preparar a cidade para as Olimpíadas; e “Estrangeiros lutam por medalhas olímpicas para o Brasil”, de Marco Antônio Azeredo, expondo a contratação de diversos técnicos estrangeiros para treinar os atletas do país.
Na produção de texto (jornal), destacam-se, por exemplo, as reportagens “Brasil despeja R$ 50 bilhões no ralo da corrupção”, de Thiago Coelho, que contabiliza, em 2012, a sangria imposta ao país por esquemas corruptos comprovados; “Analistas: paz em Gaza exige mais mobilização internacional”, na qual Júlia Cople, Juliana Reigosa e Marcela Henriques mergulham nos mais recentes capítulos e perspectivas do embate secular; “Atrás de paz e emprego, refugiados somam 5 mil no país”, de 2013, em que Caio Cidrini e Vitor Afonso tiram da sombra a rotina dos que tentam encontrar refúgio, trabalho e dignidade no Brasil; “Relativização de valores aumenta o risco de guerras”, de Yasmin Restum, em que especialistas dimensionam os efeitos da crise ética; “Liderança e influência digital de Papa Francisco ampliam o número de fiéis”, de Luisa Oliveira; “O menino que quer trocar o crack pela batata fria”, de Caroline Hülle, que revela a rotina dos jovens que integravam os primeiros grupos de internações compulsórias por crack no Rio; “Um retrato do Alzheimer, a doença da família”, em que Marina Ferreira e Maria Clara Parente relatam as experiências de cinco famílias afetadas pelo Alzheimer; “Legado Olímpico exige mais atenção social”, de Andressa Pessanha, um rico balanço das heranças urbanas, socioeconômicas e esportivas projetadas para a Rio 2016; Crise energética: consumo racional economizaria uma Itaipu, de Jana Sampaio; “Segurança pública precisa de reforma”, na qual Andressa Pessanha e Mariana Bispo repercutem com especialistas, como professor de Ciências Sociais da PUC-Rio Luiz Fernando Almeida, o Mapa da Violência no país, em especial a incidência tradicionalmente concentrada em mulheres, negros e pobres.
Ao extenso repertório de reportagens, somam-se grandes entrevistas, como as concedidas pelo polonês sobrevivente do Holocausto Aleksander Laks à repórter Luisa Gabriela; pelo historiado francês especializado em representação política Pierre Rosanvallon à repórter Yasmin Restum; pelo coordenador da Executiva Nacional da Pastoral da Terra, Ruben Siqueira, na qual ele expõe, à repórter Cecília Bueno, bastidores dos renitentes conflitos de terra no Pará; do professor de Direito da Informática da PUC-Rio e consultor da ONU Gilberto Martins de Almeida, à repórter Júlia Cople, na qual ele aponta a necessidade de a governança incluir a internet profunda; do professor de Engenharia da PUC-Rio Raul Feitosa à repórter Gabriela Caesar, sobre uma inovadora tecnologia desenvolvida na Universidade para imagens de satélites; do físico Enio Frota à repórter Thaís Bisinoto, sobre uma pesquisa, desenvolvida também na PUC-Rio, que levanta uma nova teoria para a origem da vida. Somam-se também séries especiais, como Especial Clima, com reflexões e sugestões para cumprir os exigências para um país e um mundo sustentável e Desafios 2015.