Bárbara Tavares e Mariana Casagrande - Do Portal
19/04/2016“O maior problema do Brasil é o saneamento”, afirma o jornalista Agostinho Vieira, especialista em gestão ambiental, lembrando que o país ocupa a 10ª posição entre 17 países da América Latina em ranking de coleta de esgoto, segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Trata Brasil, o que faz especialistas repensarem se o governo cumprirá a meta de universalizar o saneamento básico até 2033. Ex-diretor executivo do jornal O Globo e da Rádio CBN, Agostinho lamenta que a imprensa tradicional aborde esse tema de forma superficial, o que o levou a lançar o Projeto #Colabora, plataforma de comunicação sem fins lucrativos com foco em sustentabilidade, no ar desde novembro.
Em palestra a alunos do Laboratório de Jornalismo da professora Itala Maduell, na última semana, Agostinho citou reportagens como Quanto custa a árvore de Natal. A Bradesco Seguros, responsável pela anual árvore de Natal da Lagoa Rodrigo de Freitas, não divulga o custo, mas Agostinho fez as contas a partir de informações disponíveis e por meio de contatos com fornecedores dos materiais utilizados e levantou que o valor desse símbolo da Zona Sul carioca estaria entre R$ 9 milhões e R$ 20 milhões ao ano, o que em seus 20 anos de existência chegaria à cifras entre R$ 180 milhões e R$ 400 milhões, que pagariam três vezes a despoluição da Lagoa, compromisso assumido pela prefeitura e pelo governo do estado, orçada em R$ 60 milhões, e que não sai do papel.
O projeto conta hoje com 115 colaboradores, a imensa maioria jornalistas com grande experiência, e atinge um público majoritariamente jovem. “Estamos onde está o público: na internet, no Facebook, no Youtube. No Instagram, no Twitter, no LinkedIn”, e é viabilizado por uma cota de patrocínio da Coca-Cola, doações por meio da ferramenta de crowdfunding Benfeitoria.
O #Colabora lista ainda um Mapa das ONGs, organizações sem fins lucrativos, referenciadas pelo Intituto Phi e visitadas pela equipe do próprio #Colabora. O intuito é acompanhar o terceiro setor do Brasil. As visitas (até agora a 40 entidades) são uma forma de verificar a credibilidade das instituições. “Além das questões básicas durante o processo de visitação, como entrevistas com os envolvidos, também investigamos se o instituto têm pendências na Justiça. Não queremos ser advogados do diabo, mas não podemos fechar os olhos”, explica Agostinho.
Um dos requisitos exigidos para constar do mapa é a transparência na gestão, prática também adotada pelo #Colabora, que publica mensalmente os números referentes aos acessos ao site e o balanço de arrecadação e custos (aqui, os dados de abril). “Ninguém faz isso, pelo menos nunca vi. Mas achamos que não seria coerente cobrar transparência e não sermos transparentes. Por isso divulgamos todos os números, incluindo os valores dos patrocínios e das contribuições, nominalmente”.
A palavra chave do projeto é sustentabilidade. Consequentemente, a economia colaborativa é muito pautada. O executivo defende que é preciso difundir iniciativas que ajudem a reduzir o impacto ambiental, como o compartilhamento de utensílios e serviços pouco usados no dia-a-dia:
– Furadeiras, por exemplo: você vai usar por apenas 11 minutos em toda a vida. Portanto, não precisa comprar uma. Uma única ferramenta seria suficiente para toda uma comunidade. Compartilhar é uma solução menos comprometedora para nosso estilo de vida.
Segundo Agostinho, o #Colabora está aberto a qualquer pessoa que apresente “visões criativas e inovadoras” para temas relevantes: “Para ser colaborador do projeto, basta elaborar uma boa pauta, saber escrever e contar bem uma história”.
Assista à íntegra da apresentação de Agostinho Vieira na PUC-Rio.