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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


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Bianca Ramoneda: "É época de arrumar solução"

Paula Bastos Araripe - Do Portal

01/04/2016

 Paula Bastos Araripe

Bianca Ramoneda, apresentadora do Ofício em Cena falou dos bastidores da criação do programa e de como fazer uma boa entrevista na palestra do último dia da Semana de Rádio e TV, na quinta-feira (31), no Auditório Padre Anchieta. Formada simultaneamente em jornalismo e em artes cênicas na Uerj, ela já compôs música, fez direção artística de um show da cantora Roberta Sá e publicou um livro com contos e poemas intitulado . A jornalista e atriz explicou que nunca deixou de fazer seus projetos paralelos e apesar de ser difícil achar alguém que compreenda esses dois lados da sua carreira, ela aconselhou aos estudantes para “nunca largarem o paralelo”. Ela explicou ainda como a sua “formação híbrida” acrescentou na sua carreira e ajudou no seu papel como mediadora em programas que unem o jornalismo à arte.

  Se eu falar só de arte com o entrevistado, a minha mãe que não sabe o assunto vai desligar a televisão. E se eu falar muito “por fora” do assunto o meu entrevistado também não vai se interessar pela conversa. Para quem não é do ramo eu tenho que fazer perguntas que eles gostariam de fazer, e que muitas vezes são perguntas muito simples. E para quem é do ramo eu tenho que fazer perguntas que interessam. Tem uma conta entre não parecer um peixe fora d’água completo e não ser o peixe totalmente dentro d’água se não quem está de fora não participa daquela brincadeira. Não posso pensar em um programa de televisão que interesse a apenas um nicho.

 Paula Bastos Araripe 

Há 17 anos na Globo News, ela entrou no canal a convite de Alice Maria, diretora de programas especiais, que a viu em uma peça de teatro e a chamou para apresentar um novo programa, o Starte. O programa é apresentado por Bianca até hoje, e ela está no Ofício em Cena desde sua estreia, no ano passado. A jornalista contou que o “Ofício” teve como base um projeto de José Wilker e que a estética do programa foi idealizada para ser simples e que remetesse a um teatro.

  O conceito estético do “Ofício” a gente chegou com muita conversa, com visita ao espaço, sempre com a ideia de menos é mais. Uma caixa preta de teatro bem feita é a melhor coisa que existe no mundo desde os primórdios da existência do teatro. E tudo que está sendo visto foi pensado. O som, as imagens, a abertura e o encerramento, tudo é conceito da arte. Nem o formato da jarra de água em cima da mesa é por acaso. Tudo é pensado no simples. Mas chegar ao simples foi difícil. Agora, comigo falando a partir do pronto, parece fácil.

A apresentadora falou de sua entrevista com Willem Dafoe no início da nova temporada que, apesar de ter sido feito no hotel Marina All Suites, o programa manteve seu conceito. Ela relatou que só tinham uma hora com ele e por isso seria inviável levá-lo ao estúdio ou colocar uma plateia, outra característica do programa, e por isso decidiram fazer no próprio hotel. A mudança de local atrapalharia um programa que estivesse montando ainda seu formato, mas isso já estava bem definido após duas temporadas do “Ofício”, é mais fácil quebrá-lo em um eventual episódio especial como foi o caso. A entrevista foi gravada em um canto do bar do hotel, do lado de uma janela para usar como contraluz. A equipe levou os feltros pretos para esconder outros objetos e criar um fundo como o do cenário original e pegou um abajur do hotel que parecia com um refletor de teatro para completar o ambiente. “A gente hoje vive uma época que tem que dar para fazer. Não é a época de vender dificuldade, é a época de arrumar solução”, assegurou.

 Paula Bastos Araripe 

Segundo Bianca, a escolha dos entrevistados também é criteriosa. Na primeira temporada chamaram apenas atores, diretores e autores, mais conhecidos pelo público. Já na segunda temporada convidaram diretores de arte e figurinistas, igualmente importantes para a produção cinematográfica. A ideia é diversificar mais os entrevistados e assuntos conforme as temporadas avançam. As pautas das entrevistas também são delimitadas para combinar com o programa, que busca compreender o processo criativo do ponto de vista dos artistas. Para a apresentadora, saber sobre como uma cena marcante é criada faz com que ela se torne ainda mais especial. Mas ela também desabafou: “Eu tenho horror de entrevistar, tenho medo de todas as pessoas quando tenho que dar um resultado. Mas no dia que eu perder isso sei que algo está errado. Às vezes até penso que devo ser até melhor atriz que jornalista, porque ninguém percebe isso”, brincou. Bianca também demonstrou como a forma de entrevistar deve mudar para se adaptar ao entrevistado e à conversa, ilustrando com seu diálogo com a diretora Amora Mautner para o primeiro episódio do programa.

  Tem uma coisa que não foi o jornalismo que me ensinou, mas o teatro: se meu convidado entra na conversa já falando com muita energia, no “220 volts”, e eu estiver na mesma frequência que ela não dá certo. Isso não é coisa que vem da mente, mas do “feeling”, de como você sente o fluxo da conversa. Por isso nesses casos como a entrevista com a Amora, enquanto ela fala com muita energia, eu falo em um tom mais calmo. E se o meu entrevistado tá muito para baixo, eu tenho que puxar a conversa pra cima.

Ofício em Cena é exibido na Globo News nas terças-feiras, às 23h30.