A tendência cada vez mais forte de o conteúdo jornalístico assumir contornos de entretenimento, somada à pulverização de informações neste contexto em que os celulares com acesso à internet transformaram qualquer pessoa em potencial repórter e produtor de fotos e vídeos, tem exigido um reposicionamento dos fornecedores tradicionai. Para o gerente de Desenvolvimento de Produto do TechTudo, Newton Fleury Filho, a reinvenção passa pelo investimento crescente na produção audiovisual, como já fazem, por exemplo, New York Times e Wall Street Journal, e pelo alinhamento preciso dos conteúdos às diferentes plataformas de mídia, do online ao smartphone. “O furo jornalístico morreu: rapidamente a informação deixa de ser exclusiva e se propaga. Então, é importante pensar não só na qualidade da informação, mas no ajuste do formato às plataformas mais estratégicas do ponto de vista da divulgação, como Facebook e Gooble+”, avaliou o especialista, formado em Jornalismo pela PUC-Rio, em palestra aos alunos do Departamento de Comunicação Social, na segunda-feira. Convidado pela professora do Laboratório de Jornalismo Itala Maduell, Fleury destacou também a valorização crescente de conteúdos audiovisuais, em especial de vídeos curtos feitos destinados a celular, para melhor engajar o consumidor:
– A grande tendência são os vídeos curtos. Tradicionais empresas de mídia precisam pegar o caminho audiovisual, além de investir numa divulgação intensa e precisa.
A onda de produtores de informação, sobretudo audiovisual, impulsionada pelas novas tecnologias digitais, impõe reposicionamentos não só às corporações de mídia, mas aos próprios profissionais da área. Na avaliação de Fleury, também idealizador do Cartola FC, jogo virtual baseado no Campeonato Brasileiro, hoje convém ao jornalista adquirir noções de marketing, inclusive digital, e de estratégias de SEO (Search Engine Optimization), ou seja, de técnicas associadas à identificação de comportamentos de consumo de otimização em páginas eletrônicas e mídias sociais.
– Um dos impactos para o negócio de mídia é uma fragmentação da audiência entre os provedores de conteúdos, concentradas nas plataformas de distribuição. Por exemplo, o Google e o Facebook concentram atenção, fazem a mediação com conteúdos, distribuem e planificam todos os produtores de conteúdo, seja a Globo, a Coca-Cola ou um amigo nosso.
O surgimento de novas ferramentas na internet afetaram os hábitos dos internautas. Uma pesquisa feita pelo centro de pesquisas Media Insight Project indica que o Facebook é a principal porta de entrada para as informações, seguido de sites de busca e sites de notícias. Para Fleury, essa mudança de comportamento revela que as plataformas web estão desempenhando parte do papel que antes era das mídias tradicionais: “O que diferenciará o acesso de um determinado site e do outro nas buscas é a maneira com que o conteúdo será distribuído”, reitera o jornalista especializado em marketing.
Um dos pontos destacados foi a necessidade de os futuros profissionais de Comunicação Social se adaptarem a essas novas demandas tecnológicas presentes no mercado digital. Segundo Fleury, o jornalista do século XXI deve conhecer as formas de distribuição, ser capaz de produzir conteúdos para veículos distintos e ter noções de algoritmos.
Ao abordar os fenômenos que são acionados na medida em que a tecnologia avança, o especialista citou a mistura entre conteúdo e publicidade e a nova tendência das marcas utilizarem as diferentes plataformas para se comunicar diretamente com o público.
– Se antes tínhamos uma noção clara sobre o que é o conteúdo editorial, publicitário ou de entretenimento, nesses mecanismos de distribuição isso ficou misturado. O Youtube e o Facebook tratam as marcas dos seus anunciantes como provedores de conteúdo. Além da fragmentação que já existia entre uma série de produtores de conteúdo, as marcas usam as diferentes plataformas para desintermediar o negócio da mídia e produzir diretamente aos seus consumidores.
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