Apesar do crescente peso das mídias digitais e do relativo enfraquecimento dos veículos tradicionais, estes ainda são os grandes mediadores do debate político, acredita o pesquisador Fernando Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), para quem a grande mídia ainda tem grande poder de fogo na agenda da formação do debate público. Doutor em Ciências Políticas pela USP, Azevedo pesquisa a relação entre a mídia impressa e o Partido dos Trabalhadores nos últimos 25 anos, a partir de ferramentas como o website Manchetômetro, que contabiliza manchetes pró ou contra o governo. Segundo ele, “o PT mudou, e a mídia também”:
– Após a Guerra Fria, a ideologia esquerdista esfriou e foi renegada pelo mundo ocidental. Porém em vários países da América Latina, inclusive o nosso, houve uma ascensão ao poder por eles. No campo da comunicação, algumas mudanças, tais como a chegada das mídias sociais, novas tecnologias e a explosão da Web 2.0.
O papel da mídia tradicional na oposição política desde a redemocratização no país foi o tema da mesa-redonda A imprensa e a política no Brasil contemporâneo, que contou, além de Azevedo, com os professores Paulo Vaz, da Escola de Comunicação da UFRJ; e Afonso de Albuquerque, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFF, e Fernando Sá, da PUC-Rio, como mediador, no VI Encontro Compolítica, na quinta-feira 23.
O tema da corrupção como central para a discussão política atual
Para Paulo Vaz, o assunto da corrupção ser tão ativo na imprensa brasileira não é exclusividade brasileira. Vaz, que fez pesquisas em jornais estrangeiros de grande circulação sobre casos de corrupção semelhantes aos do Brasil, contou ter ficado surpreso com o resultado:
– Encontrei casos de corrupção entre partidos conservadores e progressistas em países diversos como Romênia, Ucrânia, Índia, e muitos outros. Na Espanha, por exemplo, houve uma grande investigação no Partido Socialista Espanhol (PSOE) e descobriram desvios de dinheiro dentro do governo. A mídia, claro, fez o papel de denunciar esses escândalos e massificá-los. É um fenômeno global.
Segundo o pesquisador do CNPq, é muito importante que a população olhe para a política brasileira não apenas do ponto de vista da sua história recente.
– Quando discutimos corrupção, devemos nos apoiar numa visão realista. Há 15 anos, as pessoas de fato discutiam formas de acabar com a corrupção. De uns tempos para cá, surgiu a ideia de culpar a própria história como determinante no processo de corrupção no país.
Afonso de Albuquerque lembrou que o conceito de “quarto poder” atribuído à mídia estabelece a ideia de que a imprensa atua como representante da opinião pública. Em torno desse papel, acrescenta, a imprensa reivindica certa vigilância em relação às ações do Estado:
– O fenômeno que observo é o papel da mídia tradicional como oposição a partidos de personalidade forte, como no caso da África do Sul, da Venezuela e do Brasil. Parte do pressuposto de uma ideia implícita de que as oposições políticas dentro do Congresso não desempenham essa função de maneira sólida.
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