Luisa Oliveira - aplicativo - Do Portal
29/04/2015Em sua primeira visita ao Brasil, a professora e diretora do Oxford Internet Institute, Helen Margetts, abriu o VI Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (Compolítica), na noite da quarta-feira 22 de abril, na PUC-Rio. Sua apresentação teve como tema Turbulência política: Como as mídias sociais influenciam as ações coletivas. A cientista política, que tem quatro livros publicados relacionando governos e a era digital, abordou a relação entre internet e sociedade e internet e ações políticas. A professora mostrou dados de recentes pesquisas feitas por ela e sua equipe sobre a influência da internet nas ações governamentais, principalmente após o surgimento de redes sociais como Facebook, Tumblr, Twitter e Instagram, tema de seu último livro, Political Turbulence, de 2015, e destacou a facilidade das redes sociais para “pequenos atos de participação política, inclusive na facilidade em espalhar petições e doações”.
Nos Estados Unidos, cerca de 300 milhões de pessoas são usuários ativos de internet, o que equivale a 80% da população (enquanto na América Latina é de cerca de 60%). O número considerável de norte-americanos influi para a participação popular em movimentos contra a polícia, como no caso de Eric Garner, cidadão que morreu sufocado por policiais, que tiveram rápida repercussão, até pelo histórico de crimes raciais nos Estados Unidos:
– “Quando se tem o incidente, o número de adesões é muito rápido, e, se não há indiciamento dos envolvidos, as hashtags sobre o assunto aumentam ainda mais”, observou a professora, acrescentando que a adesão não é tão fácil de se obter: – Nos EUA e Reino Unido, por exemplo, cerca de 99% das petições não alcançam nem 5 mil assinaturas, é raro terem mais de 100 mil nomes. E, se um abaixo-assinado não gerar nada em dez horas, se tornará poeira. O sucesso delas acontece no máximo com 30 dias, e muito rapidamente. Ao mesmo tempo, são mobilizações difíceis de prevenir.
Influência das redes sociais nos indivíduos
Ainda sobre as redes sociais, Helen destacou que exercem dois tipos de influência nos usuários. A primeira, “informação social”, se refere a dados compartilhados em tempo real: nas redes sociais, sabe-se quantas pessoas aderiram às causas, quantas faltam e os objetivos. A segunda é a visibilidade: compartilhar informações pra milhões de pessoas atualmente é mais fácil que antes. No entanto, a professora destaca que a visibilidade tem melhor efeito em contribuições individuais: “Não necessariamente são o melhor jeito de se cooperar politicamente no coletivo, já que têm efeitos diferentes nas pessoas”.
Além de participar socialmente, elas influem nas ações políticas: “O governo britânico, por exemplo, mudou sua plataforma de petições e aderiram aos trending topics (assuntos mais comentados/ discutidos) encontrados em redes sociais como o Twitter”.
Liderança sem líderes?
Os protestos de junho de 2013, nos quais as redes sociais, principalmente do Facebook, tiveram que papel importante na reunião dos manifestantes e na organização do movimento nas ruas, chamaram a atenção da professora:
– Foram contribuições políticas muito grandes. A figura de um líder não era tão necessária. O que importava, de fato, era a participação popular. As características estão mudando, as pessoas também, e isso acaba diminuindo a figura de um líder ou de instituições, como aconteceu no Brasil. Exemplo disso foi quando a presidente Dilma Rousseff quis conversar com os líderes dos protestos e eles “não existiam”.
Para a pesquisadora, a influência das redes sociais e da internet resulta numa vida política mais instável que antigamente: “O pluralismo é muito mais rápido, individual e mais desorganizado também, gerando um sistema caótico. Os governos têm que se preparar para entender essas mobilizações, trabalhar com esses dados. Reino Unido e Estados Unidos, por exemplo, são bem-sucedidos no uso de dados gerados pelos usuários”.
Na composição das mobilizações, algo que despertou o interesse da professora Helen foi o fato de que algumas personalidades são mais abertas a iniciativas que outras: “Os extrovertidos entravam no início das ações. São eles que tomam as rédeas. Já os individualistas são mais envergonhados em contribuir”.
Parceria Brasil – Facebook
Em recente encontro no Panamá, a presidente Dilma anunciou a criação de uma parceria com o Facebook para ampliar o acesso gratuito à internet para a população de baixa renda e em áreas mais pobres do Brasil. A favela de Heliópolis, em São Paulo, servirá como modelo para a parceria entre a rede social e o governo brasileiro. Sobre a parceria, Helen declarou ao Portal, após a apresentação:
– Acredito que todos deveriam estar online e, nesse caminho, quanto mais pessoas tiverem acesso à internet, haverá mais interesse, mais mobilizações. As pessoas vão lutar pelos seus interesses, inclusive quando estiverem off-line. É muito importante essa participação, até mesmo na política. Por exemplo, se pensarmos nas eleições, as pessoas terão que se informar sobre o seu candidato, terão que descobrir quando serão as eleições. Haverá um interesse maior, e fazer isso sem a internet é muito difícil.
Veja fotos do encontro no Instagram do Portal.
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