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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Campus

Bonner revela bastidores do Jornal Nacional

Olívia Haiad - Do Portal

05/11/2008

Auditório da sala 102K do edifício Kennedy lotado. Do lado de fora, cabeças se espremem na pequena janela para ver quem comanda a aula do curso de telejornalismo do Globo Universidade em parceria com a PUC-Rio. Com o vozeirão e a eloqüência habituais, William Bonner conta histórias. Didáticas, reveladoras, engraçadas. Lembra William Bonemer Júnior, seu nome de batismo. Em lugar do tradicional terno escuro e da gravata impecável, blusa pólo e jeans. O tom sóbrio do editor-chefe e apresentador do Jornal Nacional dá lugar a sorrisos largos, e a uma descontração que, volta e meia, acaba em gargalhadas da platéia.

– Para vocês compreenderem quem sou, esqueçam aquela figura de terno e gravata que vêem na TV – pediu aos estudantes.

Desde 1999 na regência do Jornal Nacional, Bonner estima que já tenha feito “umas mil edições” do JN. Seu dia-a-dia é corrido. Às 11h, ele comanda a reunião de agenda do telejornal. Outras praças, como São Paulo e Belo Horizonte, participam por videoconferência, contou Bonner aos futuros jornalistas. Às 14h, define-se o espelho da edição: a ordem das matérias programadas para a edição. O editor da cada área acerta com o editor-chefe os detalhes das respectivas coberturas jornalísticas.

Uma hora depois, o planejamento é afinado na reunião de pauta. “É caótica”, disse Bonner, referindo-se ao furacão de idéias necessário na busca do melhor conteúdo e da solução de problemas.

– Esta reunião é essencial. É aí que o JN cumpre sua função de mostrar o relevante para o espectador compreender seu país – ressaltou.

Embora o cumprimento de prazos seja obrigatório para o êxito da operação, Bonner esclareceu que o jornal deve estar aberto ao imprevisto:

– Se algo muito importante acontece, temos de incluir no jornal. Como num blecaute na cidade. Não posso falar ‘o jornal já está fechado' nunca. Na concepção do JN, três aspectos são prioritários na escolha da notícia que abrirá a edição: importância, apelo popular e contexto temático. O primeiro bloco é sempre o mais longo possível, para prender o telespectador. Já a reportagem de encerramento é caracterizada como algo que possibilita um “leve sorriso nos lábios” do apresentador.

Ao fim da palestra, Bonner lembrou aos alunos a importância da dedicação profissional, independentemente do cargo:

– O furo (notícia exclusiva) só nasce quando a gente corre atrás. Equipe só é equipe quando o cara que a comanda participa da operação.

Cinco perguntas para William Bonner

Portal: O jornal pode ser modificado ao longo da apresentação? Como?

Bonner: De manhã temos a reunião da agenda do dia. Cabem tanto assuntos factuais quanto pautas pré-aprovadas na agenda. O que é combinado de manhã se modifica ao longo do dia ao sabor dos fatos, inclusive até o "boa noite". A tecnologia nos permite modificar o jornal durante a exibição. Uma notícia relevante que chega de última hora, com o jornal, aparentemente, fechado, tem de entrar. Aí há um trabalho muito difícil: a avaliação comparativa de importância desta noticia em relação às outras Para que entre no ar, preciso fazê-la caber no jornal. É um processo de dieta, o elefante tem que caber na caixinha do cachorro, como disse uma vez um colega meu e eu nunca esqueci.

Portal: Como manter a imparcialidade na cobertura das notícias?

Bonner: Todos os jornalistas devem buscar a imparcialidade, em qualquer veículo de comunicação. No que talvez seja diferente no JN é o fato de ter uma audiência muito, mas muito grande. Infelizmente, a maior parte da população brasileira se informa só pela televisão. Isso nos impõe uma responsabilidade desproporcional, incomparável em relação à de qualquer outro jornal, inclusive de papel, ou revista. Nós falamos para o Brasil inteiro, para pessoas com as mais diversas formações. Temos de ser entendidos por todos com clareza, sem agredir a inteligência daqueles que tiveram mais chances de estudar. Também não publicamos informações não confirmadas.

Portal: Como avalia os outros telejornais em relação ao JN?

Bonner: Acho que hoje a TV brasileira busca o telejornalismo. Mas não posso dizer, demagogicamente, que todos fazem a mesma coisa. Na minha opinião, o JN é o melhor disparado, até porque temos a melhor infra-estrutura de jornalismo. A Globo não nasceu ontem. Nasceu depois da criação do jornal "O Globo". Tem o jornalismo no seu DNA, e isso fez e faz diferença. Esse espírito norteou todos os investimentos da Rede Globo desde que foi criada.

Portal: Qual é a receita para conciliar a rotina de editor-chefe, apresentador e pai de família?

Bonner: Acordo todo dia às 6h15. Faço uma sessão de 40 minutos de ginástica intensa, tomo um banho e vou trabalhar. Atualmente, posso ir para a empresa à tarde três vezes por semana. Mas me comunico o tempo todo com a redação do escritório da minha casa. Quando acaba o expediente, volto pra casa, como e durmo. Minha vida social é extremamente restrita. As atividades que exigem que eu saia de casa são raras, sobretudo porque o Rio é uma cidade violenta e nós, Fátima e eu, somos muito preocupados com esta questão. Até porque já fomos vítimas de violência dentro de casa. Não freqüentamos festas nem colunas sociais.