Formado em comunicação, mas apaixonado por geografia, o professor Rogério Ribeiro assumiu na última quinta-feira, 26, o cargo de direção no Departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-Rio. Em sua lista de objetivos, ele tem como principal foco a interdisciplinaridade entre as outras áreas da universidade: “Não se pode ficar pensando a vida inteira ‘meu departamento, meu feudo’; temos que procurar os outros departamentos, não apenas por burocracia, mas sim para projetos em comum”. Em entrevista ao Portal, o diretor fala sobre os desafios do mercado de trabalho e suas expectativas nesta nova empreitada.
Portal: O Departamento de Geografia da PUC-Rio foi criado em 1969. Quais inovações o senhor pretende trazer?
Rogério Ribeiro: Eu estou ocupando esse cargo pela segunda vez. Na primeira, era ainda um departamento “anão”, que trabalhava junto ao de História. Agora, é independente, consolidado, com uma graduação forte, tanto na parte de bacharelado como na de licenciatura, e também com a pós-graduação, que está se formando de maneira intensa. Então, foram dois momentos completamente diferentes. O departamento já tem um excelente grau de maturidade, o corpo docente já é um corpo bastante estável, com a graduação, a extensão universitária, a pós-graduação extensa, o mestrado muito bem avaliado... Nós estamos agora com o doutorado em vias de implantação, já temos até pessoas nos procurando para pós-doutorado. Meu objetivo agora é no desenvolvimento horizontal, na relação com outros departamentos da PUC. Não se pode ficar pensando a vida inteira “meu departamento, meu feudo”. Temos que procurar os outros departamentos, não apenas por burocracia, mas para projetos em comum. Todos nós temos o costume de ficar fechados em nossos departamentos, não temos essa cultura de permear. Então, a interdisciplinaridade é muito importante, e a PUC favorece muito esse tipo de relação.
Portal: Sua área de especialização é a ecologia da Mata Atlântica, a história ambiental e a ecologia histórica. Pretende desenvolver mais atividades voltadas para essas áreas?
Ribeiro: Não podemos esquecer que a geografia é muito ampla, tem um oceano de extensão, abrange diversos assuntos, tanto a geografia física como a humana. A interação é extremamente importante e, mais ainda é fazermos com que todas essas áreas apareçam. Sou jornalista de formação, fiz comunicação aqui na PUC, e segui para a área de ecologia de floresta e história ambiental. Essa área de história, que é essencialmente interdisciplinar, necessita envolver outros departamentos, e a maior riqueza da geografia é a diversidade. Diversidade e integração. Tentar compreender a diversidade é, para mim, o papel da geografia.
Portal: Que estratégias o senhor pretende adotar para atrair alunos na área de geografia e meio ambiente?
Ribeiro: Basicamente, queremos voltar a dialogar com as escolas de Ensino Médio. As pessoas não têm conhecimento do que seja a geografia. Não é fazer propaganda da PUC, mas explicar o que é a geografia e, claro, mostrar o que ela é na nossa universidade. Se começamos com uma boa base, isso tem influência até no doutorado. Acho muito importante procurarmos a diversidade. Não apenas em escolas particulares, mas nos cursinhos comunitários de vestibular, incentivar a procura dos alunos com o nosso curso. Mestrado e doutorado têm uma procura que não precisa fazer propaganda, mas para a graduação é preciso convidar, mostrar que a geografia tem um papel importante na sociedade, de tornar o indivíduo plural, flexível, que possa atender diversas áreas. Por isso, o que procuro é a integração de alunos e entre outros departamentos.
Portal: Falando em Meio Ambiente, vivemos em uma época delicada no cenário brasileiro. Com as recentes cenas de seca, quais os projetos que o departamento pretende realizar para conscientizar os alunos e frequentadores da PUC?
Ribeiro: Com relação à crise hídrica, nós já temos alguns projetos que não possuem necessidade de mudança. Então, em primeiro lugar, há coisas que são ligadas a ideologia, de como compreender processos, por exemplo: qual o papel das florestas protetoras e mananciais em situações feito essa? É algo muito ideológico. Mas só isso não basta, é necessário também desenvolver projetos na área do entendimento: quais são os processos sócios ecológicos ligados a água? Como o homem e a natureza interagem? Qual o lado humano e “não humano” da água? Não basta ficar só mente na climatologia. Homem e natureza interagem e isso é bem geografia.
Portal: Que desafios e possibilidades os interessados na área de geografia encontram no mercado de trabalho atual?
Ribeiro: Há uma barreira que precisamos batalhar muito para superar. Atualmente, pede-se alguém que tenha flexibilidade intelectual, no sentido de conseguir dialogar com diversas disciplinas, e nesse ponto, a geografia tem um papel muito importante: formar um geólogo que seja flexível, que saiba transitar entre o lado humano e “não humano” da vida.
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