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Rio de Janeiro, 30 de dezembro de 2024


Ciência e Tecnologia

Redes sociais mudam os rumos do jornalismo impresso

Mariana Totino - aplicativo - Do Portal

08/04/2014

 Reprodução

As redes sociais não só aproximaram os usuários de marcas presentes na internet, como também mudaram a dinâmica da produção de notícias. Para falar sobre o papel das redes sociais nesse cenário de mudanças, com a queda do consumo e da publicidade em meios impressos, a jornalista Nívia Carvalho, que participou da criação da editoria de Mídias Sociais de O Globo – veículo no qual ocupou o cargo de coordenação do programa de estágio desde 2006 –, participou do ciclo de palestras de comunicação impressa, na segunda-feira, 31, no auditório do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio.

Nívia lembrou que, em 2006, ainda era preciso explicar o que era “Twitter” a muitas pessoas, jovens estagiários inclusive. Em 2010, um ano depois do americano New York Times implantar uma redação voltada para essas plataformas digitais, O Globo inaugurou uma das primeiras editorias de redes sociais em grandes redações de veículos impressos no país, junto de outros três grandes jornais brasileiros: Folha de S.PauloEstadão e Zero Hora. 

– Apesar de serem concorrentes, os jornais conversavam entre si para entender a nova maneira de fazer jornalismo. Era diferente do impresso e dos sites. A abordagem e a linguagem eram outras. A principal novidade foi a proximidade com a audiência e a avaliação do público em tempo real, que é o que mais impacta para fazer esse jornalismo. Para enviar um e-mail, a pessoa escolhe um momento melhor para enviá-lo, pensa melhor. Nas redes sociais, fala na hora – destacou a jornalista.

Com a migração para as novas plataformas digitais, a concorrência também ficou mais acirrada. O imperativo é se reinventar, e as companhias tradicionais de mídia passaram a ser mais pressionadas pelas empresas de tecnologia. Hoje, observou Nívia, o próprio New York Times se considera uma empresa de tecnologia. Reprodução

Nívia cita sites que recebem muitos compartilhamentos em redes sociais como o Mashable, que recentemente contratou profissionais para produção de conteúdo, e o Buzz Feed, que recebe muitos compartilhamentos em postagens com “listas dos 10 mais”, mais “descontraídas”, sobre temas diversos. Investir em editores estrangeiros para conquistar maior alcance em outros países é outra realidade desses portais. Nívia resssalta que, apesar de criarem muitas “iscas para provocar clique de leitores”, os sites têm equipes qualificadas e contam com grandes redações. Mesmo concorrendo com empresas de mídia tradicionais, a maior parte da informação compartilhada em sites vem da mídia tradicional.

Celeiro de pautas

Embora se defina uma apaixonada por redes sociais, Nívia disse defender “ardentemente” os profissionais que trabalham em redação. O jornalista conectado na rede assume o papel de mediador e de “farejador” de notícia.

– As redes redefiniram a apuração. Lembro que descobri no Twitter matérias sobre o apagão. Demorou até as autoridades falarem. Muita coisa é achada antes no Twitter. Depois de junho do ano passado, não há dúvidas de que são ferramentas democráticas, pela cobertura feita por quem estava na rua. Reprodução

Ao lembrar um compartilhamento, feito pelo perfil-fake Dilma Bolada no Twitter (imagem ao lado), sobre a demarcação de territórios indígenas na Amazônia, a jornalista contou que, mesmo sabendo que não havia notícia sobre o assunto, sentiu que o tema deveria ser acompanhado. Pouco tempo depois, a ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, divulgou uma foto com habitantes de comunidade indígena. O que podia ser apenas uma brincadeira se confirmou: “Com o tempo, se descobre a diferença entre o humor e a notícia”, disse Nívia.

Na rede, a competição também ficou mais acirrada. Enquanto o perfil de O Globo no Facebook tem 2,3 milhões de seguidores, o presidente dos Estados Unidos Barack Obama tem 42,4 milhões no Twitter e a cantora britânica Kate Perry ultrapassa os 52 milhões.

– Cuidem bastante da sua reputação digital. Compartilhem coisas sérias, que não afetem a vida das pessoas. Faça um teste, de repente vocês criam uma “Dilma Bolada”. É só ter uma boa ideia e saber alimentar as dos outros. Não tem lugar melhor para aprender a fazer título do que na rede. É uma ótima plataforma – aconselhou Nívia, destacando características e funções principais das redes, como rastrear pautas; pedir e receber colaboração; avaliar a temperatura da notícia; descobrir tendências e rumores; ter trabalho analisado em tempo real e atingir audiência espalhada, fora da esfera local.

 Reprodução A regra que prevalece sempre é o bom senso, para não "surfar em qualquer onda". Além disso, saber respeitar os remixes, a colaboração e reconhecer os colaboradores é fundamental para manter a audiência. Um registro de um eclipse lunar que só foi visto no Sul do país (onde o jornal O Globo não tem sucursal) pode ser compartilhado em graças à colaboração de um internauta que cedeu sua foto do evento ao site do jornal. Outra característica da rede é que os leitores gostam de reconhecimento:

– Antes as notícias eram lidas 24 horas depois de publicadas. Hoje, imediatamente, o link se espalha pela rede e criticam, elogiam, comentam. Na rede social, até porque as pessoas estão identificadas, o discurso é mais limpo. Muitas vezes quando o leitor aponta algum erro que cometemos, ele está certo e fazemos a alteração. A interação entre veículo e leitor, que foi vertical durante muito tempo, agora é via de mão dupla – afirmou Nívia, que depois completou: – Nem meu chefe me vigia tanto!

Redes sociais como ferramenta de trabalho

No ambiente corporativo, acessar redes sociais pode parecer falta de interesse e produtividade. Em redações, a prática é comum. Mas não foi sempre assim. Para as redações que não nasceram on-line, foi preciso convencer os repórteres sobre a importância das novas mídias. Nívia contou que via muitas pessoas mais novas que não sabiam mexer nas redes sociais. Para a jornalista, quem nasceu no mundo digital vê os profissionais de redações tradicionais como “dinossauros”, mas, na opinião dela, isso vai mudar. 

– O chefe passa na redação e estão todos com o Facebook aberto, para “sentirem a temperatura” das notícias. Hoje, as redes sociais são ferramenta de trabalho como foi o telefone, o celular.  São importantes e vitais para os jornalistas. O profissional que não usa rede deixa um celeiro de pautas de lado.

Assista aqui ao vídeo da palestra com Nívia Carvalho.