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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Economia

Brasil vive bom momento para startups, afirmam especialistas

Luis Edmundo Sauma - aplicativo - Do Portal

21/02/2014

Arte: Viviane Vieira

O mundo universitário reserva não raramente mudanças de rumo profissional, parte deles impulsionada pelo apetite dos jovens adultos para empreender. O estudante Pedro Bertacchini, por exemplo, cursa o 5º período de Relações Internacionais na PUC-Rio, mas trabalha na área comercial de uma empresa inserida no crescente nicho de startup. Inciativas como a Zoony, site de auxílio à inserção no mercado de trabalho (treinee), e o Startup Rio, que vai dirigir R$ 5 milhões ao desenvolvimento de projetos de 50 empresas selecionadas, atraem um volume cada vez maior de universitários de diversas áreas.

– Apesar de os funcionários de startups serem de áreas como Administração e Marketing, qualquer um pode fazer parte desses projetos. No meu caso, além do perfil para trabalhar em escritório, eu tinha uma ideia diferente sobre o curso de RI – justifica Bertacchini.

A disputa por vagas no segmento das startups tornou-se acirrada entre universitários. Como tais iniciativas exigem investimento inicial pequeno, as sedes costumam ser instaladas em incubadoras, cujo propósito é assegurar um ambiente propício ao crescimento, com suporte contábil, jurídico e financeiro.

Além da ajuda fornecidas pelas incubadoras, uma startup precisa de um empurrãozinho financeiro dos chamados investidores-anjo: uma pessoa física ou jurídica que ajuda não só com recursos monetários, como também em atributos associados à experiência profissional e à rede de relacionamentos. Segundo a Associação Anjos do Brasil, o país já reúne 6.450 investidores-anjo, que injetaram no setor mais de R$ 600 milhões em 2012, aumento de 25% em relação ao ano anterior. Para o presidente da Anjos do Brasil, Cássio Spina (foto), o êxito de uma empresa nascente é bom para toda macroeconomia nacional:

 Divulgação – Um investimento anjo proporciona ganhos não só para os investidores, mas para a economia do país como um todo, já que seu foco são empresas inovadoras de alto potencial. Assim, os sucessos proporcionarão negócios com grande geração de empregos qualificados e tributos recolhidos – projeta.

Fora os investidores de ofício, observa-se uma participação maior de pessoas físicas no crescimento das startups. Em países desenvolvidos, é possível fazer doações por meio do sistema de crowdfunding, espécie de vaquinha virtual. Como a legislação brasileira proíbe o processo de “vaquinha online”, as startups brasileiros se apoiam substancialmente nos investidores-anjo. E os insumos vindos deles têm naturezas diversificados, em cuja combinação se apoia a chance de sucesso das startups. "Geralmente as startups de sucesso são aquelas que resolvem problemas”, sintetiza Fernando Okumura, fundador da Kekanto, rede social direcionada à troca de opiniões e recomendações sobre serviços e lugares.

– Eu e o Bruno Yoshimura (cofundador da empresa) éramos empreendedores no ramo de construção civil e identificamos um problema crônico no setor: a contratação de profissionais qualificados. Assim, criamos uma plataforma para os clientes avaliarem os prestadores de serviço. Depois de pronta, vimos que o custo para expandirmos nossa área de atuação era zero. Então, começamos a disponibilizar o site para outras categorias, como bares, restaurantes e salões de beleza – conta, animado, Okumura.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Gustavo Caetano, a carência de projetos inovadores em áreas consideradas estratégicas impulsiona o avanço das startups do mercado brasileiro. Ele exemplifica:

– Setores como educação, saúde e finanças são áreas fortes no Brasil, mas que não têm projetos inovadores, exatamente o que as startups trazem. 

“O Brasil tem várias oportunidades inexploradas”, diz presidente da Associação Brasileira de Startups

Somada ao suporte dos investidores-anjo, a criação da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), em 2012, busca "educar os que querem mergulhar nesse mundo de inovações". O crescimento das startups já move uma agenda intensa e uma rede de cooperação – ou um "ecossistema", nas palavras de Caetano:

– Com apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequena Empresas (Sebrae) e dos nossos 17 representantes regionais, fazemos eventos locais para ajudar os que querem estrear no mercado de startups. Buscamos fomentar esse ecossistema.

Ainda conforme o presidente da ABStartups, o Brasil revela-se proveitoso à multiplicação de startups:

– Temos várias oportunidades a serem exploradas. Comparando com os Estados Unidos, por exemplo, lá é menos burocrático para abrir o negócio, mas a concorrência é enorme – observa Caetano, que é também o CEO da Sambatech, líder em distribuição de vídeos voltados para comunicação interna da América Latina, com clientes como TV Globo, Band, Grupo Abril e Samsung.

O relatório de 2012 da Startup Genome, que ajuda a mapear as startups mundo afora, aponta São Paulo como a 13ª cidade com o ecossistema mais favorável para começar uma startup. A capital paulistana é a 5ª colocada no quesito “mentalidade empreendedora”, porém perde em “talento” (19º), “pioneirismo” (16º) e “desempenho” (15º). Para Okumura, o ambiente brasileiro é "bom", mas ele lembra que o país "não vive a mesma prosperidade de alguns anos atrás":

 – Apesar de não ser um momento tão bom quanto 2010, 2011 e 2012, se olharmos em longo prazo, temos um período excelente. Hoje em dia, há várias formas de infraestrutura para se começar uma empresa – avalia.

Do ponto de vista do investidor-anjo, Spina identifica uma necessidade de aperfeiçoar a proteção e os incentivos aos que planejam ajudar essas empresas nascentes. Tais carências, segundo ele, representam os maiores desafios no cenário brasileiro:

– Nós (investidores) arriscamos capital em função do maior retorno. Entretanto, devido à falta de regulamentação da personalidade jurídica das empresa, existe o risco de, além da perda de capital, despesas com passivos adicionais, mesmo que essas não tenham qualquer envolvimento na administração – argumenta.

A participação do governo tem se ampliado nos últimos anos. O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) lançou, em 2013, o programa “Startup Brasil”, que pretende investir mais de R$ 40 milhões até o fim desse ano em empresas em estágio inicial. Foram selecionados 40 projetos e quatro incubadoras, inclusive a gigante Microsoft. Caetano ressalva, porém, que a burocracia e a complexidade tributária mostram-se ainda barreiras renitentes:

– O governo tem começado a olhar com mais carinho para essas iniciativas, mas ainda há muito a ser feito. Um problema para nós (startups) é a quantidade de impostos e, principalmente, a sua diversidade. Existem empresas que despendem muito dinheiro só com advogados, para entender esse processo tributário – constata Caetano.

Dropbox, Vimeo e Instagram: startups ontem, gigantes do mercado atualmente

Nem sempre o tamanho é um fator preponderante ao êxito nessa área. Uma startup ser de menor porte pode contribuir para um melhor relacionamento com o cliente, pondera Bertacchini. Ele observa na Zoony (foto) uma relação cliente-firma mais estreita em comparação aos pesos-pesados do segmento:

– Buscamos criar um relacionamento com os nossos consumidores. Fazemos post nas redes sociais com Divulgação curiosidades e dicas sobre a vida universitária e o mercado de trabalho, visado ajudá-los e, no fim, colocamos o link para o site. Fizemos nosso portal o mais leve possível, algo como se cadastrar em um site de jogos. Os grandes do nosso ramo têm o único interesse de vender o anúncio – compara.

Em diversos casos, a grande empresa começa como startup. Dropbox (serviço de armazenamento de arquivos online), Vimeo (compartilhamento de vídeos) e Instagram (compartilhamento de fotos), por exemplo, são sinônimos de negócios iniciados em uma aceleradora e hoje integrantes do primeiro escalão do mundo cibernético.

Avaliado em torno de US$ 10 bilhões, o Dropbox, criado há seis anos, já recebeu cerca de US$ 500 milhões vindos desde investidores como Y Combinator e Sequoia Capital até celebridades como o cantor Bono Vox, da banda irlandesa U2. Em novembro do ano passado, a empresa anunciou ter ultrapassado a marca de 200 milhões de utilizadores, número quatro vezes maior se comparado com outubro de 2011. O Instagram, por sua vez, foi comprado pelo Facebook, em abril de 2012, por aproximadamente US$ 1 bilhão. Em setembro do ano passado, a rede social contava com mais de 150 milhões de usuários ativos por mês. Já o Vimeo, com 22 milhões de usuários cadastrados e 100 milhões de acessos únicos mensais (dados de dezembro do ano passado). Perde só para YouTube e Facebook em visitantes únicos mensais no quesito compartilhamento de vídeos. Para Caetano, a trajetória do Instagram é um manual para o sucesso:

– A empresa se propôs a ser uma rede social focada em fotografias e, a partir disso, crescer no mercado. Em nenhum momento tentaram competir com os grandes, como Facebook. Uma das chaves para o sucesso é essa especificidade que o Instagram tem – indica.

Orientação para criar uma startup de sucesso, segundo especialistas

1) Escale um time. Pessoas individualistas raramente conseguem construir um negócio significante.

2) Monte esse grupo de forma alinhada, com pessoas que tenham habilidades complementares e personalidades compatíveis.

3) Trate de um problema importante, e que afete um mercado grande.

4) Tire a ideia do papel antes de apresentá-la ao investidor. “A ideia não tem valor nenhum. O que tem valor é a execução”, diz Caetano.

5) Foque em algo que ninguém faz. A especificidade é a alma do negócio.

6) Deixe sempre claro para o investidor-anjo quais são seus interesses e intenções.

7) Prime pelo compromisso com toda as partes. Nunca se comprometa com algo que não vá cumprir.

8) Busque sempre condições que sejam equitativas para ambas as partes.