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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Economia

A sete meses da Copa, inglês sofre retranca dos brasileiros

Igor Novello - Do Portal

08/11/2013

 Arte: Nicolau Galvão

Depois da recepção ao papa Francisco e aos peregrinos da Jornada Mundial da Juventude, em que trabalharam diretamente 52 mil brasileiros (dos quais 45 mil cariocas), e às vésperas de eventos internacionais como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, que vão movimentar a economia do país, o nível de inglês dos brasileiros está longe se ser satisfatório. Apesar de oito entre dez brasileiros considerarem falar inglês muito importante (86% dos entrevistados em 2012), apenas 5,3% têm fluência na língua, aponta pesquisa realizada pela Euromonitor International para o British Council.

Mesmo com a baixa proficiência na língua, o mercado de trabalho cada vez mais exige a fluência em inglês. Dados levantados pela Euromonitor International no Brasil apontam que 55% das empresas que anunciam em jornais ou na internet procuram funcionários que têm o inglês como segunda língua.

Segundo a diretora do British Council, Nina Coutinho, as dificuldades se resumem a dois tipos: a falta de paciência para estudar durante muito tempo e o medo de errar diante de pessoas com fluência na língua. Deficiências do próprio sistema educacional também dificultam o aprendizado e a compreensão de outro idioma, de acordo com a diretora.

Para Márcia Cardoso, uma das coordenadoras da CNA, escola com 39 anos de experiência em cursos de idiomas e com mais de 500 instituições em funcionamento, os obstáculos vão além das complicações relacionadas à motivação:

 – A necessidade de ingressar logo no mercado de trabalho, por questões econômicas, para complementar a renda familiar, contribui para que menos brasileiros tenham acesso ao aprendizado.

Sérgio Barreto, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo Ometz, que fundou a Wise Up, concorda que o acesso ao inglês é restrito, e critica o ensino de línguas nos colégios:

– Temos um histórico de política de ensino de idiomas que não determina claramente os parâmetros que devem ser alcançados dentro de cada estágio do ensino Fundamental e Médio. Com isso, o inglês se tornou uma alegoria dentro da maioria das escolas. E a solução são os cursos de idiomas, a que nem toda a população tem acesso.

Para Nina Coutinho, do Britisch Council, o melhor modelo de ensino é aquele direcionado ao que exige o mercado de trabalho:

– É preciso primeiro decidir que objetivo se quer alcançar com os cursos de idiomas oferecidos na educação básica, e, então, desenhar e implantar políticas que ajudem a caminhar na direção escolhida. A necessidade de alguém que pretenda trabalhar numa empresa pode ser de fluência oral em situações específicas de trabalho. Nesse caso, é preciso desenvolver a compreensão e a produção orais. Já quem vai optar por uma carreira acadêmica pode ter o objetivo de aprender inglês para publicar trabalhos científicos, ou para estudar no exterior, o que pede um preparo diferente, bastante voltado à leitura e escrita técnicas.

 Divulgação Já Marcia Cardoso acredita que começar a aprender o idioma desde cedo e manter o aprendizado com o tempo é, sim, a melhor maneira para ter um bom inglês:

– Bilinguismo desde a primeira infância e a imersão em, pelo menos, quatro horas diárias é suficiente para garantir um ótimo nível.

Com tantos casos diferentes em relação à exigência da língua, seja pela parte oral ou pela parte escrita, os cursos disponíveis apresentam diversos modelos distintos de ensino. Como lembra Márcia Cardoso, hoje é possível aprender inglês de forma mais rápida e direcionada ao mercado de trabalho, e técnicas para se comunicar com turistas:

– Hoje são diversas as opções oferecidas pelos cursos. No CNA, por exemplo, abrimos modelos como o Fast, que ensina de uma forma rápida (15 meses) e é voltado para o mercado de trabalho. E temos o Hello, de apenas seis meses, voltado para o turismo receptivo, onde o público alvo são taxistas, profissionais de hotelaria etc.

Oportunidades para prestadores de serviços e para estudantes

Com a expectativa de receber cerca de 500 mil estrangeiros durante a Copa, de acordo com a Embratur, a Prefeitura do Rio vem preparando a cidade para qualificar a recepção de turistas. Segundo a Riotur, cursos de inglês serão oferecidos para os agentes da Guarda Municipal, que terão maior contato com os gringos. O início das aulas para os guardas que atuam no Grupamento Especial de Praia (GEP) e no Grupamento de Apoio ao Turista (GAT), que começariam em setembro, foram adiadas para janeiro.

Além dessa medida para melhorar a comunicação direta com os estrangeiros, a Riotur mantém um site bilíngue de programação e 19 postos de informações turísticas. Nesses quiosques são encontrados mapas da cidade e profissionais para informar e dar dicas sobre restaurantes, hotéis e pontos turísticos.

 Divulgação As oportunidades não se resumem aos prestadores de serviço: estudantes que cursam em diferentes áreas também terão chances profissionais em estágios durante os eventos esportivos. É o caso do programa de estágio oferecido pela HBS (Host Broadcast Services), empresa responsável pela geração do sinal internacional. Segundo a gerente de treinamento da companhia de transmissão, Bruna Lopes, 430 vagas de estágio serão oferecidas pela HBS nas 12 cidades sedes da Copa. A gerente alerta sobre a fluência em língua inglesa:

– Em alguns lugares, infelizmente, tivemos problemas com candidatos em relação à fluência no inglês. Muitos foram reprovados, pois a proficiência é fundamental e é o que diferencia os candidato na seleção. No entanto, aqueles que tiverem um nível intermediário ou avançado e conseguirem se comunicar também terão oportunidades.

Os estagiários vão atuar em suas áreas de estudo, especialmente informática, produção audiovisual, logística, turismo, letras, recursos humanos e contabilidade. As atividades vão desde o manuseio de equipamento dos comentaristas (assistente de comentarista) até o suporte de logística, na parte administrativa, de recursos humanos.

PUC-Rio oferece duas opções de curso de língua

O curso de inglês da PUC nunca foi tão procurado. De acordo com a assistente de marketing Luana Barbosa da Coordenação Central de Extensão (CCE PUC-Rio), no início deste ano o número de matrículas bateu o recorde com 271 alunos, 10% a mais que no ano anterior. Com duas opções de cursos, os alunos matriculados podem escolher entre o oferecido pelo CCE e o do Departamento de Letras, usando créditos do curso em matéria eletiva. Pelo CCE, podem se inscrever não alunos, sendo necessário estar pelo menos no Ensino Médio, e fazer uma prova de nivelamento. Luana destaca:

– Os professores praticamente são os mesmos. Os que dão aula pelo CCE também dão aula pelo Departamento de Letras da PUC. Então, não há uma diferença no ensino do inglês entre essas duas opções de curso.

Baseado no esquema do passo a passo, o modelo de ensino consiste em oito módulos que duram quatro anos. Apesar do recorde nesse semestre, Luana alerta sobre uma contradição em relação ao número de alunos em níveis básicos e níveis avançados. Com isso, fica evidente a falta de paciência da maioria:

– Tivemos um recorde de alunos matriculados para esse período. Porém, infelizmente, com o passar dos níveis, o número de pessoas vai diminuindo. A evasão é grande, pois muitas pessoas não terminam.

Para quem conclui o curso ou têm fluência e deseja manter o inglês em dia, a CCE oferece o nível avançado de conversação.