Padre Laércio Dias de Moura (1918-2012), reitor da PUC-Rio por 21 anos (1962-1970 e 1982-1995), é sempre lembrado por sua capacidade de conciliar, de negociar e de ouvir os interlocutores, especialmente em períodos de mudança vividos no país, como o início e o fim da ditadura e crises financeiras, à frente de uma das maiores universidades do país. Nesta quinta-feira, 17, padre Laércio será homenageado na inauguração do novo prédio do Departamento de Tecnologia em Computação Gráfica (TecGraf), setor criado em sua gestão. O prédio, erguido no estacionamento da PUC, terá o nome do ex-reitor, que inaugurou também as alas Cardeal Frings e Kennedy do Edifício da Amizade.
Criado em 1985, o Departamento de Comunicação Gráfica é apenas uma das muitas melhorias implantadas durante a gestão de padre Laércio. Ele inaugurou o primeiro computador da PUC-Rio e deu início às atividades do Rio DataCentro (RDC). Já em seu segundo mandato, criou o Projeto Comunicar, sob a coordenação do Departamento de Comunicação Social, e o doutorado em física, além de núcleos como o de Estudos e Ação sobre o Menor (Neam), de Orientação e Acompanhamento Psicológico (Noap) e o Centro Loyola de Fé e Cultura. Nesta mesma época, a PUC-Rio tornou-se pioneira ao oferecer pós-graduação em informática e mestrado em Design.
Coordenador do Projeto Comunicar – outro projeto pioneiro que marcou o período em que padre Laércio esteve à frente da universidade, e da Pós-Graduação em Comunicação Social, o professor Miguel Pereira se lembra de um seminário sobre a Constituinte, realizado em 1986, em que o reitor esteve presente e atento a todas as palestras.
– Durante os anos de ditadura, respirou-se liberdade na PUC. Padre Laércio defendia os menos favorecidos e evitou que a universidade fosse invadida. Ele foi homem de conciliação, determinado, bom e terno, com personalidade marcada por equilíbrio e consenso. Tínhamos uma relação de extrema amizade com ele.
Além do clima de mudanças sociais, lidou com desafios que surgiam dentro da universidade. Em 1968, foi instaurada uma reforma de adequação à nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Estabeleceu-se o regime de créditos, e os departamentos passaram a ser organizados em centros. Foram criadas as vice-reitorias, a Diretoria de Admissão e Registro e cursos de pós-graduação.
– Foi um grande reitor, que deixou saudade. No período da ditadura, não permitiu a interferência do poder militar na universidade. Ele teve a coragem e a nobreza de, durante muitos anos, permitir que a PUC acolhesse professores que haviam sido expulsos de universidades públicas, pois o critério para se admitir um professor deve ser a competência. Acho bonita e justa essa homenagem – afirma o vice-reitor comunitário, professor Augusto Sampaio.
Sampaio ainda lembra que padre Laércio respeitava a autonomia dos departamentos e deixou como herança o esforço para manter sempre uma boa relação entre direção e corpo docente:
– Ele era um diplomata. Tinha três requisitos que o tornavam imbatível: era mineiro, advogado e jesuíta. Incapaz de se exaltar, até mudava de fisionomia quando estava chateado, dava para perceber. Era um homem culto, de grande delicadeza.
Mineiro, advogado e jesuíta são palavras usadas para descrever sua personalidade. Ele ouvia a todos e tinha cautela ao tomar decisões; culto, cursou doutorado e estudou em Roma e Paris, e foi professor de Direito na PUC. Para a coordenadora acadêmica do Núcleo de Memória da PUC-Rio, Margarida Neves, criado há 50 anos, ele nunca perdeu a mineirice. Era ao mesmo tempo discreto e presente:
– Padre Laércio não era apenas um reitor que fazia. Era competente, mas mais que isso, era muito próximo. Ele criava, dava força para que fizessem – afirma Margarida.
Padre Jesus Hortal, também ex-reitor da universidade, por 15 anos, professor de Teologia e atual reitor da Universidade Católica de Petrópolis, destaca além da capacidade de negociação, a crença que o antecessor tinha em Deus e nos jovens:
– Encontrava-o sempre na capela rezando. Era um homem de oração. Não à toa ficou por 21 anos, em dois períodos, como reitor. Não teria aguentado se não tivesse força.
De acordo com o ex-professor e ex-diretor do Departamento de Economia da PUC-Rio Eurico Borba, ex-reitor de Desenvolvimento da universidade, a PUC deve muito aos anos em que padre Laércio foi seu reitor. Ele se lembra do padre como um homem bom e sério:
– Na intimidade, ele tinha conversa agradável. Brincava que, com seu jeito sisudo e sendo poliglota, seria um ótimo candidato a portaria de hotel. Na ditadura, ele se impunha. O campus foi invadido duas vezes pela polícia, e a universidade passou por dificuldades financeiras no pagamento de salários. Contornou muitas dificuldades, economizando em despesas e diminuindo o consumo de água na universidade, e teve que fazer sacrifícios. No entanto, resistiu com muita habilidade, enfrentava com serenidade e não perdia humor – enaltece professor Eurico.
Leia, em Opinião do Professor, o artigo do professor Eurico Borba sobre padre Laércio: O reitor que fez a PUC-Rio ser o que é hoje
Leia a reportagem Aos 93 anos, morre padre Laércio Dias de Moura
Leia homenagem do Núcleo de Memória ao ex-reitor.
O reitor que fez a PUC-Rio ser o que é hoje
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