Miguel Pereira* - Do Portal
03/06/2013Robert Redford é um ótimo ator que, como Clint Eastwood, se tornou também diretor de cinema. De Gente como a gente (Ordinary People), de 1980, bem acolhido pelo público e pela crítica, transitou por diversos gêneros, mas não conseguiu criar um estilo próprio de narração, como Clint Eastwood vem marcando seu trabalho atrás das câmeras. Sem proteção, seu filme mais recente, é uma investigação sobre o passado de um grupo de ativistas radicais que submergiram, com nomes falsos, por mais de três décadas para escapar à prisão. O lado mais curioso dessa história ficou à margem. Está contemplado, mas não é o centro da narrativa. Não reavalia o passado, nem questiona o sentido que moveu aquela geração de jovens rebeldes. Funciona como um dado de fundo que ancora os meandros de uma reportagem investigativa levada a efeito por um jovem e destemido jornalista. Neste particular, tem alguma relevância no que diz respeito à ética e ao comportamento da imprensa. A complexidade da situação merecia um tratamento mais consistente para que o relato aprofundasse um pouco mais o desenho dos personagens e das situações. Utiliza em demasia o recurso das elipses, deixando o espectador um tanto perdido no que diz respeito à proposta do filme.
O que sobressai, nesse contexto, é a eficiência da narrativa de Redford e um ótimo controle do ritmo. Trata-se de um filme de ação que joga com a oposição do bem e do mal, num ato comum, sem atingir os espaços de maior significação que o melhor cinema é capaz de fazer. Conta com um elenco eficiente de veteranos e um grupo de jovens atores, além de um ambiente cênico controlado e bem elaborado. São qualidades presentes no filme que demonstram a sua competência artesanal. Assim, Sem proteção reúne as boas características do cinema americano tradicional, sem apelar para aqueles efeitos especiais invasivos que ninguém mais aguenta ver e ouvir. Esses sistemas de pós-produção e digitalização estão cada vez mais supérfluos e quase nada acrescentam aos filmes. Viraram pura poluição sonora e visual, previsíveis, repetitivos e de formas banais, com raríssimas exceções, do ponto de vista das estéticas contemporâneas. A impressão que se tem é que a máquina é que determina o ponto do vista e não o criador que está por trás dela.
Além das virtudes assinaladas, destaque indiscutível para o próprio Redford no papel do protagonista da história e as divas Julie Chistie e Susan Sarandon, assim como Nick Nolte e o jovem Shia LaBeouf, compondo um elenco afinado num tom maior.
* Miguel Pereira é professor da PUC-Rio e crítico de cinema.
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