Rodrigo Serpellone* - Do Portal
18/04/2013A taxa de desemprego no Brasil caiu 6,9 pontos percentuais nos últimos dez anos (de 12,4% em 2003 para 5,5% em 2012, segundo o IBGE), e o número de vagas para jovens no Rio acompanha esta tendência. Segundo pesquisa do movimento Rio Como Vamos (RCV), o primeiro emprego formal para jovens na cidade aumentou de 44 mil para 55 mil, de 2009 a 2011 (último ano com dados disponíveis), um crescimento de 20% em três anos. Entre os setores de trabalho, o destaque do Rio é a área de serviços, que empregou 36.839 jovens em 2011. O setor de comércio teve uma queda de 22,43% em relação a 2010 e empregou quase 15 mil. Já a construção civil subiu 24,5% e abriu 5.412 novas vagas em 2011.
A média salarial dos jovens de 15 a 24 anos vem aumentando desde 2008. Série histórica dos indicadores do Rio Como Vamos mostra que, em 2011, foi 9,5% maior do que em 2010 e, naquele ano, cresceu 8,4% em relação ao anterior. No ano passado, em valores absolutos, a média salarial desses jovens foi de R$ 1 mil. Em 2012, até agosto, o setor de serviços criou 28 mil novos postos, dos quais 18 mil para a faixa etária de 15 a 24 anos.
A expectativa é de que este panorama melhore com a aprovação do Estatuto da Juventude pelo Senado nesta terça-feira, 16, estabelecendo direitos para os jovens de 15 e 29 anos. O estatuto agora segue para a Câmara, onde já havia sido aprovado há dois anos. Como os senadores efetuaram mudanças, o projeto volta agora à mão dos deputados. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011, do IBGE, indicam que pouco mais da metade dos brasileiros (51,1%) concluiu o Ensino Médio até os 19 anos, idade considerada adequada.
Aliada aos dados do Pnad, a ONG Todos Pela Educação criou cinco metas para a educação brasileira atingir em 2022. Entre elas, a de que 90% dos jovens brasileiros tenham terminado o Ensino Médio até os 19 anos, o que hoje não é cumprido: em relação a 2009, o crescimento no número de jovens desta idade que já concluíram este nível de ensino foi de 0,9 ponto percentual. A professora Carolina Dias, da Coordenação de Ensino de Empreendedorismo da PUC-Rio, considera a meta possível, mas questiona se isso basta para resolver os problemas da educação brasileira:
– Será suficiente que todos tenham concluído o Ensino Médio? Isso vai servir para melhorar as chances de inserção do jovem no mercado de trabalho? A escola está preparando os jovens para o mundo do trabalho? Acho importante e necessário que a sociedade debata sobre o tipo de formação que estamos oferecendo no sistema educacional. Sem isso, qualquer plano de metas perde o sentido.
Um dos desafios dos jovens é conciliar estudo e emprego. Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que 77% dos jovens trabalhadores remunerados estudam menos de dez horas por semana de forma complementar às aulas. Entre os que não trabalham, essa taxa cai para 64,6%. Mestre em Comunicação e gerente administrativa do Grupo de Indústria e Competitividade da UFRJ, Carolina Dias adverte que não é fácil trabalhar e estudar ao mesmo tempo, já que as dificuldades vêm dos dois lados:
– Constato que as instituições de ensino não oferecem muitas opções de horários para quem tem que trabalhar. Há poucos cursos noturnos, praticamente não há espaços de convivência gratuitos e compartilhados para quem precisa ficar o dia todo fora de casa. As empresas também não aliviam os jovens só porque estudam.
Logo após trocar a faculdade de química na Universidade Federal Fluminense (UFF) por uma faculdade particular de biologia, ano passado, Priscila Mesquita começou a exercer, aos 19 anos, a função de auxiliar de loja na rede Drogaria Moderna, no Recreio dos Bandeirantes. Ela conta que entrou no mercado de trabalho para arcar com os custos da universidade, e acredita ter se inserido no mercado na idade ideal. Mas se preocupa:
– Até agora consigo conciliar as duas coisas, pois estou no primeiro período. Aproveito para estudar após o trabalho e antes das aulas, na biblioteca da universidade.
Estudante de publicidade da PUC, Mariana Carvalho, 21 anos, trabalha em uma loja no Shopping Leblon há 10 meses. Preferiu um emprego a um estágio para juntar dinheiro para viajar:
– Conciliar o trabalho com a faculdade é bem difícil, porque tanto a faculdade quanto a loja exigem muito de mim. Procuro não esticar no trabalho para dar tempo de estudar, e tive que pegar menos matérias do que estava acostumada para poder dar conta dos dois - conta.
Apesar do crescimento de vagas no Rio e no Brasil, o número de desempregados jovens no país ainda é expressivo. De acordo com o estudo Juventude, desigualdades e o futuro do Rio de Janeiro, coordenado pelo professor Adalberto Cardoso, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj, 5,3 milhões de pessoas entre 18 e 25 anos, ou um em cada cinco jovens brasileiros, nem trabalham nem estudam – é a chamada “geração nem-nem”. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), há 75 milhões de jovens no mundo nesta situação. Apesar de acreditar que estamos em um círculo vicioso, Carolina Dias admite que esta conjuntura só tem a melhorar:
– Os jovens não têm experiência porque ninguém lhes dá uma chance e, como ninguém lhes dá uma chance, não conseguem nunca um emprego. Mas há muitas empresas de grande porte que atualmente têm preferido contratar jovens e lhes dar treinamento. Tem havido bastante incentivo nesse sentido.
Felipe Assis, 19 anos, aproveitou a maré de oportunidades para conseguir um emprego. Agora subgerente de uma loja da WQSurf, Felipe se encaixou no perfil “nem-nem” durante menos de um ano, já que concluiu o Ensino Médio aos 17 anos e arranjou trabalho aos 18. Agora, o jovem quer iniciar o Ensino Superior, mesmo sabendo das dificuldades com o tempo:
– Pretendo voltar a estudar, quero estar sempre em busca de aprender mais. Meu objetivo é fazer engenharia civil e me especializar em edificações, mas não vai ser fácil, porque meu trabalho exige muito tempo e esforço, e tenho que estudar.
* Colaborou Marianna Fernandes.
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