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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Campus

Queda de temperatura muda a rotina da universidade

Gustavo Coelho e Artur Lara Romeu - Do Portal

16/07/2008

Bastou uma ligeira queda na temperatura para as botas e os suéteres substituírem as indefectíveis bermudas e havaianas que predominaram nos últimos meses. A estação mais fria não se reflete só no vestuário. Atinge os comércios da universidade e do entorno, desde mudanças no cardápio até o impacto causado pela redução de consumidores: dez mil deixam de circular pelo campus nas férias de inverno, estima a Vice-Reitoria Comunitária.

 

– Os departamentos não param de funcionar, mas ha uma diminuição de 30% do pessoal - calcula Marisa Espínola, superintendente de Recursos Humanos.

 

Acostumados com essas perdas sazonais, os restaurantes criam mecanismos para resguardar os lucros. Como esclarece a nutricionista Márcia Soares, gerente do bandejão:

 

– São servidas, em média, 1.400 refeições diárias no período das aulas. Nas férias, a quantidade cai para 800. Aproveitamos para dar folga a quase metade dos funcionários.

 

Na livraria Carga Nobre, também no campus, os empregados não ganham folga, e sim outras atividades:

 

- Mesmo com os lucros menores, mantemos o número de funcionários, para a execução de serviços de limpeza, contagem, estoque e funções admistrativas - justifica o gerente Aldevino Fernandes.

 

Lanchonetes ajustam o cardápio ao clima mais ameno. Sai a água de coco, um dos itens mais consumidos ao longo do ano, entra o chocolate quente:

 

– Quando começa a esfriar, a gente já precisa correr para encher o estoque. Chocolate quente não pode faltar. Mas os doces também saem bastante. As pessoas adoram os brigadeiros de bolinha – conta a vendedora Veroneide de Araújo, da Casa da Empada.

 

A estudante Cecília Temke, do sexto período de Economia, admite que o frio - mesmo o frio modesto do inverno carioca - é um pretexto para se entregar à delícia líquida: 

 

– Tomo chocolate quente ou capuccino quase todo dia. Aqui na PUC faz muito frio e a gente tem de encontrar uma maneira de se esquentar. Já aposentei aquele mate que eu adorava tomar no verão.

 

Pratos quentes como a dobradinha e o feijão branco se tornam mais freqüentes dos cardápios. Nos pilotis da Ala Kennedy, a Barraca do Açaí se mantém fiel ao carro-chefe, mesmo com a procura menor, como cont o funcionário Jonas Henrique:

 

- Durante o verão, vendemos até 200 açaís por dia. Até que o frio não prejudica tanto a procura pela água de coco, mas o açaí sai bem menos. E o movimento fica ainda menor quando chove, já que trabalhamos basicamente só com essas duas opções.

 

O impacto das férias no consumo se estende ao entorno da universidade. Nas barracas de salgado, vendedores buscam alternativas para compensar a queda de movimento. Alguns, mais radicais, deixam o ponto neste período:

 

- Quem consome mais são os alunos. Eu prefiro fechar e só voltar com o recomeço das aulas entrada - diz o vendedor de tapioca Nilton dos Santos.

 

O rendimento do Pires, bar mais freqüentado pelos estudantes, cai pela metade. "O jeito é dar férias para parte dos funcionários", conta, resignado, o gerente Rogério Fonseca.

 

Se comerciantes lamenta, outros enxergam algo de bom no descanso de julho. Como o presidente da Associação de Moradores e Amigos da Gávea, René Hansclever: "O fluxo de carros diminiu e os moradores aproveitam a tranqüilidade". Alguns aproveitam na própria universidade. De braços abertos para a comunidade, a PUC-Rio recebe, diariamente, muitos visitantes atraídos pelo ambiente bucólico e aprazível. Consideram-na um oásis urbano. 

 

Sem que os alunos percebam, o inverno representa também um impacto nas despesas da universidade. Durante a fase de mais frio, o consumo de energia cai de forma drástica. De quase 50000 kilowatts por dia, em meados de março, diminui para cerca de 35000 kW no mês de junho. O prefeito do campus, Eduardo Lacourt, revela por quê:

 

– O ar-condicionado é o nosso maior vilão. Por isso que o consumo cai barbaramente no inverno. 

 

A chegada do inverno, porém, não foi capaz de mudar a rotina de toda a universidade. No ginásio da PUC-Rio, as animadas partidas de futsal continuam, como conta o funcionário Elias de Araújo:

 

– Aqui o movimento não muda muito não. Faça frio ou calor, o pessoal não resiste a uma pelada.