Renan Rodrigues - Do Portal
27/08/2012Há pouco mais de uma década governos e empresas começaram a acordar para uma ameaça cuja solução ainda está em aberta: o descarte irregular de computadores e celulares. Embora a Europa responda, aproximadamente, por um quarto das 40 milhões de toneladas de lixo eletrônico prodizidas anualmente no mundo, emergentes como a Índia e o Brasil estão entre os primeiros deste ranking. Segundo relatório da ONU de 2010, o Brasil descarta 100 toneladas métricas de computadores pessoais (PC's) por ano, quantidade inferior só às 300 mil da China. Só o lixo proveniente de celulares no país beira as 2,5 mil toneladas anuais.
Tornar a reciclagem rentável é, de acordo com boa parte dos especialistas na área, uma saída para reduzir os descartes inadequados do material e, consequentemente, os danos ambientais causados pela irregularidade – cuja incidência insinua-se proporcional ao aumento de renda e à ascensão da classe C na última década. Baseada naquela lógica, a Fábrica Verde – programa da Secretaria Estadual do Ambiente (SAE) criado ano passado para promover a inclusão digital a partir de computadores velhos doados por usuários residenciais e empresas – tenta ampliar o volume de doações. Assim foi inagurado, quarta-feira passada, na PUC-Rio, o primeiro ponto fixo de coleta de lixo eletrônico da Zona Sul. No espaço reservado nos pilotis da Ala Kennedy, dezenas de peças foram doadas ao longo do primeiro dia da iniciativa.
A cada três máquinas entregues nos pontos de coleta, uma nova é montada e destinada a lan houses de comunidades do Rio. O trabalho é feito por jovens da Rocinha, na Zona Sul, e do Complexo do Alemão, na Zona Norte. Eles são selecionados e capacitados pelo programa (somam-se cerca de 500 desde o ano passado), o que, reforça o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, torna-se sinônimo de inclusão:
– Os jovens selecionados pelo projeto Fábrica Verde participam de oficinas e aprendem um ofício. Um caminho para transformar a reciclagem do lixo eletrônico em inclusão social.
Para Minc, um dos próximos passos é a expansão desses tipos de programa, até pela iniciativa privada. Segundo ele, deve-se reduzir a dependência de verba pública, tornando tais projetos sustentáveis economicamente:
– Hoje o projeto (Fábrica Verde) depende de verba governamental. Precisamos tornar essas iniciativas sustentáveis financeiramente.
O pograma da SAE é inspirado na Política Nacional de Resíduos Sólidos, criada em 2010, que prevê uma série de esforços coordenados voltados à reciclagem. Projeta, por exemplo, ações que convertam o material descartado em recursos econômicos. Como, de certa forma, faz o Japão. Sinônimo de tecnologia mas pobre em recursos minerais, o país encontrou na reciclagem do lixo eletrônico uma fonte de metais essenciais para sua indústria, como o ouro e o cobre.
Outro caminho igualmente importante, em busca de soluções verdes para a tralha eletrônica, passa pela maior articulação com universidades e instituições de pesquisa. Segundo o Green Metric World University Ranking – ranking das universidades mais sustentáveis do mundo –, a PUC-Rio é a universidade mais “verde” do Brasil, e 66ª do mundo. Diretor do Núcleo Interdisciplinar do Meio Ambiente (Nima), Luiz Felipe Guanaes Rego, faz uma previsão audaciosa:
– A estimativa é que a PUC tenha, em 10 anos, produção zero de lixo.
Enquanto Japão, Estados Unidos, Alemanha e Holanda já reaproveitam mais da metade dos materiais usados, o Brasil recicla 2% do seu lixo, segundo o IBGE. Mesmo no Rio, cidade que acolheu, em junho, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, a Rio+20, só 2,2% do total do lixo produzido é reciclado.
Onde depositar seu lixo eletrônico Claro, Tim e Vivo: as operadoras recolhem telefones celulares, baterias e acessórios em suas lojas. Motorola e Nokia: por meio de suas assistências técnicas, as operadoras também recolhem aparelhos de celular, baterias e acessórios. Dell: Um dos principais fabricantes de computadores recicla todos os seus produtos. Para mais informações, acesse aqui. Comlurb: responsável pela coleta de lixo do Rio de Janeiro, a empresa mantém 250 cestas específicas para pilhas e baterias, espalhadas em locais de grande circulação. A lista pode ser consultada aqui. |
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