Caroline Hülle e João Pedroso de Campos - Do Portal
15/06/2012A necessidade de se mudar o modelo econômico, para torná-lo compatível às exigências ambientais, dominou o quarto dia de palestras do Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação para Desenvolvimento Sustentável, na PUC-Rio. O presidente do Fórum Global de Risco (GRF), Walter Ammann, alertou que apontou que o padrão de desnvolvimento atual supõe degradação dos recursos naturais e, consequentemente, aumenta o risco de desastres. Para a colombiana Ana Maria Cruz, professora da Universidade de Kyoto, no Japão, uma das soluções passa pela gestão: "O gerenciamento do meio ambiente e seus riscos ainda está distante dos setores que usufruem diretamente dele”, avaliou.
Segundo Kuniyoshi Takeuchi, diretor do Centro Internacional de Gerenciamento de Riscos Aquáticos (ICHARM), também do Japão, a gestão nessa área ainda está refém dos objetivos puramente econômicos – o que significa, por exemplo, “concessões às indústrias, desde incentivos fiscais até o abrandamento agudo de leis ambientais”. Ele acredita que o equilíbrio entre crescimento e preservação só será possível quando as políticas públicas adotarem um perfil mais aberto às demandas ambientais.
Peter Höppe, chefe do Departamento de Pesquisa de Riscos GEO, da Alemanha, aponta a integração entre os paises ricos e emergentes como uma medida igualmente importante para o crescimento sustentável. Ele chamou a atenção para a responsabilidade do mundo desenvolvido na prevenção de acidentes naturais:
– Os países desenvolvidos foram os grandes emissores de substâncias danosas ao meio ambiente ao longo do tempo, enriqueceram desta maneira. Por isso, é relevante que auxiliem as nações subdesenvolvidas, carentes de aparato e infraestrutura, em situações de necessidade decorrentes de fatalidades – argumentou.
Os especialistas observaram que a cooperação tecnológica torna-se essencial para dirimir a incidência de catástrofes.Por exemplo, o uso de cálculos de vulnerabilidade de edificações e de aparelhos de alerta de tsunamis e tormentas. Embora os avanços tecnológicos sejam grandes aliados da preservação, o pesquisador Allan Lavell, membro do Comitê Científico de Pesquisa Integrada sobre Riscos de Catástrofes (IRDR), lembrou que não fazem milagres. A ação humana, advertiu o professor, ainda é, em grande parte, "catalisadora dos desastres", pois potencializam mudanças atmosféricas. Assim, impulsionam a possibilidade de vendavais, secas prolongadas, tempestades extremas, inundações.
– Os desastres são desenhados pela sociedade, que deve trabalhar no sentido de mover a economia e, ao mesmo, tempo, a diminuir os riscos ambientais. Mas, para tanto, são necessários investimentos na área de pesquisa e tecnologia – propôs Lavell.
Educação e informação também são importantes
A disseminação e o acesso à informação também se revela importante para um mundo sustentável, acrescentaram os especialistas, depois de a questão ter sido levantada por um espectador ilustre: Malegapuru Makgoba, reitor da Universidade Kwazulu-Natal, na África do Sul. Ele perguntou se os pesquisadores consideram o sistema educacional adequado às exigências ambientais.
– A mudança no sistema de educação passa, desde a pré-escola às universidades, pelo treinamento das pessoas na apreensão e transmissão de conteúdos. É o princípio de qualquer questão. É preciso raciocinar. Mas, obviamente, isso demanda investimentos sérios, sobretudo nos países menos desenvolvidos – sugeriu Makgoba, aplaudido pela maioria dos espectadores.
Gordon McBean, diretor do Instituto para a Redução de Perda Catastrófica, da Universidade de Western Ontario, no Canadá, ponderou que a comunidade científica se preocupa com a popularização do conhecimento. Considera fundamental o casamento entre a produção científica e a sociedade:
– Os cientistas têm tentado ser mais concisos e práticos em seus pronunciamentos sobre conservação ambiental. A intenção é, justamente, que a informação chegue clara ao maior número de pessoas possível.
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