Renan Rodrigues e Vítor Afonso - Do Portal
06/09/2012Alvo de concorrido leilão há três meses, a tecnologia 4G vai estrear no Brasil em abril do próximo ano, nas cidades-sede da Copa das Confederações. Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife e Salvador serão as primeiras a recebê-la, de acordo com o cronograma da Agência Nacional de Telcomunicações (Anatel). As operadoras Vivo, Tim, Oi e Claro serão responsáveis pela implantação e administração do novo serviço que, segundo a Anatel, ainda não tem preço. Projetam-se mudanças no consumo (por exemplo, a frequência diferente da utilizada nos Estados Unidos e Canadá impossibilitará, em princípio, o uso de aparelhos americanos), nos negócios e nos comportamentos sociais, em decorrência, sobretudo, da maior conectividade. Enquanto os entusiastas contam os meses para uma internet mais veloz e com mais recursos, especialistas alertam: o aproveitamento deste admirável mundo novo exige investimento nos serviços afins, mão-obra-qualificada e uma estrutura de implantação compatível com o potencial tecnológico.
"A rede 4G significa, na prática, melhor desempenho e uma maior velocidade na transmissão dos dados. Este é o principal atrativo para o consumidor", destaca o professor Luiz Alencar da Silva Mello, decano do Centro Técnico Científico da PUC-Rio. Estima-se que as redes 4G sejam de cinco a dez vezes mais rápidas do que as 3G, o que reduz o tempo para baixar arquivos e aplicativos, por exemplo. Silva Mello acredita que a nova tecnologia impulsione o uso de recursos videochamada e mude hábitos dos consumidores:
– Alguns novos serviços, como streaming de vídeo, ainda precários nas redes 3G, serão viáveis nas redes 4G. É provável também que novos recursos sejam desenvolvidos. Estas mudanças acabam se refletindo em novos comportamentos.
Aos 17 anos, Eric Yuiti, estudante de Engenharia Mecânica da PUC-Rio, é um consumidor ativo de novas tecnologias. Embora esteja ansioso pelas facilidades proporcionadas pelo 4G, prepara-se para "pagar mais, pois a 3G já mais cara do que em outros países". Ainde em aberto, o preço, esclarace a Anatel, depende das prestadoras. Aos que tiverem acesso ao avanço tecnológico, Yuiti prevê uma melhor interação com o meio digital:
– Nossa relação com a internet vai mudar. O 3G já mudou muito. As pessoas estão cada vez mais conectadas em redes sociais. A rede 4G é uma revolução, com velocidade muito maior que a anterior.
O analista de redes Paulo César de Oliveira observa que a chegada ao mercado brasileiro da tecnologia 4G coincide com a escalada do consumo de telefones com acesso à internet. Ele avalia que esta combinação tornará os brasileiros mais conectados:
– Agora que os smartphones estão com preços mais acessíveis, o aparelho, que possui diversas funcionalidades, poderá ter uma velocidade de conexão dez vezes superior. O usuário poderá ter acesso a vídeos de alta qualidade e ficar realmente conectado 24 horas por dia em tudo que o mundo moderno oferece. Principalmente os jovens, que aproveitam ao máximo tudo isso.
Ele acrescenta que o aproveitamento ótimo do potencial do 4G exige investimento em mão-de-obra especializada. Até para atender às demandas profissionais que, como projeta Silva Mello, serão impulsionadas pela nova tecnologia, a começar pelos veículos comunicação:
– Com as maiores velocidade e capacidade de transmissão, os novos recursos de vídeo, por exemplo, tendem a representar também novos serviços.
O professor Edilberto Strauss, coordenador geral dos cursos de pós-graduação da Escola Politécnica da UFRJ, mostra-se igualmente confiante na capacidade de que uma telefonia móvel mais eficiente se traduzir em novos negócios:
– A redução do tempo dos processos digitais vai propiciar ganhos econômicos. Novos negócios irão surgir e os antigos serão remodelados sobre o paradigma da mobilidade, garantido uma maior rentabilidade – acredita Strauss.
Uma das condições para o melhor aproveitamento da tecnologia 4G, inclusive para os negócios, refere-se à estrutura e ao tempo de implantação. Oliveira acredita que a Copa das Confederações e a Copa do Mundo tender a potencializar os investimentos e até acelerar o prazo previsto pela Anatel. Silva Mello ressalva, por outro lado, que o mercado prevê um ritmo de implantação mais lento. Já Strauss teme que os problemas observados com a internet 3G dificuldem o salto para a 4G:
– A tecnologia 3G é extremamente instável, mesmo em cidades como Rio e São Paulo. Estamos longe de um nível aceitável de eficiência para a atual 3G, mesmo falando de grandes centros urbanos. Este fator levanta dúvidas a respeito da implantação da 4G.
Outro possível obstáculo à utilização plena da nova tecnologia está associado às diferentes frequências de rede 4G no mundo. A implantada no Brasil será igual à da Europa e distinda da americana – o que pode dificultar a compatibilidade de aparelhos importados.
Em zonas rurais, os avanços da internet carregam a missão de melhorar a comunicação telefônica. Segundo a Anatal, "a telefonia fixa atual não é viável economicamente para ser usada em áreas rurais". Desta forma, a faixa utilizada pela Internet Rural será de 450 MHz, uma frequência baixa, que, por ser de grande propagação, msotra-se mais adequada a áreas afastadas dos grandes centros.
Cronograma de implantação da Internet 4G no Brasil, segundo o edital da Anatel: 1º - Sedes da Copa das Confederações de 2013, até 30 de abril de 2013. 2º - Sedes ou subsedes da Copa do Mundo de Futebol de 2014, até 31 de dezembro de 2013. 3º - Capitais dos estados e municípios com mais de 500 mil habitantes e o Distrito Federal, até 31 de maio de 2014. 4º - Cidades com mais de 200 mil habitantes, até 31 de dezembro de 2015; e, com mais de 100 mil habitantes, até 31 de dezembro de 2016. Mais informações no edital da Anatel, item “Anatel (Banda Larga Rural e Urbana)”. |
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