“Agora a faxina vai chegar até os porões da corrupção”. Assim o jornalista Jorge Bastos Moreno, que há mais de três décadas convive com a cobertura política, revelou, a estudantes de Jornalismo da PUC-Rio, a esperança de que a CPI do Cachoeira – aberta oficialmente hoje de manhã – aprofunde a apuração sobre as denúncias de corrupção envolvendo o bicheiro Carlinhos Cahoeira, políticos e empresários. No auditório lotado da sala 102-k, Moreno realçou também a importância da imprensa para que os parlamentares, em vez de pizza ou de esgrima oportunista, produzam um avanço rumo ao esclarecimento sobre a extensão dos esquemas de propina inserido no poder central.
– Essa é a CPI de "todo mundo”, pois o país está mexendo no núcleo do tráfico de influência – observou o colunista, que, a convite do professor e também jornalista Chico Otávio, contou aos alunos bastidores e desafios da crônica política.
Contra o ceticismo decorrente das sucessivas promessas vazias e tentativas frustradas de uma faxina ampla, geral e irrestrita, Jorge Moreno prevê que "desta vez será diferente". Em rápida conversa depois da palestra, ele explicou ao Portal por quê:
– Estão procurando o epicentro da corrupção. Agora, como governo e oposição estão envolvidos, pode-se obter uma apuração mais profunda. A faxina está chegando ao porão. Não adianta dedetizar a sala sem ir ao porão das baratas.
Segundo o colunista, "apesar de os políticos tentarem colocar a mídia na berlinda", a imprensa assume, mais uma vez, papel estratégico para que a nova CPI corresponde aos tão esperados esclarecimentos sobre redes de corrupção instaladas entre representantes do pode público e da iniciativa privada. Para isso, argumenta, é necessário que o jornalista investigue melhor o “submundo”. O repórter, entretanto, deve “jogar com as regras da sociedade” e não se subverter aos códigos da ilegalidade, ressalvou ele, aos futuros profissionais.
Moreno lembrou que o suposto apelo ao interesse público é insuficiente para transformar denúncias em notícias. "Publicá-las, só com provas", reforçou. "Suspeitas não são fatos, mas indicações para onde o repórter deve apurar”.
Ainda sobre os princípios do jornalismo, Moreno opinou sobre as recorrentes propostas de controle externo. O colunista considera essencial a formação especializada e acredita que "essa profissão secular” dispense mecanismos de controle além das orientações de conduta aprendidas nos bons cursos de jornalismo, do código de ética e do código do mercado, que "expulsa os incompetentes e os picaretas”.
– O curso de jornalismo existe para orientar os que querem seguir na profissão – argumentou.
Aos futuros jornalistas, Moreno deixou um conselho sobre as discussões relativas à obrigatoriedade, ou não, do diploma:
– O debate sobre a queda do diploma tem que ter a participação do estudante. Não cruzem os braços, pois são vocês que estarão nesse mercado.
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