Luísa Rodrigues* - Da sala de aula
23/05/2012Nos últimos dez anos, o Rio de Janeiro vem assistindo ao crescimento da indústria de moda. De acordo com balanço da Luminosidade, responsável pela criação do calendário oficial de moda da cidade, a última edição do Fashion Rio recebeu R$ 15 milhões em investimentos e gerou três mil empregos diretos e indiretos. A cidade experimenta a sensação de ter aumentado sua participação no total das exportações brasileiras de moda em 2011 para 17,54%, o equivalente a US$ 9,55 milhões, em contraste com os US$ 4,34 milhões exportados em 2002, segundo pesquisa da Firjan. E mais está por vir.
A proximidade de eventos como Copa do Mundo, em 2014, e Olimpíadas, em 2016, torna ainda melhor o panorama. Ricardo Bräutigam, dono da marca carioca Ausländer, confirma o cenário com exemplo próprio:
– A gente já sofreu influência direta da Copa do Mundo. A Budweiser é a principal patrocinadora da Copa, e já veio entrando no Brasil e no Rio este ano investindo em shows, em festas, na Ausländer... Empresas que antes não tinham o menor interesse no Brasil descobriram aqui um grande mercado, e estão gastando um dinheiro com a gente – conta Cadinho (foto abaixo), um dos “buddies” da Budweiser, brasileiros influentes escolhidos para ajudar a aumentar o reconhecimento da marca.
Paralelamente a esse crescimento, ganha projeção em terras brasileiras o conceito de economia criativa, agregadora de todas as atividades, produtos, serviços, modelos de gestão e de negócios relacionados à capacidade intelectual. As atividades vêm do setor de cultura, design, música, artesanato e moda. Outros setores envolvidos são o de tecnologia e inovação, como o desenvolvimento de softwares, jogos eletrônicos e aparelhos de celular. Criado do Reino Unido há 13 anos, o conceito chegou há pouco tempo no Brasil. No entanto, com base em dados do IBGE, o setor representa 4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e 17,8% do carioca, empregando 82 mil pessoas no estado.
Mesmo um pouco atrasada no país, a economia criativa já alcançou o patamar de política pública nacional. A Secretaria da Economia Criativa do Ministério da Cultura criou um plano de fomentação da economia em questão partindo do princípio que esta vem se mostrando um eixo importante no desenvolvimento de vários países no novo século. O plano visa estimular a criatividade dos brasileiros, possibilitando a geração de renda e trabalho a partir dela. Entre as medidas está o Rio Criativo, que inclui um projeto de incubadoras para a capital e para a Baixada Fluminense.
– O programa é justamente para qualificar os empreendedores criativos do estado na parte de gestão, planejamento, marketing, algumas deficiências que a gente sente muito nesse mercado de quem atua em cultura, entretenimento, nas áreas criativas. Foi aberto em 2010 um edital público e mais ou menos 150 planos de negócio foram encaminhados. Foram 21 selecionados que durante 18 meses vão ter acompanhamento direto. Eles terão toda a estrutura física, sala de reunião, auditório e um escritório além de recursos em serviços e conhecimento de rede de negócios – explicou Leonardo Feijó, Gerente da Incubadora.
A Firjan também tem sido uma aliada no estímulo a Economia Criativa do Rio, além de principal fonte de dados sobre o assunto no Brasil. Comprado pela federação esse ano por R$11 milhões, o casarão renascentista da família Guinle Paula Machado, em Botafogo, vai abrigar um centro de cultura e de formação profissional para a indústria criativa.
A Casa Firjan da Indústria Criativa abrigou a edição do Casa Cor de 2011 e será palco do Rio-à-Porter em Janeiro de 2012. Trata-se do salão oficial de negócios de moda e design do Fashion Rio. Concomitante a semana de moda, o evento apresenta sua própria programação de desfiles com as coleções comerciais das marcas que expõe em seu espaço. O público é de lojistas e compradores do Brasil e do mundo. O evento gerou R$ 610 milhões em negócios e US$ 22 milhões em exportações na edição de Janeiro de 2011, segundo dados da Luminosidade.
Essa medida é valiosa na concepção do empresário Felipe Simão, diretor da Toulon e novo sócio da Ausländer, que vê no atacado as melhores chances de crescimento:
– O varejo, de forma geral, está retraindo. Se não tem lojas muito boas, você fica vendido. Pode-se ganhar muito dinheiro, mas, quando chegar o ponto em que a empresa tiver um salário alto, der lucro, ela também será um monstro: qualquer coisa que der errado come seu dinheiro inteiro. Enquanto isso o atacado está crescendo, tem custos mais baratos. Nele é necessário ter no mínimo uma flagship e desfilar.
Em contraste com a queda de 16,6% nas exportações brasileiras de moda, o Rio de Janeiro passou de 35 países de destino de exportação, em 2002, para 56 em 2011, segundo pesquisa da Firjan. Tal fato se deve a essa fama criativa que o carioca carrega.
– Quem vende camiseta é o vendedor da loja; eu vendo uma imagem, um conceito, uma ideia. É muito mais abrangente, e é isso que faz a moda carioca ser desejada fora do Rio. Todo mundo quer ser carioca. A gente aqui trabalha bem, trabalha feliz. Volta no trânsito, mas vê a Lagoa. Sai do trabalho e vai correr na praia. É um lifestyle de pensamento, cultura geral, não tão capitalista quanto São Paulo. Por não pensar só em dinheiro, como São Paulo, por estar mais em contato com a arte, com a música a mente carioca é influenciada a fazer um produto diferenciado – declara Bräutigam.
Os dados afirmam que o preço médio da moda fluminense saltou de US$ 22,75 por quilo em 2002 para US$ 104,21 por quilo em 2011. Uma valorização de 358%, que confirma a vocação da cidade em fazer produtos de qualidade, com grande capacidade de agregar valor.
Dentro desse contexto de crescimento do setor o Rio vem se tornando um ambiente amistoso às novas ideias e às novas marcas. Um exemplo disso foi o segmento de moda e design ter sido o de maior número de participantes inscritos no Rio Criativo, segundo Feijó. Por outro lado pequenas marcas se sentem impulsionadas a se lançar aproveitando o momento de credibilidade e visibilidade que a cidade passa.
A estilista Luiza Calmon é um exemplo desse movimento. Dona da marca Acervo, vende suas criações na multimarcas Sala de Estar, em Botafogo, e lançou sua primeira coleção em 2011, aproveitando a conjuntura oportuna da cidade.
– Acredito que é um momento excelente, pois o Rio está carente de marcas mais acessíveis, e ao mesmo tempo, aberto para novidades. Com o dólar barato, as pessoas têm viajado mais, e comprado muito lá fora. Além disso, as vendas online também facilitam o acesso a marcas estrangeiras e mais baratas. Existe um gap no mercado carioca, de roupas bacanas com um preço acessível – disse Luiza. Ela acredita que com o posicionamento certo é possível aproveitar o investimento que a cidade vem ganhando.
* Reportagem produzida para a disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso da professora Carla Rodrigues.
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