O filme Avatar, do diretor canadense James Cameron, foi o mote do reitor da PUC-Rio, padre Josafá Carlos de Siqueira, para alertar quanto à importância da preservação da natureza conjugada ao respeito pelas culturas tradicionais, em palestra na III Semana da Cultura Religiosa. Biólogo, padre Josafá criticou a distância estabelecida entre homem e natureza, como acontece nos parques brasileiros, como o Parque Nacional de Itatiaia (RJ):
– Nós vivemos um desafio ético, que é o de moldar a mentalidade biocêntrica, que preza pela natureza, mas se esquece das culturas tradicionais que nela vivem. É uma mentalidade que evoluiu para pequena demais. Quando, em 1937, foi criado o primeiro parque nacional do Brasil, a intenção certamente não era separar o ser humano da natureza. Hoje o sentido de criação foi perdido; não se pode sequer tocar nas plantas.
No site do parque, a frase é categórica: ele foi criado para “preservar seu rico patrimônio biótico e geomorfológico”, excluindo o ser humano do processo. De acordo com padre Josafá, a visão utilitarista, dominadora das relações atuais, dá margens para atitudes como esta. Passou-se a enxergar o homem como mero explorador da natureza, e a harmonia da vida natural e primitiva ficou esquecida. No filme, conforme destaca o reitor, esta relação é bastante explorada:
– Avatar apresenta os primitivos, nativos de Pandora, mais ligados à ideia da harmonia que à de conflito. A relação conflituosa parte dos humanos, que são regidos segundo a racionalidade técnica, utilitarista e destrutiva. Os nativos representam os valores socioambientais que, na nossa realidade, andam muito devagar por não conseguirem se firmar no mundo capitalista.
Quando, no filme, acontece a batalha final, na qual a árvore milenar é destruída, está representado o ápice do conflito entre as duas racionalidades (a socioambiental e a utilitarista). Nas palavras de Josafá, ela representava a própria existência humana e consistia numa referência simbólica fortíssima. Simbolismo também presente na nossa realidade:
– A figueira centenária de Rio das Ostras é um símbolo que existe na nossa cultura. Ela deve ser valorizada pela sua dimensão, que ultrapassa o imediatismo. Ela transcende a vida humana, conta a história da natureza e da humanidade. Destruí-la seria exterminar um símbolo da cultura tradicional, conforme acontece no filme, que deixa claro como isto é capaz de enfraquecer e ao mesmo tempo motivar.
A conferência fez parte do ciclo Para onde está indo a humanidade? A resposta da ciência e a resposta da fé. A Semana da Cultura Religiosa é feita anualmente na PUC-Rio desde 2009, pelo Departamento de Cultura Religiosa (CRE). Neste ano, o tema do evento foi Novos olhares sobre a ciência e a fé”.
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